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26 DE NOVEMBRO DE 1963 2503

O entusiasmo foi delirante, as afirmações de apoio não paravam nem podiam ser contidas.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - A emoção, direi mesmo a comoção apoderou-se das almas. Ninguém acreditava na possibilidade de se perder qualquer parte do território nacional, qualquer porção dos territórios ultramarinos.
E esta crença que lhes alimentava o entusiasmo fundavam-na na política ultramarina do Governo afirmada na declaração e no conhecimento de que outras políticas adoptadas no desenvolvimento do fenómeno da descolonização têm conduzido à independência e à desordem e, por via desta, à perspectiva de outras formas de colonização que agravam, em vez de melhorar, a situação das populações. São um factor de regresso, em vez de progresso e civilização.
Têm conhecimento disto e ainda de que uma política desenhada no sentido da independência é a independência imediata. O racismo negro se encarregará de eliminar o branco e de liquidar as fontes de progresso religioso, moral, social e económico que este tinha criado; e o tribalismo se encarregará de instalar a anarquia e, com ela, a fome e a miséria demográfica.
Assim se formou a convicção, direi mesmo adquiriu a certeza de que a única política que pode salvar o nosso ultramar é a definida na declaração. Daí o seu entusiasmo por esta política e o apoio vigoroso que lhe prestam.
Sabem que quem a enunciou já montou o dispositivo de defesa que tem vindo e está permanentemente a aperfeiçoar-se para se tornar cada vez mais eficiente; sabem que, com este dispositivo, não poderemos ser batidos mesmo pela guerra que nos façam os novos Estados africanos (digo Estados, e não nações); sabem que as nossas forças armadas continuam a manter as virtudes dos heróis da ocupação e dispõem de meios militares proporcionais àqueles de que poderá dispor o inimigo; sabem que o patriotismo multiplica as potencialidades dos elementos humanos, e sabem que, com a capacidade de sacrifício da gente portuguesa, também os recursos se multiplicam.
Para tudo isto foi, pela declaração de 12 de Agosto, atraído o pensamento da gente portuguesa.
Viu-se bem que ela foi a interpretação de um estado de alma colectivo. Estes estados de alma precisam de ser sacudidos para aparecerem evidentes, bem batidos de luz, aos olhos de todos. Foi uma das muitas virtudes da declaração. Mudou o clima, aqueceu-o, criou uma euforia contagiosa que obrigou às manifestações externas e aos aplausos públicos. Foi o processo que gerou a manifestação de 27 de Agosto. Diante dela, não há dúvida de que o povo apoia e aplaude a nossa política ultramarina.
Sentiu-se perfeitamente que a grande maioria daqueles mesmos que, não concordando com o pensamento informador do Regime, discutiam aquela política ou punham restrições às soluções que preconizava, esses mesmos deixaram de discutir e se renderam, convencidos, ou se calaram. Isto aconteceu e foi palpável tanto na metrópole como no ultramar.
A Assembleia Nacional não estava em funcionamento na altura da declaração. Não pôde por isso manifestar-se. Já chegou até mim a notícia de que alguns Deputados estão na disposição de promover que se crie a oportunidade. A Assembleia Nacional é o órgão do Estado particularmente qualificado para traduzir a vontade da Nação e interpretar o pensamento do povo.
A votação da Assembleia é uma das formas de expressão do pensamento do povo.
A visita do Chefe do Estado às províncias de Angola e S. Tomé foi um acontecimento que exaltou o clima criado pela declaração, revigorando-o e mostrando-se por si capaz de o criar.
Logo à chegada a Luanda, o Chefe do Estado foi recebido com demonstrações de carinho que poderão sentir-se mas não podem descrever-se. Foi toda a população, sem distinção de cor ou de preferências políticas, que se misturou nas ruas e nas praças para aplaudir e aclamar.
Estava ali o representante máximo da unidade da Pátria e todos queriam gritar-lhe o seu amor, a sua devoção pela Pátria. Nos dias que esteve em Luanda, o ambiente emocional manteve-se, e sempre que o Chefe do Estado aparecia era a mesma onda de entusiasmo a saudá-lo.
Depois percorreu Angola. Esteve no Norte, nos pontos que mais sofreram o embate dos terroristas.
A soberania portuguesa está aí restabelecida; a organização administrativa tem aí assegurada a sua actividade. Mas ainda há terroristas refugiados nas matas. O domínio do território não elimina, naquelas regiões imensas e, em muitos pontos, inacessíveis, a possibilidade de aí haver malfeitores refugiados. Os nossos heróicos soldados lá andam a limpá-los, sempre atentos à cilada que os espreita.
É sempre possível a cilada.
O Chefe do Estado esteve lá. Foi acolhido com o mesmo entusiasmo de Luanda pelas populações.
Misturou-se com elas; deixou-se abraçar e beijar. Nenhumas precauções. Não digo que, em geral, deva proceder-se assim; digo que ali se procedeu assim.
Esteve, a seguir, em muitos outros pontos de Angola. Chega a escandalizar a sua resistência física; a moral já a gente sabe que não tem limites.
Regressou a Luanda. Ao partir, foi o delírio.
A visita do Chefe do Estado apusera o selo da autenticidade, da determinação e da firmeza na política expressa na declaração de 12 de Agosto.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Isso revigorara a convicção de que Angola, defendida até o extremo limite das nossas forças, não deixará de ser nossa, não deixará de ser Portugal.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Ajunte-se a tudo a simpatia que o Presidente, com a sua simplicidade sem afectações e a sua sinceridade transparente, despertou nas gentes e ter-se-á uma explicação para aquele delírio do momento da partida.
A comoção invadiu as almas. Era um misto de alegria e de saudade. Apoderou-se também do Presidente. Era a expressão sentida do seu agradecimento e a visão concreta da unidade da Pátria, na pluralidade dos continentes, que tinha podido palpar.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Depois passou por S. Tomé. Foi o mesmo entusiasmo, a mesma vibração, o mesmo ardor patriótico.
Por fim chegou a Lisboa.
Quase todos VV. Ex.ªs terão assistido à chegada.
Não quero descolorir as vossas impressões com as minhas palavras.