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622 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 167

torais, períodos emocionais em que a crendice popular se afina, ainda pelo transplantar das notícias da sessões políticas, para outras mais simples e sorrateiras de nomeações de vultos eminentes para empresas privadas ou públicas, ou relatórios grandiosos dos conselhos de administração.
Lembro-me, entre outras opiniões manifestadas, de um artigo de Monsenhor Luigi Sturzo, escrito pouco antes de morrer, em que esse sacerdote exemplar, com os seus 90 anos e uma larga experiência, conhecedor como poucos da psicologia dos povos, das suas virtudes e dos seus defeitos, das forças que sobre eles tinham mais penetração, pedia aos membros do partido que fundara, da democracia cristã, aos membros do Governo, para que não favorecessem os seus partidários com benesses materiais.
Sabia bem, sabemo-lo todos, que este ponto é um dos mais vulneráveis de qualquer regime, pasto insaciável de ditos e deturpações, a que, em meu entender, não se deve responder somente com perfeita logística de teorias económicas ou com encolher de ombros superior, mesmo quando se está certo e seguro de uma verdade.
Não podemos cerrar os ouvidos a críticas, e todos aqueles que, como nós, andamos por esse país além falando com uns e outros nas camionetas e nos comboios, nos cafés e nas tertúlias de amigos, com aqueles que sinceramente apoiam o Regime, como também com os que o combatem, não podemos, repito, desconhecer o que representam as críticas por actos de procura de interesses materiais, despidos de idealismo, daquele idealismo que tem de se viver para servir e projectar uma ideia.
Esta Assembleia Nacional tem funções eminentemente políticas, e é pela consideração dessas mesmas funções que lhe compete tomar posição frontal em problema de tal magnitude.
E mesmo aqueles de entre nós que menos propensão temos para as lides políticas sentimo-nos também chamados a dizer uma palavra, e nem quero, nem saberia, dizer mais depois do magnífico discurso do autor do projecto, uma palavra somente que, junta ao voto que pensada e independentemente vamos emitir, afirme a nossa posição.
Queremos, com a grande maioria do País, que a confiança no Poder Executivo não seja abalada, que de todos os lados haja um apoio consciente e uma colaboração sincera, que, mesmo quando surjam divergências de opinião quanto a métodos de actuação, fiquem sempre intangíveis aqueles princípios fundamentais que ditaram a Revolução Nacional e que a palavra «Revolução» não seja uma palavra vã. Sim, a Revolução tem de continuar na moralização dos costumes, na prossecução de uma política de verdade, mesmo se por algum momento sofreu ligeira distorção ou mesmo compasso de espera.
Todos aqueles que desinteressadamente servem a Pátria e que por azares da fortuna foram chamados à política, que só servem, e com que sacrifício algumas vezes, com os olhos postos nos altos interesses da Nação, sem sequer poderem admitir pensar-se que se querem servir, custa-nos tomar parte na política com a possibilidade de, ainda que por tabela, poder receber uma pedrada ou um enxovalho.
A necessidade imperiosa do prestígio do Regime para todos aqueles que nele vêem a possibilidade de continuação de uma política de unidade que permita a permanência da nossa actual posição no Mundo faz com que dê na generalidade o meu voto ao projecto de lei, também porque acredito que assim esta Assembleia se
prestigia perante a Nação e que esta posição tem interesse real para o saneamento da opinião pública.
Entendo que de fornia nenhuma devemos transferir para o Governo a resolução de um assunto que em boa hora nos foi posto, que é actual e que devemos encarar resolutamente.

O Sr. Nunes Fernandes: - Muito bem!

O Orador: - Não me convenço de que as razões que se apontam contra o projecto de lei, nomeadamente as que vejo expendidas no parecer da Câmara Corporativa, sejam mais fortes do que o são espírito de realidade política e social que o ditou.
Num país em alto estado de progresso económico, em que a repartição da riqueza é feita de molde a tocar a todos o suficiente para uma vida livre de misérias, como antigamente se dizia, creio que não é necessário limitar ordenados, nem a liberdade de emprego da actividade.
Porém, num país como o nosso, em franco período de crescimento económico, mas em que tanto se pede ao Estado em intervenções, privilégios e concessões, esses que o solicitam devem submeter-se a regras que balizem a sua actividade, pensando sempre que a posição que desfrutam só é possível na medida em que a sociedade abdica de qualquer coisa em seu favor.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Bem sei que as concessões e os privilégios só são dados, ou devem ser dados, na medida em que há um serviço nacional, ou o interesse geral o justifica, e determinadas iniciativas são, sem dúvida, credoras do nosso maior reconhecimento. Mas também mal será que esses espíritos superiores, que fomentam riqueza, essa pequena elite de extraordinários e espontâneos valores, queira criar, trabalhe somente com o fim último de um lucro sem limitações, pelo menos impostas pela moral social.
O Sr. Presidente do Conselho, quando falou sobre o II Plano de Fomento, disse, com rara sinceridade nos tempos que correm, que aquele ainda não traria substancial melhoria de vida à população, pois que estávamos numa fase de lançamento das bases do nosso progresso económico. Portanto, a maioria da população não vai sentir directamente os benefícios deste extraordinário Plano, que honra sobremaneira quem criou as condições para que ele se instituísse e quem o concebeu, mas verá que, naturalmente, uns tantos, muitos, esperemos, venham a sentir já os benefícios. O que não devemos permitir é que esses muitos sejam menos em virtude do exagerado apetite de alguns.
Nesse sentido votarei, como darei o meu apoio a todas as medidas que sejam propostas no sentido de criar um ambiente de melhor compreensão entre todos os portugueses. Isto é, em meu entender, a melhor forma de colaborar, a bem da Nação.
Tenho dito.

Vozes:-Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão. Amanhã haverá sessão, à hora regimental, com a mesma ordem do dia da de hoje. Está encerrada a sessão.

Eram 19 horas e 40 minutos.