14 DE DEZEMBRO DE 1960 171
ções metálicas, cimentos, vidros, ourivesarias, artes plásticas, conservas de peixe, vinho do Porto, café, tapetes, mármores e porcelanas. Estes nossos produtos ficaram classificados em 1.º lugar em confronto com os similares da Suíça, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, etc., o que é prova eloquente de que temos excelentes chocolates, óptimos têxteis, bons vidros, etc.
Além destes prémios, os mais altos no valor industrial dos produtos referidos, a nossa representação trouxe de Bruxelas ainda mais 123 prémios, o que fui muito honroso para Portugal.
Há poucos meses foi galardoado o nosso país com a «Flor de Ouro» da Feira Internacional de Hamburgo, pela distinção com que fomos representados naquele certame. Semanas depois, em Munique, foi-nos atribuída a «Medalha de Ouro» pela nossa representação na feira de actividades económicas realizada naquela cidade, medalha que representa a mais alta honra concedida em Munique a stand de país estrangeiro.
Temos razões para nos sentirmos honrados com esses galardões, em que a Secretaria de Estado do Comércio, o Fundo de Fomento de Exportação s a Associação Industrial Portuguesa, vêem compensados os seus esforços e prestigiada a sua orientação.
Para explorar e concretizar o êxito da propaganda, é indispensável que os exportadores portugueses apareçam nesses mercados, de contrário ficam os importadores estrangeiros com a sensação de que só temos uma organização comercial passiva e com a ideia de que somos apenas exportadores de mostruários.
Alguns dos produtos da nossa indústria já são melhores e mais baratos que os similares estrangeiros; apesar disso, muitos portugueses mantêm o doentio desdém pelos produtos nacionais, que, em muitos casos - medite-se no paradoxo -, para serem vendidos necessitam de ser rotulados como estrangeiros e que se lhes atribua um preço superior.
A este propósito vou referir dois casos:
Quando as meias de nylon para senhora invadiram o nosso mercado, um fabricante português conseguiu obter o fio e fabricá-las, perto de Lisboa. As de primeira escolha levavam o nome da fábrica e eram vendidas ao público a 60$, as que saíam com defeito não levavam o nome da fábrica, mas um carimbo dizendo nylon, sendo vendidas muito mais baratas.
Nessa época o preço dessas meias estrangeiras variava de 100$ a 150$ e as nacionais pouca saída tinham, porque eram baratas e eram nacionais.
A certa altura, os pseudocontrabandistas imaginaram um negócio rendoso: vender as meias nacionais de segunda escolha, dizendo que eram americanas de alta qualidade, pela pechincha de 80$ a 100$.
Isto bastou para que em poucos dias toda a existência do meias nacionais com defeito se evaporasse e os pseudocontrabandistas, para não perderem o negócio, passassem a comprar as de primeira escolha, mas exigindo que o fabricante não colocasse nelas o nome da fábrica, mas o carimbo nylon.
Por esta forma as meias nacionais, passando por estrangeiras, tiveram larga venda!
O outro caso passou-se com a venda de rimel para senhoras: tomo este produto tinha grande venda no nosso mercado, um fabricante português contratou um técnico estrangeiro e organizou-se para o produzir e vender em larga escala.
Lançou no mercado um produto de qualidade e boa apresentação para venda ao público a 6$ a caixa. Ninguém o comprava, porque era nacional e barato, mas bastou colocar na caixa um nome estrangeiro a subir o seu preço para 16$ para esgotar em seis meses um stock que as mais optimistas previsões do mercado consideravam de difícil venda um três anos.
Temos de insistir na educação do consumidor lusíada e é indispensável que o comércio colabore na campanha de aportuguesamento do consumo de artigos da nossa indústria, estimulando o público a preferir, sempre que possível, os produtos do trabalho dos Portugueses.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - Preferir, quanto possível, os produtos portugueses é um dever de todo o português! Só assim contribuiremos, pela forma mais directa, para o desenvolvimento económico do País e para o progresso da riqueza nacional.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: a presença dos produtos ultramarinos na Feira Internacional de Lisboa foi mais uma afirmação de unidade nacional na pluralidade dos seus territórios, a que cumpre atribuir o devido relevo.
Esse pensamento de unidade, muito forte no terreno político, está a traduzir-se cada vez mais - e é o que aqui desejo salientar - em realizações económicas, que associam intimamente os interesses solidários de todos os portugueses que vivem e trabalham nas províncias metropolitanas e ultramarinas de Portugal.
E será na conjugação das actividades e dos interesses positivos do trabalho que a solidariedade continuará n consolidar-se cada vez mais fortemente entre os muito diversos elementos da população espalhados pelas várias províncias de Portugal, mas todos institucionalmente e psicologicamente portugueses.
Fazemos votos por que a expressiva representação mi Feira Internacional de Lisboa das indústrias portuguesas das nossas províncias ultramarinas se avolume e diversifique mais nos próximos anos! Isto mostrará, a nacionais e estrangeiros, o firme e rápido progresso do Portugal ultramarino.
O esforço de grande vulto que estamos a realizar mis províncias do ultramar, além dos benefícios locais, constitui factor do entendimento e paz e contribuição valiosa para o progresso do Mundo.
Este esforço não tem apenas importância económica, vai mais longe, porque, facilitando o povoamento intensivo dos territórios, tem influência na consolidação da própria unidade política. Essas províncias portuguesas necessitam com urgência de populações de origem lusitana tem muito mais larga escala.
A industrialização cria em pouco tempo condições para o povoamento: por exemplo, o estabelecimento da indústria de sacaria em Angola - actualmente mais bem equipada, do que a da metrópole - fez nascer grandes explorações agrícolas para a produção local das fibras necessárias a esse fabrico. Esta indústria, estas explorações agrícolas e os serviços a uma e a outras ligados criaram trabalho a muitos portugueses, facilitando o povoamento mais denso.
Em relação às nossas províncias ultramarinas nós funcionamos como colaboradores, com substancial ajuda para. o seu desenvolvimento; a nossa posição perante esses territórios não é a de exploradores, mas a de promotores efectivos do seu desenvolvimento.
Na medida em que impulsionamos o desenvolvimento dos nossos próprios territórios do ultramar estamos também a realizar obra de verdadeiro interesse europeu e ocidental.
Vozes: - Muito bem, muito bem !
O Orador: - No Portugal ultramarino trabalha-se, estuda-se e progride-se; estamos a construir uma obra