O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

126 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 181

acontecimentos, lugar àquelas manifestações a que dávamos forma e sentido no recato do velho viver habitual.
Por mim continuo a ter fé no valor das ligações do homem à terra-mãe, na persistência da lição dos que, mau grado certas adversidades, procuram salvaguardar os enquadramentos do homem de sempre, evitando que este, tragicamente desenraizado, se sinta inconsciente ou solitário entre no massas.
É este estudo de espirito, Sr. Presidente, que me anima a evocar nesta Assembleia um pequeno grande acontecimento relacionado com os interesses de uma parcela do circulo eleitoral de Coimbra: o I Congresso regionalista da Comarca de Arganil.
Assinalar a realização do I Congresso Regionalista da Comarca, de Arganil será, antes do mais, oportunidade para testemunhar público apreço aos movimentos regionalistas das Beiras, reconhecimento aos que longe das terras que os viram nascer, se lhes devotam em permanente e desinteressado labor, procurando proporcionar-lhes um mínimo de progresso material - fonte, o telefone, a estrada ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não sei de actividades mais eloquentes na simplicidade cie mu patriotismo que remonta às origens.

O Sr. Augusto Simões: - Muito bem!

O Orador: - O entusiasmo com que, há meses, decorreram os trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil e o sentido prático e constitutivo que se possa conter nas conclusões ai votadas são elementos de valor não despiciendo para quem governa, pois sempre se me afigurou avisado conjugar e valorizar os esforços colectivos em prol do enriquecimento comum, procurar apoio na vontade dos povos que anseiam por se libertar do círculo vicioso de pobreza u atraso em que vivem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ora, os concelhos de Arganil, Gois e Pampilhosa da Serra, que integram a comarca, de Arganil, constituem, nas insuficiências do Portugal das montanhas do interior, umas das regiões mais carecidas daquele mínimo de comodidades essenciais à vida de qualquer comunidade civilizada. Daí os incessantes apelos dos seus naturais ao Governo Central, vozes essas que neste Congresso encontraram adequada sistematização em redobrado eco.
Sr. Presidente: pelo que conheço desta região e pelo que, em parte, se ouviu no decorrer do Congresso, não será despropositado repetir aqui umas tantas afirmações que julgo traduzirem a realidade económico-social destas serras ou constituírem meio para um eficaz esforço de desenvolvimento.
Esta zona da cordilheira central representa, actualmente um caso flagrante de deserto demográfico e agrícola. Face à pobreza da terra, perante a carência de infra-estruturas e na ausência de estímulos do exterior, uma parte das populações da comarca de Arganil procuraram na fuga para a cidade, mormente Lisboa, e na emigração, solução para as suas dificuldades.
Pode dizer-se que, em algumas aldeias, apenas uma maioria de velhos e criança» alimentam a vida local.

O Sr. Augusto Simões: - Muito bem!

O Orador: - Aqueles, preparando-se para dormir o sono da paz; estes, aguardando que os parentes da cidade lhes acenem com um emprego que os liberte da terra.
Não desconhecemos que o equilíbrio demográfico impou ajustamentos, que a aptidão silvícola se substituirá, nas nossas serras, às culturas incentivas deficitárias ou só viáveis na medida em que o trabalho não tinha preço, que o desenvolvimento efectivo do País, de que se vislumbram os primeiros resultados, exige reconversões de mão-de-obra o eliminação do desemprego oculto.
Saudamos, por outro lado, com júbilo, a elevação dos salários rurais, desde que acompanhada de uma revisão nos preços dos produtos agrícolas, de uma eliminação nas distorções entre estes e os preços dos produtos industriais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Afigura-se-nos, contudo, que o processo de abandono dos campos está atingindo, em algumas regiões, aspectos verdadeiramente patológicos, ao mesmo tempo que não vemos justificação para a presença na cidade de uma parte das populações deslocadas. De facto, essas gentes perdem-se aqui em serviços do valor económico suciai quase nulo. sobrecarregando uma actividade comercial onde é notória a inflação dos estabelecimentos e a pletora dos intermediários, ou multiplicando o número de modestos servidores públicos que se acantonam nos corredores das repartições do Estado, dos organismos de coordenação económica ou corporativos.
Sr. Presidente: creio estarmos todos de acordo na necessidade de atender mais eficazmente à valorização das regiões montanhosas do Portugal metropolitano.

O Sr. Augusto Simões: - Muito bem!

O Orador: - O Plano de Fomento, na medida em que realiza o progresso geral ou, mesmo, atende particularmente a sectores específicos do mundo rural - por exemplo: viação rural ou abastecimento de água às populações -, é um estimável instrumento de desenvolvimento.
Mas, por outro lado, o grau específico e a alta concentração de alguns empreendimentos nele previstos mais a lidar fio a acentuar os desequilíbrios regionais.

O Sr. Augusto Simões: - Muito bem!

O Orador: - Reconhecemos igualmente a oportunidade de certos esquemas parcelares de melhoramentos públicos equacionados pelo Ministério das Obras Públicas, embora saibamos lhe equacionar os problemas nem sempre, será resolvê-los tempestivamente, até porque faltam os meios financeiros.
Tudo isto vem a propósito ao insistir pela urgência de um plano do desenvolvimento das regiões atrasadas do País.
Importa não só dispor do dinheiro indispensável, como coordenar os esforços, escalonar e disciplinar as realizações, dar unidade a uma acção que se deseja económica e eficaz.
Tal orientação não deixará de se harmonizar com os esquemas de desenvolvimento regional fundados, por exemplo, no aproveitamento das potencialidades económicas de determinadas bacias hidrográficas ou, ainda, com sistemas de administração apoiados em federações locais para a execução ou exploração de utilidades ou serviços.
O aproveitamento do rio Mondego para fins múltiplos, que tenho insistentemente defendido, podo citar-se como exemplo.