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21 DE ABRIL DE 1960 683

mas de Guerra Naval, Marinha e Defesa Nacional, História da Guerra com Holandeses no Brasil e Ormuz-Serrate.
Mas não foi apenas como professor e escritor que exerceu a sua actividade; foi também como comandante de navio e de esquadrilha que se evidenciou, conquistando as insígnias da Torre e Espada no comando do Almirante de Paço de Arcos, na primeira grande guerra.
Ao deixar o serviço activo, em 1945, por ter atingido o respectivo limite de idade, com uma brilhante folha de serviços, da qual constavam numerosos louvores e medalhas, diversas homenagens lhe foram prestadas por entidades nacionais e estrangeiras.
De entre elas - todas bem significativas e prestigiantes - menciono a, que lhe foi prestada pelo Ministro da Guerra, com a assistência dos Ministros da Marinha e do Interior e dos oficiais portugueses que intervieram em negociações estabelecidas com os estados-maiores das Nações Unidas durante a segunda guerra mundial.
Foi então lida uma carta do Sr. Presidente do Conselho, em que este destacava o vice-almirante Botelho de Sousa, presidente da comissão militar, como a pessoa que mais directa e assiduamente com ele tratou de todos os assuntos de natureza político-militar, sendo com a maior mágoa que o via afastar do lugar que lauto honrou e em que tão dedicadamente serviu.
Nessa ocasião, como em muitas outras, o vice-almirante Botelho de Sousa afirmou que tudo quanto fizera como presidente da comissão militar não traduzia mais do que o cumprimento de uma política superiormente traçada pelo Governo, definida e dirigida por Salazar, que, por felicidade nossa, tão sabiamente tem orientado a política internacional, de forma a dignificar Portugal perante todo o Mundo e, acrescentarei também, a fazer com que respeitem os nossos sagrados direitos, como a recente decisão do Tribunal da Haia relativa à nossa Índia bem o evidencia.
E foi sempre assim, Sr. Presidente, o vice-almirante Botelho de Sousa: modesto, estudioso, cumpridor, paladino da verdade e da justiça!
Foi um notável oficial da nossa marinha de guerra!
Foi um grande português!
E eis também a razão por que proponho seja exarado na acta de hoje um voto de profundo pesar pelo falecimento do vice-almirante Alfredo Botelho de Sousa.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente : - O Sr. Deputado Cota Morais, no final do seu discurso, sugeriu um voto de pesar pelo falecimento do Sr. Almirante Botelho de Sousa.
Creio interpretar o sentimento da Assembleia mandando exarar na acta da sessão de hoje esse voto de pesar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Sá Linhares: - Sr. Presidente: desapareceu há dias do tablado da vida uma das mais prestigiosas figuras da Armada portuguesa. Acabou de recordá-la o nosso ilustre colega general Cota Morais.
Como marinheiro e como açoriano não posso deixar de me associar as suas palavras do sentimento.
Antes de evocar a memória fio almirante Botelho de Sousa como oficial da nossa Armada desejo recordar um período da sua vida que procedeu a sua promoção a segundo-tenente.
Nascido em 1880, na ilha de S. Miguel, Açores, era filho de uma família honrada, mas pobre e modesta.
um ilustre e abastado titular daquela ilha, tendo conhecimento das suas excepcionais qualidades de inteligência e aplicação aos estudos, resolveu educá-lo à sua custa.
Cursando o liceu com distinção e em seguida os preparatórios universitários, assenta praça, como aspirante, nu Escola Naval, onde continua a revelar as suas qualidades de distinto estudante.
Em 1904, seis anos depois do seu ingresso na Escola Naval, é promovido a segundo-tenente e, logo que consegue amealhar algumas economias, pretende restituir àquele titular o dinheiro gasto com a sua educação, pedindo-lhe que o aceitasse para que fosse educado outro rapaz nas suas condições.
Implantada a República em 1910 e sendo ele ainda segundo-tenente é convidado para aceitar a sua candidatura como Deputado as Constituintes.
Grato àquele titular, e sabendo da sua fidelidade à monarquia, só aceita candidatar-se depois de lhe pedir a sua opinião e esta foi favorável aos desejos do jovem tenente.
Ambos se dignificaram com a sua atitude.
A sua vida política teve, porém, pouca duração, pois, dissolvidas as Constituintes, o almirante Botelho de Sousa passa a dedicar toda a sua actividade ao serviço da Marinha.
Na vida do mar foi um dos mais distintos e destacados oficiais, tanto na paz como na guerra.
Pela sua valorosa acção como comandante de um navio, no primeiro conflito mundial, foi agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
Dotado de invulgares qualidades do inteligência e amor ao estudo, passa grande parte da sua vida como professor da Escola Naval, Escola do Guerra e dos cursos navais de guerra.
As suas lições são magistrais e assinalam uma nova era nos conhecimentos dos oficiais da Armada.
Não lhe bastando o trabalho incansável das suas aulas, dedica-se com o maior entusiasmo à história militar.
Torna-se assim um escritor militar e historiador dos mais altos méritos.
Ocupou-se, além dos temas estratégicos da actualidade, das investigações relacionadas com as lutas navais do período da Restauração, nomeadamente nos mares do Oriente.
As acções havidas com os Holandeses na Índia e no Brasil também lhe merecem a sua atenção e o seu estudo.
Mas, Sr. Presidente, foi sobretudo na chefia suprema da Armada, como major-general, no período difícil da última conflagrarão, que o almirante Botelho de Sousa pôs à prova as suas brilhantes e excepcionais qualidades de organizador, de chefe e de técnico consumado de estratégia e de política internacional.
Durante todo o conflito teve a Marinha a sorte de o ver ocupar o mais alto posto de comando. Perante as situações mais diversas e intrincadas derivadas da nossa posição em presença da evolução do conflito, com as bases dos Açores permanentemente ameaçadas, com os nossos navios em constante vigilância, com os problemas de soberania a preservar no Extremo Orienta, em suma com a mais rica variedade de problemas suscitados das situações de beligerância e neutralidade em que nos debatíamos, o vice-almirante Botelho de Sousa soube ser não só um grande colaborador do Governo, como ainda um grande chefe da nossa Armada.