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2 DE FEVEREIRO DE 1961 391

Cumprida a sua patriótica missão de assegurar e fortalecer a independência nacional, renuncia a todos os bens e riquezas, despreza prazeres e honrarias, para, na mais bela lição de humildade e de penitência, se recolher ao silêncio do claustro, no Convento do Carmo, que a sua vocação piedosa mandou construir.
E, para que a sua doação espiritual melhor pudesse agradar a Deus, escolheu o ofício de modesto porteiro e distribuía a sopa aos pobres na mesma caldeira de cobre que em campanha havia servido para o rancho nas suas valentes tropas.
No convento que construíra e onde se acolhera, no grau simples de obscuro irmão Donato, se passaram, em fervorosa devoção e sacrifício, os últimos anos de Frei Nuno de Santa Maria, que ali sucumbiu com a cabeça apoiada no peito soluçante de D. João I, esse rei bom e amigo, que o havia feito condestável do reino.
Assim partiu para a vida eterna um dos vultos mais célebres e notáveis da história de Portugal, levando gravado no coração o amor da Pátria, que corajosamente defendera, e na alma o nome de Deus, que sempre servira com suprema fidelidade e adoração.
O povo, que tanto o amava e tanto lhe devia, elevou-o logo às culminâncias da santidade quando ao chorar a perda do seu mais desvelado protector exclamava: «Morreu o santo, morreu o nosso santo».
A dívida nacional para com o santo condestável só será condignamente saldada quando nesta majestosa cidade de Lisboa, que teve a graça de o ver morrer santamente em seus braços, se erguer uma estátua evocativa da figura do herói...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Orador: - ... e se proceder à restauração do Convento do Carmo, em respeito à memória do Santo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Convento do Carmo, restituído ao seu antigo esplendor, seria o mais expressivo santuário da Pátria e da Igreja, donde irradiaria a luz resplandecente da canonização, e o caminho que, através da oração e da penitência, conduziria à consagração das virtudes do beato Nuno de Santa Maria e à sua veneração nos altares do Mundo inteiro.
A Nação Portuguesa, que tanto amou e à qual garantiu a suprema condição de povo livre, não pode esquecer toda a gratidão e todas as homenagens que são justamente devidas a D. Nuno Álvares Pereira, esse destemido e corajoso defensor da independência, que é honra e glória de Portugal.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.,

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Vamos iniciar a discussão na generalidade da proposta de lei sobre o plano de viação rural.
Tem a palavra o Sr. Deputado Nunes Fernandes.

O Sr. Nunes Fernandes: - Sr. Presidente: é, sem dúvida, do maior agrado desta Assembleia debruçar-se sobre problemas da maior oportunidade e actualidade com vista ao desenvolvimento económico e social da Nação.
Sente-se, efectivamente, por parte do Governo, o vincado desejo de estender ã, todos os recantos do País benefícios para as localidades mais desamparadas e tendentes a fixar nelas as respectivas populações.
Grave problema este, na verdade, que merece um aturado e carinhoso estudo.
Verifica-se com satisfação que, ultimamente, se encara o problema agrário e rural com a decisão de lhe dar a solução que se impõe.
É, com certeza, filiado nessa finalidade que surge o plano de viação rural, agora em discussão.
A primeira parte do relatório ou preâmbulo que precede a proposta de lei revela bem a honesta intenção do Governo de dar pronta solução aos diversos problemas rurais equacionados. Não lhe regatearei o meu louvor por isso, como homem que mergulha as raízes da sua ascendência na terra e que ainda vê nela o factor económico-social indispensável à manutenção do povo português.
E esse louvor não pode deixar de se dirigir, por forma especial, ao autor directamente responsável do projecto, o Sr. Ministro das Obras Públicas, pela clara e lúcida visão dos problemas a seu cargo e pelo conhecimento directo que deles tem nas saias viagens através de todo o País, apesar da sua precária saúde. É sempre uma presença reconfortante a sua para os ignorados servidores da Nação que sofrem as deficiências do meio, sem possibilidades de lhe darem solução imediata.
Quem nas montanhosas regiões do Norte do País se dispuser a praticar a heroicidade de deixar uma estrada nacional, nem sempre boa, é certo, pode apreciar a confrangedora situação a que chegaram as nossas vias rurais.
Numa boa parte delas nem sequer pode transitar o clássico carro de bois e existem muitas freguesias que ainda usam, exclusivamente, o dorso dos animais ou pessoas para o transporte dos produtos ou mercadorias.
Nas minhas andanças pela região da Beira-Douro, de alcantiladas depressões, deparo, constantemente, com este quadro desolador e não deixo, também, de sofrer as inclemências dos caminhos que trilho.
Nas povoações mais felizes, onde já pode ter acesso o veículo automóvel, constata-se que a circulação de tais veículos está impedida nas épocas invernosas, ou por falta de conservação daquilo que se fez, ou por não se ter completado a obra levada a cabo, revestindo o pavimento aberto.
E não se pode atribuir à Câmara Municipal a culpa deste descalabro.
O município em Portugal, salvo as excepções daqueles que possuem indústria de vulto, vive uma pobreza dourada, que não lhe permite acudir às necessidades mais prementes.
Não desejaria, na verdade, para mim o castigo de presidir a uma câmara para passar o dia a empregar palavras de paciência e formular desejos de melhores dias aos honrados representantes das freguesias; que me procurassem.
É que não compreendo que os encargos obrigatórios do município absorvam a quase totalidade das suas receitas e o deixem na impossibilidade, por isso, de exercer uma acção mais eficaz e de amparo aos munícipes, tanto no campo económico como no social.
Ora o munícipe rural, aferrado ainda a uma posição conservadora, em homenagem à tradição que cultiva, afirma a cada momento o seu lídimo portuguesismo e rejubila com as conquistas que no campo social e económico o Governo da Nação vai colhendo através de uma obra honesta, que só os cegos de espírito pretendem ignorar, sem a coragem de a contestar.