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5 DE FEVEREIRO DE 1964 3117

mente, o enraizamento no pequeno povo e na grande Pátria, o progresso espiritual, a vitória da terra e do espírito.

O Sr. Pinto de Mesquita: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz obséquio.

O Sr. Pinto de Mesquita: - É apenas para esclarecer que o Estado Novo foi já em parte enformado pela doutrina de uma geração que reagiu contra os desmandos que se verificavam na política dos partidos, geração essa que antes se educara já exactamente em sãos princípios nacionais. Nestes encontrou o movimento do 28 de Maio uma raiz de apoio de importância, sem a qual ele próprio não poderia resistir nem consolidar-se.

O Orador: - Tem V. Ex.ª muita razão. Aliás, nas minhas palavras está gostosamente implícita essa homenagem à geração do integralismo lusitano.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Muito obrigado a V. Ex.ª pelos desse movimento nacional e pela parca parcela que me possa nele tocar.

O Orador: - Certos empreendimentos demoram a realizar, a exibir a sua importância ou a produzir os seus resultados. Alguns chegam a prolongar-se por gerações - e assim se compreendem desígnios de dinastias, fidelidade a um plano. O Estado Novo afirmou-se como eminentemente criador - e a obra ergueu-se!
A revolução é essencialmente força interior. Goethe falava em polaridade para designar o movimento duplo pelo qual, em seu entender, se pautariam a vida e o Mundo: todas as coisas criadas existem por uma concentração sobre si próprias e uma expansão para as outras, por uma sístole e uma diástole, por um egoísmo e um altruísmo, uma recusa e uma entrega. E neste duplo movimento reside o segredo da própria vida, que, para o ser, se renova e vivifica.
Quando uma planta não renova os tecidos, seca. De igual modo, quando o sangue não renova os glóbulos, o animal morre. No corpo de cada um de nós verifica-se, momento a momento, célula por célula, uma renovação implacável - e é assim que vamos criando a variação das idades dentro da identidade, que não perdemos jamais. O homem de 50 anos é, sem dúvida, idêntico àquele que foi quando tinha apenas 20, mas, entretanto, para a vida se manter e prosseguir, tudo no seu corpo e no seu próprio sangue se renovou, muito foi destruído e muito foi criado. No momento em que essa renovação (essa morte!) deixar de verificar-se dentro do organismo é a hora, aquela hora, em que a morte chega e impõe a sua lei, mas aquela morte para além da qual os corpos se mineralizam ou se decompõem.
Os regimes políticos têm de manter também esse indómito segredo da renovação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não podem parar, não podem estagnar, têm de viver em permanente actualização, têm muitas vezes de morrer por dentro, aqui e além, para alimentarem a vida-tal como nos organismos vivos; têm de variar com as idades, assegurando embora os princípios de identidade, que são as linhas mestras da sua doutrina e da sua acção; têm de manter essa permanente fonte de renovar, sob pena de serem atropelados pela vida e chegarem à hora de se decomporem.
Os regimes têm de alimentar no seu próprio seio a revolta ideal que os vivifica. A falange aguerrida, que normalmente vem surgindo, traduz os princípios para a linguagem dos tempos novos, há-de recriar a fonte inspiradora e dar actualidade à verdade permanente.
E esses puros, que irrompem das raízes dos próprios regimes, podem vir regenerar-lhes e aquecer-lhes as veias. Ser eterno e ser moderno, ser permanente e actual, ser fiel e insatisfeito, participar da seiva e disparar-se em novos rumos, ir às raízes mais profundas para apontar os altos cumes - eis a tarefa de renovar e vivificar que pertence à juventude!
Só mercê de idealismo serão aceites sem revolta, e porventura com entusiasmo, os sacrifícios e as limitações exigidos por esta hora da Pátria. «Quand les peuples cessent destimer, ils cessent d'obéir» - sentenciava Bivarol -, e esta sentença reúne-se à consideração de que, quando os povos deixam de crer, deixam de sacrificar-se, de continuar o passado e de preparar o futuro; o dia de hoje, a sede de prazeres e o materialismo avançam; pão e circo transformam-se em programa de vida.
Para que as novas gerações se moderem e sacrifiquem, em obediência ao imperativo e a vocação das gerações passadas ou ao destino das gerações futuras, temos de lhes apontar, com insistência, razões místicas, ou, se quiserem, sentimentais. Temos, numa palavra, de as doutrinar no entendimento profundo e íntegro da lusitanidade. E temos ainda de manter viva a mística da acção.
Esta é a grande tarefa política do nosso tempo: tarefa que se impõe à inteligência das dirigentes e dos homens conscientes do País. A insatisfação e o idealismo são insusceptíveis de abortamento. O preciso é que estejam dentro do palácio, pertençam à família de Creonte - como aquela Antígona da tragédia -, para que não surjam, virulentos e indomáveis, de entre os que estão no arraial oposto ou nas valetas da vileza.
Há que manter vivo o facho do ideal junto das novas gerações, ideal em que o passado e o futuro se dêem as mãos, em que a mesma seiva corra das raízes, e desde a terra até às flores e ao espaço, em que a tradição e a fé se conjuguem com a experiência e as realidades, com o estudo e a inteligência. Sejamos realistas, mas sem perdermos de vista o ideal.
O maravilhoso exemplo que está dando, em África, a nossa mocidade - escrevendo uma gesta que já são páginas de história - é aceno, eloquente e firmíssimo aceno, das potencialidades espirituais da grei.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.

O debate continuará e concluir-se-á amanhã sobre a mesma ordem do dia.
Está encerrada a sessão.

Eram 19 horas e 5 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Alberto dos Reis Faria.
Alberto da Rocha Cardoso de Matos.
Alexandre Marques Lobato.
Aníbal Rodrigues Dias Correia.
António Burity da Silva.