2 DE FEVEREIRO DE 1961 387
nando decidiu entregar a responsabilidade do cargo de fronteiro de Lisboa ao prior do Crato, D. Pedro Álvares, que se fez acompanhar de seus valorosos irmãos, um dos quais seria o futuro condestável do reino. Na maneira como corresponderam às frequentes correrias tios Castelhanos os Portugueses criaram a situação de calma e de confiança,, praticaram atitudes e decisões corajosas e demonstraram superior espírito do patriotismo: D. Nuno Alvares Pereira foi figura central da cena. lusitana aio período de constante agitação e de evolução incerta que D. Fernando dispusera em condição delicada para a tranquilidade do povo e altamente perniciosa para o tesouro nacional; sòmente as instituições militares puderam beneficiar, por efeito de reformas extensas que resultaram da experiência obtida em circunstâncias movimentadas anteriores que tinham evidenciado a necessidade de efectivos e aconselhado medidas que, então adoptadas, fizeram entrar no serviço militar todas as classes populares, incluindo a mais inferior, que, par princípio estabelecido, era dispensada de o prestar, instituindo-se pela primeira vez em Portugal uma forma, de serviço militar obrigatório, que hoje constitui sistema generalizado de responsabilidade dos homens relativo ao programa de defesa e de soberania dos estados constituídos.
Por princípio de conveniência, as providências militares adoptam uma linha de evolução paralela com o desenvolvimento da política; ou elas não devessem assegurar o apoio da política, e significar, até, o seu prolongamento quando o recurso à guerra é a decisão obrigatória.
Falecia D. Fernando, D. Leonor manifestava inclinação condenável, D. João de Castela mostrava interesse decidido pelo governo de Portugal e, entretanto, o mestre de Avis era nomeado defensor e regente do reino; simultaneamente, as instituições militares experimentaram as transformações para determinarem a organização das forças combatentes e o ensino da arte militar. Foi na conjuntura desenhada da política e da actividade militar que se desenvolveu a movimentação intensa do quadro político da Península, considerada possível pelo propósito definido e pela insistência demonstrada pelo rei de Castela, que pretendia, firmar a condição de dependência do povo português, patrocinada por parte da nobreza; mas firmemente repudiada pela, alma. nacional. Verdadeiramente, a interpretação mais ajustada foi realizada por D. Nuno quando o mestre de Avis, em hora de feliz inspiração, lhe confiou a responsabilidade de fronteiro-mor do Alentejo, em circunstâncias que faziam incidir sobre esta região as maiores preocupações, devidas ao movimento de invasão que os Castelhanos realizavam, com o objectivo determinado da conquista de Lisboa.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - O cumprimento desta missão difícil e honrosa, caracterizada por riscos e dignidades, ofereceu oportunidade para consagração merecida do talento de N uno Alvares, plenamente evidenciado na, batalha dos Atoleiros, que, simultaneamente, foi uma demonstração de fé praticada no ambiente de emergência da batalha, do verdadeiro sentido das circunstâncias traduzido em medidas de ordem táctica, de espírito de confiança na ética dos Portugueses, de particular conceito de comando e de devotado sentimento patriótico. Quando o inimigo avançava sobre o dispositivo instalado dos Portugueses, definido em condição de manifesta, inferioridade em relação aos efectivos adversários, D. Nuno apeou-se, ajoelhou e rezou; adoptou providências reflectidas para melhoria do dispositivo, determinando inesperada atitude aos cavaleiros, que deveriam apear-se, apoiar as lanças no solo e incliná-las para a frente a fim de receberem, nesta posição, os cavalos inimigos. O desfecho significou a vitória dos Portugueses e as consequências confirmaram o prestígio do valoroso chefe, que ocupa, sem dúvida, a posição da figura mais evidente e grandiosa da Idade Média portuguesa e do mais notável capitão do seu tempo.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Elas asseguraram a condição de confiança pelo futuro, firmaram os alicerces da posição de independência e representaram lambem argumentos de valor real, sob o ponto de vista táctico, para ajustamento das instituições políticas mundiais, contribuindo para a decadência da cavalaria e para o alvorecer da infantaria, já ensaiada em Crécy e Poitiers e, depois, confirmada em Granson e Marat.
Não se satisfez com os louros alcançados o glorioso comandante. Por fecunda intuição do seu génio, reflectiu sobre as condições do momento e pôs em prática providências convenientes para acautelar o resultado futuro. Nomeado condestável e empenhado na adesão de algumas praças que se mantinham opostas à causa do mestre de Avis, que era a causa de Portugal, recebe com serenidade impressionante a notícia de nova invasão do reino, concretizada pelo avanço de numeroso exército, bem equipado e possuído de modernos engenhos de guerra, que constituíam surpresa para os exércitos mais modestos da época. Foi difícil o encontro de ideias do rei e do condestável e tardou o estabelecimento do plano de luta que se tornava aconselhado contra os Castelhanos.
Todavia, estabelecida, a concordância de ideias numa prática que constitui imagem distante do sistema actual da unidade do comando, o chefe glorioso recuperou o tempo perdido no desenvolvimento de um plano que assombra: marchou ao encontro do inimigo no sentido de aproveitar da iniciativa das operações, procedeu ao reconhecimento do terreno, decidiu pela escolha de um quadro geográfico que garantia a segurança dos flancos e impedia, a actuação simultânea de todo o efectivo adversário, decidiu pela utilização de dispositivo apropriado e, de forma superior, fortaleceu a coragem e exaltou a disposição moral dos combatentes, cuja estrutura tem o significado de constante, que é a principal razão do valor dos exércitos.
Estavam tomadas as disposições necessárias quando as hostes inimigas apareceram no horizonte geográfico dos Portugueses. O choque seria uma realidade. Entretanto, por uma manobra de movimento do inimigo, que procurava desta maneira atenuar as circunstâncias de vantagem derivadas das características de posição dos Lusitanos, os Castelhanos contornaram o dispositivo nacional e procuraram atacar a retaguarda do conjunto português. D. Nuno Alvares Pereira, porém, observou o inimigo, seguiu o desenvolvimento da sua manobra e pressentiu os seus propósitos; correspondeu com nova atitude que determinava a mudança da frente. As direcções de combate tinham sido alteradas e o esquema dos exércitos tinha mudado as frentes num estilo pouco corrente de batalha que adoptou a designação de frentes invertidas. Efectivamente, a batalha de Aljubarrota travou-se no choque violento dos dois exércitos, que combateram com redobrada energia e desmedidos esforços dirigidos em sentido oposto àquele que tinham seguido nos movimentos de aproximação.
É sobejamente conhecida a representação descritiva desta batalha, que consolidou a posição de independência nacional e que foi possível por razão do glorioso chefe que providenciou em pormenor, comandou com coragem e que exibiu o quadro significativo