2 DE FEVEREIRO DE 1961 389
D. Nuno Álvares Pereira seja não apenas o santo de Portugal, mas o santo do mundo inteiro.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - Como português e como beirão, que sempre tem procurado moldar a sua alma nos ensinamentos da história, da gratidão e da justiça, eu não podia deixar transitar acontecimento de tão elevado sentido patriótico e espiritual sem que, aproveitando a minha presença nesta Câmara, invocasse a figura daquele que, firmando a independência de Portugal, construiu a verdadeira consciência da Nação, que tornou possível a gesta dos Descobrimentos e os feitos gloriosos dos Portugueses, que, através das armas, da administração e da diplomacia, enchem as mais famosas e eloquentes páginas da história universal.
Brilhantemente iniciadas foram as comemorações oondestabrianas em Cernache do Bonjardim, privilegiada terra beiroa que foi berço do santo condestável, situada no concelho que tem por sede a pitoresca e valiosa vila da Sertã - tão cheia de lendas e tradições -, cuja história é anterior à própria nacionalidade, e ocupa no presente um dos primeiros lugares no conjunto dos valores morais e populacionais do distrito de Castelo Branco.
Sr. Presidente: Cernache do Bonjardim, essa encantadora e histórica vila a que a. Divina Providência concedeu a graça de servir de berço a D. Nuno Alvares Pereira, esteve em festa nos dias. 4 e 5 de Junho, para, num gesto da maior justiça e da mais sentida gratidão, bem, próprio dos nobres predicados da sua virtuosa gente beiroa, iniciar com o maior esplendor as comemorações do 6.º centenário do nascimento do seu mais glorioso e ilustre filho.
E não seria possível dar maior brilho às comemorações condestabrianas do que aquele que soube imprimir-lhes, com tanta elevação e grandeza, a terra natal do santo condestável Nuno Álvares.
Com efeito, Cernache do Bonjardim, vestindo ás suas melhores galas, retocando cuidadosamente a sua natural beleza e dando mais vida e colorido ao imenso jardim com que a natureza prodigamente a dotou, soube com a maior galhardia glorificar a memória do santo guerreiro, dando a todas as festividades um oportuno e expressivo significado, com a presença honrosíssima de S. Ex.ª Venerando Chefe do Estado e de S. E. o Sr. Cardeal-Patriarca.
A grandiosa procissão que se realizou na noite do dia 4, presidida pela figura distinta e respeitável do Sr. Cardeal Cerejeira, e na qual foram conduzidas aos ombros de jovens escolares as relíquias do herói e santo, foi uma das mais impressionantes e ardentes manifestações de fé, que culminaram aquelas expressivas comemorações, que bem testemunharam a veneração dos Portugueses pelo Beato Nuno de Santa Maria, e foi luminoso caminho que se abriu para a projecção da sua santidade em todo o mundo católico.
A missa campal do dia 5, realizada em cenário de rara beleza e espiritualidade; a que não faltaram heróicos soldados do brioso exército português, foi acto da maior transcendência, onde o repicar celestial dos sinos e o toque marcial dos clarins se irmanavam apoteòticamente, nos mais puros sentimentos da Religião e da Pátria.
Cernache do Bonjardim. ao receber com o maior afecto e dignidade os Srs. Presidente Américo Tomás e Cardeal Cerejeira., dois chefes insignes, identificados nos mesmos ideais de valorização da grei e de expansão da doutrina de Cristo, demonstrou eloquentemente que os poderes espiritual e temporal, conjugados, sempre dominaram todo o pensamento e acção dos Portugueses e continuarão a ser a sua maior força na defesa de direitos sagrados e inalienáveis.
D. Nuno Álvares Pereira, a mais valorosa figura da história militar portuguesa, nasceu em 1360, nos Paços do Bonjardim, mandados edificar por seu pui, o grão-prior do Grato, D. Álvaro Gonçalves Pereira, e dos quais existem raros vestígios, pois as pedras das suas ruínas foram utilizadas na construção da igreja paroquial de Gernache, facto bem revelador da natural predilecção de Deus por tudo o que estivesse ligado à vida do santo condestável.
Ali viveu e se educou até à idade de 13 anos aquele que mais tarde viria a ser o grande condestável do reino de Portugal.
Nesta idade foi levado para a corte, que então se encontrava instalada em Santarém, começando a partir desse momento os seus triunfos, pois a rainha D. Leonor Teles, adivinhando-lhe superiores qualidades, nomeia-o para o seu serviço e o mestre de Avis arma-o esperançoso cavaleiro.
Mas a sua acção tornou-se cada vez mais notável em actos de bravura e de bondade, pelo que D. João I lhe concedeu terras e as honrarias de mordomo-mor, para seguidamente lhe entregar a chefia suprema de todo o exército, que o seu heroísmo de condestável colocou ao serviço da independência nacional.
A sua vida, que foi um modelo de valentia e de virtudes, é a expressão da própria vida da Pátria, pois a lição de Aljubarrota ainda se não perdeu e tem de viver agora mais acesa ainda na alma dos portugueses de lei, no momento em que o comunismo internacional se esforça tenazmente por atirar para a roleta das nações os nossos seculares e legítimos direitos de soberania.
A mesma decisão e os mesmos fervorosos sentimentos patrióticos que levaram D. Nuno a vencer nos Atoleiros, em Aljubarrota e em Valverde continuam a pulsar no coração dos Portugueses, e por isso não admitimos nem admitiremos ingerências estranhas e tendenciosas na vida política e administrativa do País, venham elas de espectaculares ditadores, que, arvorados em paladinos de uma falsa liberdade, apenas espalham o terror e a confusão, ou sejam instigadas por portugueses adulterados, que, vencidos pela vida ou dementados por fanatismos satânicos, não hesitam em atentar criminosamente contra o bom nome e a segurança da Pátria, colocando-se ao serviço de ideais que são a negação da sua própria condição de homens livres.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - Quanto mais os nossos inimigos e os pretensos destruidores da civilização ocidental se esforçarem por atingir a nossa integridade política e territorial, maior será a nossa reacção, mais vibrantemente responderá o nosso patriotismo e mais alerta estarão os nossos indefectíveis sentimentos de unidade, na defesa intransigente da soberania nacional.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Ainda ecoam, sob os céus de Portugal, os protestos da Nação inteira contra as torpes insinuações daqueles que, esquecendo as mais elementares regras de cortesia, se servem abusivamente de assembleias internacionais respeitáveis -onde apenas devem estar em jogo os mais elevados sentimentos de compreensão e concórdia - para nos dirigirem injúrias e acusações, que, por serem filhas da mentira, em nada abalaram o nosso prestígio, mas antes contribuíram para que os Portugueses demonstrassem a esses fantas-