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9 DE JANEIRO DE 1963 1739

E que em tempos que já lá vão, felizmente, nesse sector as coisas não ofereciam melhor esperança que a revelada na amargura dos versos fatalistas e dramáticos.

Se não chovia, abriam-se alguns trabalhos, mas com o ato quase exclusivo de não deixar morrer de fome as populações. Se chovia, suspendiam-se os trabalhos e o pouco que se realizara acabava em pura perda. Esqueciam-se os maus bocados, como se eles não fossem uma constante ameaça a pesar sobre aquele povo infeliz ou como se o progresso - em si mesmo - fosse letra morta para as ilhas.

Desta maneira de agir resultava que as secas constituíam uma calamidade de desastrosas consequências. Os resultados chegaram a ser catastróficos. Além das vidas ceifadas, ainda tínhamos de lamentar as astronómicas cifras despendidas. Trabalhos abertos à pressa, para dar de comer a trabalhadores depauperados - mais mortos do que vivos -, só serviam de paliativo, sem resolverem nada de essencial e que seria, a par da salvação de vidas - que se não salvavam todas-, a utilidade das obras.

Daí uma fama de preguiçosos para os subalimentados ou esfomeados cabo-verdianos, que - diga-se de passagem - são magníficos trabalhadores fora da sua terra, nunca esquecendo no estrangeiro a sua pátria de origem, que procuram dignificar com apreciável dedicação e aprumo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como se esse tão injusto labéu não chegasse, ainda tínhamos de contar com a completa descrença na reprodutividade de obras que se não concluíram e que, por isso mesmo, não atingiram a sua finalidade.

Chegámos, assim, ao ponto a que eu queria chegar.

Consta-me, com efeito - as notícias são alarmantes - que alguns lanços de estradas já encetados foram abandonados ou estão para o ser, como seja a estrada de penetração de Santo An tão, que representa um esforço gigantesco da engenharia nacional e cujos trabalhos estariam parados. Além desta, temos ainda de pensar noutras começadas pelo meio, noutras ilhas, especialmente em Santiago e no Fogo, para acudir aos centros populacionais mais necessitados e que não podemos deixar perder.

E o que me aflige.

Tenho de reconhecer que a partir do esforço notável a que algures chamei a «arrancada do comandante João de Figueiredo», em 1947-1948, até ao último governador, muito tem progredido a província.

Há que reconhecer, para evitar lamentáveis confusões, que não foram os chamados eventos da história» que nos impeliram para Cabo Verde, pois muito antes de eles começarem a soprar já nós havíamos iniciado ali uma obra de fomento de apreciável envergadura.

Há que reconhecer, também em abono da verdade e da justiça, que os tempos efectivamente mudaram e que, graças ao governador tenente-coronel Silvino Silvério Marques, com direito a todos os encómios e á gratidão do País, Cabo Verde não perdeu um único homem por fome em três anos consecutivos de seca, o que bastante deve ter prejudicado os desígnios de alguns mercenários da A. N. U., que nem mesmo assim deixaram de nos atacar, mas com uma tibieza e uma tal frouxidão que não convenceram nem os seus próprios apaniguados.

Em presença de todos estes postulados quero convencer-me de que as notícias que me chegam não têm fundamento ou que se trata de um trop de zèlo ... demasiadamente preventivo.

Em todo o caso, eu sou um mandatário e, na dúvida, faço eco das preocupações da minha gente.

Receamos, na verdade, voltar aos velhos tempos. Que paralisemos as obras. Que caiamos numa euforia fictícia. Que esqueçamos a ameaça das crises, para depois atamancarmos tudo a pressa, para salvar vidas,- do mesmo passo que continuaremos a apodar os cabo-verdianos de preguiçosos e madraços e a não acreditar nas possibilidades das ilhas.

Sr. Presidente: Cabo Verde é, no dizer do Prof. Jorge Dias, o exemplo mais perfeito da nossa capacidade colonizadora, que, infelizmente, nem sempre temos sabido valorizar. Se nos orgulhamos do Brasil - prossegue o referido professor - com a mesma razão nos devemos orgulhar de Cabo Verde.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Pois valorizemos Cabo Verde! Ou melhor dizendo, continuemos a valorizar Cabo Verde! Plantando da!

Vozes:-Muito bem, muito bem!

O Orador: - Encontra-se à frente dos destinos do ultramar um grande português que Cabo Verde considera cidadão das suas ilhas. Tive o privilégio e o grande prazer de trabalhar com o Sr. Comandante Peixoto Correia, quando governou a província, donde saiu com indizível, mas bem patente, mágoa da população, que tanto o estimava e estima. Chamado para governar a Guiné, onde o seu tacto político se mostrou mais necessário do que em Cabo Verde, o comandante Peixoto Correia bem deve ter sentido quanta amizade deixou em cada habitante do arquipélago. Conheço o equilíbrio, o bom senso, a invulgar noção do dever e as excelentes qualidades de carácter e de inteligência que exornam o homem que, por seus méritos próprios, ascendeu ao mais alto posto da nossa administração ultramarina e em quem Cabo Verde plenamente confia, por muitas e justificadas razões.

Aqui lhe deixo postas as minhas apreensões e as do povo que represento, bem como algumas das nossas aspirações.

Fico na certeza de que as deponho nas mãos firmes de um timoneiro que bem conhece as rotas a desbravar e por entre as quais encontrará um Cabo Verde que é seu pelo coração e por esta Pátria a que nos orgulhamos de pertencer e que temos de engrandecer qualquer que seja a latitude em que se tenha firmado.

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

Q Sr. Alexandre Lobato: - Sr. Presidente: em 12 de Dezembro pronunciou nesta Câmara um discurso, que a muitos títulos merece reparo, o Sr. Deputado Lopes Roseira, representante ilustre dos povos do círculo de Angola nesta Assembleia Nacional. E merece um modesto reparo moçambicano, precisamente por vir de Angola, pois a Câmara estará decerto recordada de que na agitada sessão de 15 de Março, e na tempestade emocional que se gerou, nenhum Deputado dos círculos do ultramar disse uma palavra, ao menos, em abono ou desabono do discurso em que outro ilustre Deputado trouxe, vive e autêntico, para o ambiente esplendoroso e requintado desta magnificente sala europeia o ciclone apavorante das florestas ciclópicas de Angola. Nenhum, excepto