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390 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 194

mas, e ao mundo inteiro, que aos rebeldes e aos traidores se não abrem as portas da Casa Lusitana.
O que eles pretendem fundamentalmente atingir não são apenas extensões territoriais que são pedaços invioláveis da Mãe-Pátria, mas, muito principalmente, querem liquidar os ideais de uma civilização de que os Portugueses foram os mais expressivos pioneiros.
A minha voz de português e de beirão, dessa Beira Baixa que através dos tempos sempre soube dar provas da maior lealdade e do mais puro portuguesismo, à qual a providência concedeu o grande privilégio de ver nascer nas suas muralhas gloriosas Nuno Alvares Pereira, não podia ficar indiferente a estes factos no momento em que pedi a palavra para invocar a memória desse herói e santo, cujo exemplo continua a inspirar e a fortalecer os sentimentos patrióticos dos Portugueses sempre que sejam ameaçados os sagrados direitos de Portugal.
Nuno Alvares, vencendo em Aljubarrota, inspirado pela chama do patriotismo e da fé, restituiu o corpo mutilado da Pátria à sua dignidade secular, deu personalidade à comunidade, lusíada e consolidou a independência nacional.
Hoje, que o inimigo universal tenta subverter terras e gentes cada vez mais vinculadas à Mãe-Pátria, temos de reacender nas nossas almas o heróico exemplo do santo condestável, lutando pela manutenção da independência que tão galhardamente nos legou e esforçando-nos por transmitir às gerações vindouras os territórios legitimamente recebidos dos nossos antepassados.
A espada gloriosa, de Nuno Alvares, dando à Nação a plena consciência do que fomos, tem de continuar a ser o símbolo vivo da eternidade da Pátria e da decisão inabalável de continuarmos livres.
Temos uma vida modesta, mas limpa e desafogada.
Vivemos com a tranquilidade de que «nada devemos» e, por isso, «nada tememos».
Não exercemos violências, nem represálias sobre quem quer que seja, nem tão-pouco perseguimos nacionais ou estrangeiros, pois os nossos actos sempre foram e continuam a ser ditados pelos mais elevados instintos da justiça e da caridade.
Não temos, assim, outras ambições que não sejam, as de continuarmos o nosso trabalho em paz, entregues a nós mesmos, na tarefa de engrandecimento do património nacional e na preocupação séria de contribuirmos para a união cada vez mais imperiosa de todas as nações livres, empenhadas na defesa e na consolidação da civilização ocidental.
Os protestos que de toda a terra portuguesa se levantaram contra, as injúrias que da tablado das Nações Unidas nos foram dirigidas pelos nossos mais cruéis inimigos e a indignação nacional contra a louca façanha de um grupo de piratas heterogéneos, que cobardemente assaltaram o indefeso paquete Santa Maria, constituíram uma decidida prova de vitalidade e de amor pátrio, que é sem dúvida a mais vibrante e apoteótica homenagem a Nuno Alvares, no ano em que o País comemora, entusiasticamente, o 6.º centenário do seu nascimento.
Esta espontânea manifestação de solidariedade bem podia servir de exemplo ao mundo livre para que os fogachos que o comunismo moscovita insiste em atear por todos os continentes não alastrem irremediavelmente, com o sopro venenoso dos ventos demagógicos, transformando-se em alteroso braseiro onde poderão ser consumidos os direitos que assistem a cada povo de ver respeitadas as suas instituições e de se governar pelos seus próprios sistemas políticos.
A figura admirável de Nuno Alvares, a quem o épico imortal chamou com inspirada propriedade o «pai da Pátria», será ainda a luz que levará os Portugueses a meterem a lança em África, se, como disse o santo guerreiro, em certo episódio da sua existência esplendorosa, «for necessário expor a vida em perigos em honra da Pátria e em defesa da Religião».
O santo condestável não foi apenas o guerreiro invencível nas armas, foi também o cavaleiro virtuoso do bem e do amor do próximo.
Audaz e destemido nos campos de batalha, cultivava em todos os actos da sua vida os mais nobres sentimentos da pureza e da caridade, auxiliando os humildes, e até os próprios inimigos de armas, quando a fome os atormentava e lhes fazia quebrar o ânimo.
Nunca entrava em combate sem que a sua alma fosse iluminada pela oração, ajoelhando perante a relíquia do Santo Lenho ou diante da imagem da Virgem Santíssima, que mandara pintar no seu pendão glorioso.
E na batalha de Valverde que mais fortemente se evidencia o fervor cristão de D. Nuno, quando os portugueses, desanimados ante a aproximação do inimigo, procuram debalde o seu chefe, que alguns companheiros vão finalmente encontrar entre dois penhascos rezando serenamente e tendo a dois passos o pajem de lança, que, preocupado, segurava o seu corcel de combate. Os cavaleiros querem interrompê-lo, mas desistem a um breve sinal, e o condestável acaba, com recolhida devoção, de rezar.
Ergue-se seguidamente triunfante e lança-se no mais aceso da luta, afirmando com confiante decisão: «Avante, avante, um contra quatro».
Despertados, por este grito sublime de fé e de esperança, os Portugueses levam de vencida o adversário, muito mais numeroso, experiente e forte.
Por isso, os seus triunfos considerava-os sempre obra da Divina Providência.
As suas vitórias, derrotando exércitos mais poderosos, foram não só fruto de uma inspiração sobrenatural de táctica militar, mas ainda verdadeiros milagres, que só por si bastariam para que a figura do guerreiro e do santo se tornasse célebre no altar do Mundo e digna do altar de Deus.

A batalha de Aljubarrota - diz Schoeffer - foi a acção mais memorável que se travou entre exércitos cristãos na Península. A superioridade incomparável das forças do partido vencido, a mocidade dos dois chefes vitoriosos oposta a tantos guerreiros assinalados, experimentados por anteriores campanhas, os curtos instantes que bastaram para decidir a acção (meia hora), a grandeza do prémio disputado (tratava-se de dois reinos e da independência de Portugal), todas estas circunstâncias asseguram à batalha de Aljubarrota o interesse da posteridade.

E o mesmo Schoeffer acrescenta que:

Louros imortais pertencem também ao vencedor de Valverde. Valverde soa tão tristemente aos ouvidos castelhanos, é invocado com tanto orgulho pelo Português como Aljubarrota.

É que em Valverde o seu coração estava ainda mais inflamado pela chama da piedade e pela protecção de Nossa Senhoria, cuja imagem cristalina tremulava ardentemente na bandeira da vitória.
D. Nuno Alvares Pereira, caritativo e bondoso, aliava à audácia do seu génio os mais sublimes sentimentos de humanidade.