176 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 183
invasão - a dos «novos bárbaros»-, que uma elevada sobrepressão demográfica estimulava já a cada momento.
Esqueceu-se então, na realidade, que, uma vez aniquilada, a barreira constituída, pelos povos germânicos, demogràficamente, jovens e dotados de excepcional poder criador, as planícies da Europa Ocidental ficariam totalmente à mercê de uma nova barbárie, que aguardava há muito o momento oportuna para colher frutos de uma fácil vitória.
Desapareceu recentemente do mundo dos vivos no alto espírito, digamos, o único grande responsável das nações beligerantes que exprimiu bem nessa época, calamitosa o sentido profundo da civilização que nos une e que foi o grande salvador da Europa, ameaçada, pela subversão comunista no rescaldo da última guerra. O seu admirável plano, que ficará na história com o seu glorioso nome -Plano Marshall -, foi, na realidade, o grande, fundamento da recuperação. Ele veio também pôr em evidência perante o Mundo a interligação íntima da vida de todos os povos e que a riqueza de uns nào se poderá manter quando em sua volta dominar a anarquia ou a miséria do subevoluído. Os prenúncios da grave crise financeira e económica que ameaça presentemente desencadear-se nos Estados Unidos da América são exemplo frisante e actual dessa verdade, e apenas nos admira que povos europeus dos mais evoluídos e que receberam para, a sua recuperação no pós-guerra biliões de dólares do contribuinte norte-americana, através do Plano Marshall, mostrem agora desconhecer o profundo sentido da verdade enunciada e se desinteressem da situação de dificuldade, de resto passageira, que atravessam os seus antigos benfeitores.
Mas há ainda mais indícios desta falta cie visão, digamos melhor, desta manifestação de egoísmo internacional, de inúmeros responsáveis e de facções políticas das democracias ocidentais per uni e a grave crise que o Mundo atravessa no presente, resultante, em grande parte, do levantar do imperialismo eslavo, hoje acrescido na sua deletéria acção pelo influxo de um novo e grave, imperialismo - o amarelo.
Assim, esquecendo que as causas dominantes dos últimos conflitos europeus, que depois se generalizaram à escala mundial, tinham sido sempre graves perturbações económicas derivadas da miséria física de extensas camadas populacionais, esses elementos ou facções dirigentes, socialistas ou criptocomunistas, depois de terem cortado os laços que uniam o Velho Mundo a continentes distantes, destruindo em poucos anos os esforços de séculos de povos missionários, procuram hoje separar ainda mais o evoluído do subevoluído europeus, na esperança vá de serem os únicos náufragos a escapar da tempestade que se avizinha e que eles próprios desencadearam.
Constituiu-se assim, no substrato económico do mundo ocidental, uma pequena Europa em extensão - o Mercado Comum -, grande, porém, de facto, pela força excepção que resulta do seu elevado nível técnico e do grau de perfeição das suas actividades industriais, tirando de fora dela a zona agrária europeia situada para além da «cortina de ferro» e os países agrícolas que marginam o Mediterrâneo, digo, a Europa agrária mediterrânea, árida pelo seu clima, de acentuados contrastes estacionais, e apoiada em estruturas agrárias de difícil adaptação às normas de uma agricultura progressiva. Fora do Mercado Comum, como excepção mais notória entre os povos fortemente industrializados, a Grã-Bretanha e este país decerto sòmente por existirem ainda fortes laços que ligam a sua economia à dos países da Comunidade. A acrescentar, apenas, alguns paíes industriais que fundamentam as suas actividades não só em disponibilidades excepcionais de energia hidroeléctrica, nas riquezas do subsolo mineiro e ainda em actividades florestais valiosas. E o casa da Suécia e da Finlândia.
Temos assim, em face de um mundo comunista, nos seus desígnios políticos de domínio e inteiramente solidário nas suas acções ofensivas ditadas por élites dominantes, nesta guerra fria a que assistimos - nova expressão da táctica do imperialismo russo - uma Europa Ocidental cortada por fronteiras económicas, hoje menos extensas, - na realidade, mas decerto mais vincadas do que aquelas que, no findar da guerra de 1914-1918, separavam Les deux Europes, de Delaisi. E a acrescer ao mal verifica-se a quebra quase total dos laços que uniram intimamente, a Europa aos continentes asiático e africano, fonte inesgotável de matérias-primas e como tal base segura e necessária da actividade das indústrias europeias. A Europa não ouvira, com a devida prudência, as sábias revisões de Salazar.
Em conclusão: além dos dois colossos económicos do mundo moderno - os Estudos Unidos da América e a Rússia Soviética - e de uma Europa, como vimos, hesitante e indefinida nos seu propósitos políticos e económicos, descrendo até no admirável poder criador de uma civilização de milénios, divisa-se o despertar seguro calmo, de um novo gigante, amarelo, cuja força até ao momento actual era apenas função do número, mas que vai sendo hoje acrescida, em proporções imprevisíveis, merco da magnitude do esforço que vem desenvolvendo no domínio industrial, à custa de uma verdadeira escravatura humana.
A Europa, para não perecer neste turbilhão político, só lhe resta, assim, manter uma estreita solidariedade com o novo mundo latino-americano, que das suas entranhas saiu, e não continuar a destruir os poucos laços que ainda reatam a ligá-la ao continente, africano.
A falta de espírito de solidariedade euro-americano teve como consequência, colocar, inadvertidamente, o Médio Oriente islâmico, com o poder material e espiritual que encerra, na esfera de atracção soviética, com a agravante de ser este território ponte de passagem segura, para o Norte de África e para o coração do continente negro. A abdicação europeia nestas paragens constituiu assim flagrante erro político, verdadeira traição ao espírito civilizador de séculos de gerações, permitindo que o imperialismo soviético atingisse, sem a perda de um único soldado com êxito indiscutível, as afastadas costas ocidentais da África, apontando já incisiva lança ao coração latino-americano do sul, e em especial à pátria irmã - o Brasil.
Jorge Albertini, num notável artigo publicado no Signo, revista de estudos políticos e sociais de Aveiro, cuja publicação era patrocinada pela antiga direcção dos serviços culturais, da Legião Portuguesa, descreve-nos em frases sintéticas o verdadeiro sentido deste caminhar, hoje largamente confirmado pelos acontecimentos que se estão desenrolando na República do Congo, no Ghana, na Guiné e em outros antigos domínios ingleses e franceses do continente negro. Este continente é hoje, de facto, objecto de todos os cuidados dos dirigentes do Kremlin, e é ali que é preciso, desde agora, marcar as zonais vermelhas que se multiplicam no mapa, um mapa donde, estavam totalmente afastadas, pode dizer-se, ainda há dez anois.
Na verdade, a penetração neste continente tem sido metodicamente concebida. Há longos anos que as livrarias soviéticas de Paris regurgitam de livros científicos consagrados à África: dicionários de todos os dialectos africanos, trabalhos de história e de geografia do continente negro, estudos etnográficos, económicos e sociais de várias espécies, referindo-se a todos os territórios. Que significam essas publicações senão que