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3126 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 126

beleza, de soberania de valores do espírito e constância no sentido de Deus.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Vivos os nossos mortos, que ainda ontem reencarnaram na floração de heróis que escreveu a gesta da ocupação africana - autênticos varões de Os Lusíadas.
Tão vivas as vozes que nos vêm do fundo dos séculos que ao seu apelo acordaram os vivos do presente, para ressurgir, com o levante de Maio, em surto maravilhoso de resgate e afirmação.
Tão viva a responsabilidade da herança que recolhemos, tão vivo o sentido da grande missão que o passado e a história nos transmitiram que, por amor e fidelidade a essa herança, a esse passado e a essa história, afrontamos nesta hora o Mundo inteiro, de cabeça erguida.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E por amor e fidelidade sofremos os ódios e as incompreensões, os agravos e as injustiças do Mundo.
Por amor e fidelidade sofre e morre em África o melhor da nossa mocidade; sofre e morre ante um mundo sem grandeza e sem norte, num alto exemplo de fé nos mais altos valores da vida, numa grande lição de sacrifício, de renúncia e de beleza moral.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: a consideração do factor nacional na formação do homem não é apenas exigência decorrente do nosso nacionalismo; aliás, em tudo equilibrado e legítimo, ainda que, porventura, insistamos neste aspecto com maior vivacidade. Mas é também ditame expresso - e lógico - da mais saudável pedagogia, e designadamente da pedagogia de inspiração cristã, que abrange o homem numa visão integral.
No delineamento de um plano geral de acção educativa haverá de considerar, por um lado, o problema dos fins, ou seja o ideal educativo, e, por outro, o sistema de meios - processos pedagógicos e métodos adequados - conducentes à sua realização.
O problema dos fins é uma doutrina, tributária de uma filosofia da vida. Os meios, uma técnica, quer dizer, uma ciência e uma arte, com grande subsídio da biologia, da psicologia e das ciências sociais.
Há seguramente, já no âmbito dos meios, peculiaridades de ensino ou modos de ensinar mais conformes com a psicologia portuguesa; haverá mesmo, porventura, como alguns pretendem, um verdadeiro sistema original - uma pedagogia nacional.
Deixo este aspecto da questão à competência dos pedagogos, ainda que o assunto também interesse ao objectivo central da minha intervenção, pois que ensinar à portuguesa é já lição de portuguesismo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E volvo-me para o outro lado, para o problema dos fins da educação.
Já disse, e todos sabem, que um ideal educativo, que toda a pedagogia como ciência dos fins educacionais, tendo em vista a formação integral do homem -sujeito da educação -, está subordinada a uma concepção geral da vida, a uma visão total do homem e do Universo - portanto a uma doutrina filosófico-religiosa.
A nossa concepção do homem é - não podia deixar de ser - a concepção cristã do homem. Para muitos, para a maior parte, para os crentes, antes do mais, porque é a verdadeira. Para todos, porque é historicamente a portuguesa. Para todos, também, porque o humanismo cristão, mesmo desligado das suas raízes transcendentes, mesmo olhado à luz da razão humana num plano não confessional, é o que mais enobrece o homem, o que mais o engrandece, proclamando a sua alta realeza espiritual.
E ainda porque neste mundo europeu, que nasceu no regaço da Igreja e nesta civilização que o cristianismo maternalmente fecundou e alimentou, no andar dos séculos; e mais, neste solar peninsular, onde a crença foi mais viva e a fidelidade mais constante, tão impregnado está o ambiente, a tradição e, até, as almas, de perfume cristão, que, apesar de todos os repúdios e todas as negações, de todas as recusas e todos os desvios, o homem do nosso mundo e da nossa civilização é ainda o homem cristão, mais ou menos laicizado - no dito certeiro de Maritain.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No conceito cristão o homem é um grande senhor, revestido de eminente dignidade pela sua alta realeza espiritual e a soberania dá razão, universo moral com autonomia é liberdade de escolha, portador de valores eternos, criado à imagem e semelhança de Deus, resgatado por Deus humanado e para Deus ordenado, como seu fim último.
«Estais no Mundo, mas não sois do Mundo» - disse o Divino Mestre, segundo S.º João. E também escreveu S. Paulo: «Nós não temos aqui morada permanente.» Mas se não são do Mundo nem no Mundo têm morada permanente, os homens estão no Mundo e têm aqui morada.
E não estão no Mundo desligados, como areia solta, nem reunidos ao acaso e sem nexo, como as coisas inanimadas, nem, ainda, como os brutos, uniformemente agrupados para cada espécie e, para cada espécie, sem pluralismo nem variedade simultânea e sem variação no espaço e no tempo.
Os homens estão no Mundo unidos por relações orgânicas, mútuas de colaboração e dependência. Por natureza somos sociais, quer dizer, destinados a viver com os outros homens, por impulso espontâneo de um instinto profundo.
E só em sociedade e pela sociedade o homem, pode realizar a sua condição humana. E portador de virtualidades latentes que só no ambiente social desabrocham e podem chegar à plenitude. A sua cultura e a expansão da personalidade estão assim na dependência das riquezas naturais e sociais que envolvem o seu ser e o seu destino. E porque assim é, porque só no meio social e através dele realiza plenamente a sua humanidade, o homem deve ser educado para o desempenho dos seus deveres sociais, e a educação será, de si mesma, uma adaptação social.
De todos os grupos em que a sua vida se insere, a comunidade nacional é a que mais o penetra e condiciona o seu ser, a que mais fundamente se inscreve na formação da sua personalidade. Nesse ambiente que logo encontra ao nascer, sem liberdade de escolha, que o envolve de perto e sem. cessar e insensivelmente o afeiçoa, recolhe os elementos que fecundam as possibilidades latentes com que veio para o Mundo. A educação há-de ter em conta as particularidades desse ambiente para que o homem, através da boa integração no quadro nacional, valorize as suas riquezas próprias e sirva e enriqueça a comunidade que o agasalha e o alimenta do seu ser, numa reciprocidade indissolúvel de mútuos benefícios.
São de duas ordens os elementos que no meio nacional modelam e condicionam o corpo e a alma dos que ali nascem e crescem. Uns culturais, obra do homem e na maior parte criação da sua liberdade. Outros naturais e de maior pressão determinista - dominantemente a terra e o san-