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13 DE ABRIL DE 1961 559

o que dá um aumento, entre os períodos extremos, de uns 7 por cento.

Importações totais por Angola da metrópole:

Milhares de contos
Média anual de 1951-1954.... 1204
Média anual de 1955-1958.... 1504
1959 ....................... 1754

a significar um aumento, entre os períodos extremos, de uns 46 por cento! O coeficiente de cobertura das importações pelas exportações desceu de 51 para 37 por cento.
Ora, Sr. Presidente, perante tudo isto, como responde a metrópole? Bebendo café? Não! Bebendo, sobretudo, sucedâneos! Vejamos se assim é ou não. Os números têm, muitas e muitas vezes, o mérito da qualidade a juntar-se à secura da mera quantidade... Há disposições superiores que determinam - não é apenas consentir, mas sim obrigar - que, na metrópole, os retalhistas de mercearia e equiparados tenham sempre à venda o chamado lote popular, com apenas 20 por cento de café, ficando os restantes 80 por cento preenchidos por sucedâneos (em que pontificam a cevada, a chicória e o grão preto)! Tudo isto a lembrar-nos essas bebidas suspeitosas que bem conhecidas se tornaram (e ainda o são ...) com os nomes de: café das senhoras, café da saúde, café dos pobres - que, em matéria de café, brilhavam pela quase nula presença deste (é o caso do lote popular de agora...).
Portanto, prezados colegas, o que acabei de referir diz-nos claramente que os sucedâneos estão em festa - estão em apoteose! Cabe à Junta de Exportação do Café - que tem ligações com os Ministérios do Ultramar e da Economia - tratar do café e deixar os sucedâneos entregues aos cuidados de qualquer outra entidade que nada tenha com o café! Que diríamos nós se víssemos a Junta Nacional do Vinho promover qualquer «arranjo» que obrigasse as casas de venda de vinhos a terem, para poderem vender o vinho, uma mistura que o menos que tivesse fosse vinho? Bem me parece que a economia angolana merece de todos nós um esforço decidido em seu favor. E tratar-lhe com amor o seu café pode representar bem a medida desse esforço. Principalmente porque o quadro de mercados consumidores do café angolano tem uma diversificação geográfica pouco acentuada e, sem dúvida, desagradável. Realmente, o café de Angola tem o seguinte quadro de mercados, em percentagem e na respectiva evolução:

[ver tabela na imagem]

Isto é: dos mercados indicados todos desceram, com excepção do conjunto Estados Unidos-Holanda - conjunto este que de ss por cento no 1.º quadriénio passou para 81 por cento de todo o café exportado por Angola em 1959! Uma descida enorme do conjunto metrópole-resto do Mundo, que de 45 por cento no 1.º quadriénio passou para uns simples 19 por cento em 1959! Suponho que é de alarmar esta fraquíssima diversificação dos mercados consumidores do café de Angola. É que, no caso especial dos Estados Unidos, bem sabemos que este grande mercado adquire café Robusta (de longe o de maior produção em Angola), porque este lhe fica mais barato para a formação de lotes. Ficou-lhe esse hábito sobretudo de quando, por forte injunção interna dos preços máximos (ceiliny prices), nos princípios da década de 50, eram os distribuidores norte-americanos obrigados a comprar mais barato para não se ultrapassar a margem de lucro permitida entre o café em verde e o torrado - pois os maiores, importadores são os torrefactores e distribuidores. Tudo até porque o café Robusta entra nos lotes com cafés mais caros sem lhes alterar o aroma e outras características, dada a sua completa neutralidade. E que esse hábito muito aproveitou a Angola, aí estão as compras estado-unidenses de café angolano, que bem o demonstram: nos oito anos de 1944 a 1951, a média anual de café verde vendido por Angola aos Estados Unidos foi de 11 056 t; e nos oito anos seguintes (1952 a 1959) essa média passou para 33 619 t. Em 1959 o total foi de 53 099 t. Que lhe fica mais barato até o diz o bem conhecido, slogan usado durante anos na sua propaganda do café português pela Junta de Exportação do Café em revistas norte-americanas da especialidade: «Os cafés africanos portugueses baixarão o custo dos lotes», slogan que (como já a cantar-se vitória, certamente porque se considera o nosso Robusta angolano o melhor do Mundo - e parece que é verdade) vejo agora mudado (suponho que a partir de 1958) para outro, que é: «Prefira, importe, compre e beba o café português de Angola, Cabo Verde, etc.», slogan, este último, que não sei se será melhor do que o anterior, mas que talvez seja, porque não seria de ânimo leve que se deixaria uma fórmula que. já tinha muitos anos (e tudo levando a crer que muito felizes) por outra que não difere de tantas e tantas outras que andam por esse mundo dedicadas aos mais variados produtos, uns de qualidade, outros sem qualidade nenhuma.
Posto isto, Sr. Presidente, bastará que, num daqueles aparatosos auxílios que os- Estados Unidos muitas vezes promovem, surja um crédito especial para compensação de preços (artificializando-se, mesmo, o preço médio do café Arábica da América Latina até ao preço real do Robusta, africano) - bastará isso para que a corrente aquisitiva cesse quanto aos últimos, ficando o café de Angola (e outros produtos africanos, evidentemente) sem esse enorme mercado. E ocorrerá perguntar: terá essa operação de pan-americanismo algo de fantasioso, do ponto de vista financeiro? Veremos que não.
Realmente, se tomarmos como suficiente o ano de 1959, veremos que os Estados Unidos compraram 23 261 milhares de sacos de 60 kg de café verde, dos quais 20 185 milhares aos produtores latino-americanos, pagando-lhes 975 milhões de dólares, e 3030 milhares aos produtores africanos, pagando-lhes 119 milhões de dólares.
Pois bem: o preço de cada saco adquirido em 1959 pelos Estados Unidos aos produtores da América Latina foi de 48,3 dólares e o de cada saco africano foi de 39,3 dólares. Isto é: uma diferença a mais de 9 dólares em cada 60 kg latino-americanos do que nos africanos. Logo, se os Estados Unidos tivessem adquirido todo o café para seu consumo em 1959 à América Latina, teriam despendido a mais uns 27 milhões de dólares, o que, francamente, não representa uma ténue sombra de obstáculo a que se promova qualquer programa governamental de Washington a favor dos cafés latino-americanos, com repúdio dos cafés africanos, incluindo o angolano.
Vem isto de agora a propósito de duas necessidades: a da diversificação do mercado do café angolano, com