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7 DE FEVEREIRO DE 1963 2007

queza artística da sua arquitectura, por tanto tempo escondida aos olhos até mesmo dos peregrinos portugueses, que encontravam sempre em Mons. Teodósio um óptimo conselheiro e guia.
Os vários departamentos da Cúria Romana cedo se aperceberam do seu merecimento e valor para a ele recorrerem como consultor e precioso auxiliar, sobretudo em assuntos que mais interessavam a Portugal. É assim que o vamos encontrar ao lado do conde de Dália Torre, director do Osservatore Romano e presidente da Exposição Internacional da Imprensa Católica, sob as ordens do então cardeal Pacelli, actuando para que resultasse um êxito a participação de Portugal com o seu bem-estudado pavilhão.
O seu fervoroso zelo apostólico e acrisolado amor à Pátria vão pôr-se mais em evidência quando a Santa Sé resolve mandá-lo para África como prelado de Moçambique.
O Papa Pio XI diz-lhe, ao marcar-lhe a missão que o espera:

Ide, meu filho, e trabalhai com coragem. Se fizerdes de Moçambique uma terra católica, ela será também portuguesa. Se não, será um território protestante ou maometano, mas o que não será talvez é português.

E o cardeal Fumasoni Biondi, prefeito da Sagrada Congregação da Propaganda, aponta-lhe Moçambique como uma «mancha negra», a maior no campo da missionação católica.
Sem se perturbar com os pesados trabalhos que o esperam, sereno e obediente, o bom prelado parte logo para Lisboa, dias depois da sua sagração, para procurar os primeiros contactos com o Governo.
E na Festa do Bom Pastor, naquele distante mês de Abril de 1937, o bispo titular de Leuce e prelado de Moçambique desembarcava em Lourenço Marques e fazia a sua entrada solene na Pró-Catedral para dirigir aos seus fiéis e a todo o Moçambique a sua saudação pastoral.
Apercebeu-se logo que seria necessário um esforço ingente para vencer a dura tarefa que lhe estava destinada e confiou na Providência.
Um ano não era decorrido e já visitara toda a terra moçambicana. Era desolador o que lhe fora dado observar quanto às missões. Algumas desfeitas e muitas por fazer. As palavras do cardeal da Propaganda haviam de impor-se-lhe muitas vezes à consciência. A cidade de Lourenço Marques contava então com três padres e um deles prestes a regressar à metrópole definitivamente.
Ao sul do Limpopo, numa extensa área, apenas S. Jerónimo de Magude tinha um missionário, com seis missões entregues a auxiliares leigos. E dali para o norte não era mais risonha a situação, porque ainda muito pior. Bastará dizer-se que o território que hoje constitui a Diocese de Quelimane, com uma superfície de 100 503 km2 e para cima de 1 milhão de habitantes, contava então com um só missionário.
O prelado inquieta-se com situação tão angustiante para a Igreja e para a Nação.
Como fora possível cair quase no zero da vida missionária, apesar dos esforços e dos gritos de alarme dos que o precederam, desde D. António Barroso a D. Rafael de Assunção, em correspondência e relatórios que ficaram a atestar o seu patriotismo e zelo de apostolado?
Em fins de Novembro de 1938, depois de aturada e volumosa correspondência com a Santa Sé, D. Teodósio põe-se a caminho da Europa para expor a situação na Secretaria de Estado e logo a seguir ao Governo Português, e regressa imediatamente a Moçambique, tanto mais que a viagem presidencial se aproxima. Não o faz, porém, sem deixar um completo relatório que há-de servir de base à elaboração do futuro acordo missionário.
Foram triunfais e inesquecíveis os dias passados em Moçambique pelo Presidente Carmona e ficou memorável, pelo desassombro, a alocução proferida pelo prelado, depois da missa, no local onde formara o «quadrado de Marracuene», a tal ponto que o Ministro o felicitou vivamente.
Antes de regressar, em luzida sessão solene na Câmara Municipal de Lourenço Marques, o Presidente da República condecora o bispo de Leuce e prelado de Moçambique com a grã-cruz da Ordem de Cristo.
Aproveitando a data das comemorações do duplo centenário da fundação e restauração de Portugal, o Governo Português assina com a Santa Sé, além da Concordata, um Acordo missionário.
Foi este instrumento jurídico de direito internacional - onde V. Ex.ª, Sr. Presidente e mestre consagrado de Direito Internacional da Universidade de Coimbra, subscreveu também o seu nome - o grande marco miliário a assinalar uma era de renovação missionária de glória para a Igreja e honra para Portugal.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Seria longo e exaustivo percorrer o que se realizou desde essa data sob o aspecto missionário na província de Moçambique, desde a criação de novas dioceses à expansão de missões, escolas, colégios, etc.
O Anuário Católico de Moçambique, mandado preparar pelo cardeal Gouveia, documenta quanto se fez nesse sentido, não obstante as consideráveis dificuldades em pessoal e meios de acção.
Em 1946, o Papa Pio XII, que para a sagração da Catedral de Lourenço Marques enviara o cardeal Cerejeira como seu legado, resolve proceder à maior criação de cardeais, na história, agora a dispersar por todo o Mundo. E na lista dos purpurados figura também o nome do arcebispo de Lourenço Marques, o que causou surpresa até no próprio meio eclesiástico, pois era o primeiro cardeal dado pela Santa Sé ao continente africano. A tal ponto foi a admiração que, em Roma, o cardeal de Havana se apressa a procurar o novo elemento do Sacro Colégio para lhe dizer que muito grande devia ser a obra realizada para que o papa tenha voltado os seus olhos lá para o fundo de África e entendesse fazer cardeal o arcebispo de Lourenço Marques. Na verdade, a escolha de um cardeal de terra portuguesa africana honrava, sobremaneira, Portugal e demonstrava a atenção e o apreço que ao Santo Padre merecia a obra missionária dos portugueses em África.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Esta obra, porém, não se limita apenas ao território português, mas estende-se para além-fronteiras, junto dos núcleos de portugueses que estanciam e trabalham em terra estrangeira.
Assim, aos dirigentes sul-africanos não era desconhecida a acção religiosa e conciliadora criada para os muitos milhares de moçambicanos em prestação de mão-de-obra nas minas, com a Missão de Santo António do Rand, expressamente edificada para os autóctones, e ainda a de Nossa Senhora de Fátima, a completar aquela.
Não devo terminar este breve apontamento sobre a personalidade e obra do cardeal Gouveia sem me referir à atitude assumida por este eminente purpurado quando da