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590 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 165

sejam concedidas férias e transportes pagos pelas entidades às quais prestam os seus serviços, para poderem passar algum tempo na Mãe-Pátria, com as suas famílias, nas mesmas condições em que essa regalia é concedida aos metropolitanos que vão prestar serviço no ultramar.
Não me parece possível o deferimento da pretensão nas condições em que me foi apresentada, porque isso representaria um encargo excessivo e ainda porque as férias concedidas aos metropolitanos, depois de permanecerem alguns anus no ultramar, se justificam pela depressão que sofrem os europeus quando têm de trabalhar num clima tropical, pelo que precisam de voltar periodicamente a Portugal, para se tratarem e readquirirem novas forças, o que se não dá com os naturais das províncias ultramarinas, especialmente com os funcionários de cor ou mestiços, perfeitamente identificados com os climas das suas terras.
Entendo, porém, que é legítimo, justo e humano o desejo dos portugueses naturais dessas longínquas terras de conhecerem a Mãe-Pátria e que se deve estudar a forma de se lhes permitir que venham conhecer depois de um certo número de anos de serviço nos seus empregos. A despesa será muito menor e amplamente compensada pelas vantagens de ordem moral que colheremos dessas visitas, que incontestavelmente servirão para tornar ainda mais estreitos os laços que nos ligam às nossas terras do ultramar.
Esse desejo, tantas vazes manifestado, é também mais um motivo para nos convencermos e convencermos os outros de que temos posto em prática uma acertada política ultramarina.
Efectivamente, é perfeitamente natural que os brancos residentes no ultramar chamem Mãe-Pátria a Portugal, que. os mestiços façam o mesmo também está certo. porque Portugal é a terra onde nasceram os seus pais ou avós, mas que os homens de cor queiram conhecer a metrópole e de chamem também, como lhe chamam, carinhosamente, a sua Mãe-Pátria. isso é que já é muito mais transcendente e tem um significado de que nos podemos legitimamente orgulhar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Para eles Portugal não é o ninho de odiados colonialistas, que só pensam em explorar os pobres indígenas dos seus territórios. Pelo contrário: é o berço da civilização que tanto os eleva, donde lhes vêm os médicos e enfermeiros que os i ratam nas suas doenças, os engenheiros e técnicos que fazem progredir a sua terra, os capitalizas que subsidiam os grandes empreendimentos, para, aproveitando os recursos naturais, darem aos nativos mais trabalho e. com ele, mais conforto e mais pão, os padres e missionários que tratam da salvação das suas almas e que os elevam, sob o ponto de vista moral, ao nível dos povos mais adiantados. os professores que os, ensinam, etc.
Resumindo: Portugal é a Mãe-Pátria que amam de longe e que desejam conhecer.
Sr. Presidente e. Srs. Deputados: parece-me que isto e caso para nos sentirmos desvanecidos e emocionados e desejosos, de fazer a vontade a esses portugueses, brancos, mestiços ou de raça não europeia, que o tanto e tão ansiosamente desejam conhecer a terra onde nasceram os atrevidos e audazes navegadores que descobriram as longínquas terras onde habitam; esta grande e progressiva Lisboa, que foi um dos maiores empórios da Terra; o Tejo majestoso, donde partiram as armadas imponentes que ajudaram a fundar um dos maiores impérios que tem havido no Mundo e os missionários que espalharam a fé cristã até ao longínquo Japão e à imensa China; o Porto, forte, progressivo e grande: as tão portuguesas terras do Norte e das Beiras, donde os seus fortes e indomáveis filhos partiram para expulsar os Sarracenos e fundar Portugal; as serranias da Estrela e de outros pontos do nosso país, onde os antigos Lusitanos derrotaram as temidas legiões romanas, até aí sempre vitoriosas; os locais e os monumentos históricos e as belezas do nosso lindo país.
Sr. Presidente: creio firmemente que a satisfação dos desejos dos portugueses do ultramar que transmito ao Governo, secundando assim os esforços de outros ilustres colegas, representantes das províncias ultramarinas. trará grandes vantagens para a coesão da nação uma que estamos criando, como vantajosas foram as exposições ultramarinas, as visitas de velhos colonos, de filiados da Mocidade Portuguesa e de naturais da índia Portuguesa, pelo conhecimento do extraordinário progresso que se nota em Portugal e que a todos tem fortemente impressionado.
Estou convencido do que a sua visita a Portugal, as atenções de que foram alvo, o carinho com que foram tratados, o conhecimento que ficaram tendo do que e Portugal e, entrando já no campo psíquico, a influência que teve no seu espírito o ambiente de coragem e de heroísmo que encontraram nas suas visitas aos lugares santos da nossa pátria, contribuíram para que o chefe timorense. D. Aleixo nos desse o mais alto e comovente exemplo de dedicação à Pátria de que nos podemos orgulhar nas últimas décadas.
Para o seu nobre gesto contribuiu, sem dúvida alguma, a nobreza do seu carácter e a coragem da sua, raça altiva e guerreira, mas acredito que a sua visita, a Portugal teve uma grande influência no espírito desse valente guerreiro.
E que extraordinário exemplo de grandeza de alma nos duram esse homem e o seu filho, deixando-se torturar e matar para não dizerem onde estava escondida a bandeira da sua pátria, para que a não pudessem pisar e enxovalhar!
A pátria deles era o seu pequeno Timor, onde viviam, onde habitava a sua família, onde gozavam do poder e consideração, onde tinham vivido e lutado os seus antepassados, mas para os dois heróicos timorenses acima dessa sua pátria pequenina havia a outra pátria grande, a pátria de todos os portugueses, ali representada por um pedaço de pano, mas que era um símbolo que eles não queriam ver enxovalhado. Antes a morte ... e deixaram-se torturar o matar, mas não revelaram onde tinham esse símbolo sagrado.
Como se devem sentir pequeninos, em face deste exemplo tão grandioso, todos aqueles que dão importância excessiva aos seus interesses mesquinhos e às suas ridículas vaidades e insignificantes questiúnadas e ao mesmo tempo que motivo de santo e comovido orgulho para a Nação Portuguesa, que pode afirmar que o colonialismo de Portugal é de tal ordem que leva homens de outras raças, mas considerando-se portugueses como nós, a sacrificarem-se pela sua bandeira, como estes dois timorenses tão altiva è nobremente fizeram.
Quem, como nós, tem sabido orientar a sua política, ultramarina de forma a poder apresentar ao Mundo inúmeros exemplos de dedicação dos povos que vivem à sombra da nossa bandeira tem incontestável direito a manter-se nos vários pontos da Terra onde nos fixámos e. com a graça de Deus, sempre nos manteremos.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bom, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.