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3444 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 137

por sugestiva fita de seda cujas pontas puxamos de começo perplexos e depois emocionados e mesmo ansiosos- implique, como todos os outros casos que aqui tenho abordado, com verbas e orçamentos, se dê ou se receba - perdoem-me VV. Ex.ªs a caricatura - através do prosaico e antipático guichet que, para além do mais, nos faz perder a verticalidade vertebral.
Que pena, realmente, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que até esta palavrinha mágica, que de um momento para o outro nos faz esquecer a dureza do real, as agruras quotidianas, lançando-nos num mundo de fantasia, se tenha do imiscuir com a trivialidade do dinheiro.
Que pena isto me dá a mim que, não tendo tido a graça de nascer poeta, não desdenharia sô-lo e, talvez por isto, constrangidamente me dou a serviços demasiadamente realistas que muito me esforço por cumprir, mas mais por imperativo da consciência que por tendência natural das minhas predilecções.
Para mais, Sr. Presidente e Srs. Deputados, sempre que desço desta tribuna me sinto sucumbido por sempre ter verificado, em todos os casos, a presença inevitável de um denominador comum que é amo e senhor, um ditador intolerante e insubstituível: o senhor dinheiro.
Assim me sucedeu na reforma da previdência; igualmente na da assistência; nos avisos prévios sobre municipalismo e educação nacional; e escusado seria referir, como é óbvio, na fundamental Lei de Meios.
No caso hoje presente repete-se, como motivo base de partitura musical, o eco da entrada de divisas como elemento motor indispensável a qualquer actividade no foro turístico e apresentam-se estandardizados os termos da velha equação: milhares de necessidades e unidade para as disponibilidades.
Também por isto gostaria de esquecer as cifras e os cifrões; desejaria divorciar-me da ideia dos escudos em que se funde a estranha e subtil essência humana que correrá pelas artérias do nosso maravilhoso Portugal e que àvidamente se recolhem para que se forje a mola mestra desta promissora indústria de que o Estado é sócio e é gerente.
Talvez por força de tal desejo me convenci de que não vem algum mal ao Mundo, e por certo também para. o meu querido país, que me outorgou honrosa procuração, que eu analise este caso - o turismo português - de maneira menos objectiva, quiçá pouco pertinente, tanto mais quanto estou certo não faltar quem o cuide de forma bem positiva, glosando os números com a sabedoria dos mestres e o sentido prático dos homens experientes e actualizados.
Não surgirá, pois, mal ao Mundo - penso eu - que alguém lance um pouco de água no lume, para que este só aqueça ou ilumine e não queime, às vezes, caras, bem caras, aspirações.
É que, Sr. Presidente e Srs. Deputados, já tenho notado, aqui ou além, o turismo transformado em exploração e também tenho alguns maus pressentimentos quanto ao respeito devido à equidade distributiva dos dividendos em face das exigências turísticas de todo o território continental e insular e de harmonia com o mais válido interesse nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Receio que se venha a alterar o admirável rumo mantido há já alguns anos; temo a força ancestral, o poder atávico, que nos pode fazer retroceder ao privilégio restrito, ao pletorismo que contrastou, em maus tempos, com anemias perniciosas mas evitáveis. Receio com certeza injustificado, porque se baseia simplesmente na impressão subjectiva causada pela insistência de certos estribilhos, e não, evidentemente, em dúvida quanto ao espírito de justiça, ao sábio e são critério dos responsáveis, que tantas e tão grandes provas nos têm já dado da sua competência, com o brilhantíssimo desempenho de várias e delicadas funções.
É, pois, com toda a justiça que eu aqui recordo e louvo a nobreza moral, a alta craveira intelectual, o perfeito conhecimento das realidades actuais e a posse plena dos segredos de uma perfeita administração, enfim, que recordo, dizia, algumas das mais destacadas virtudes do ilustre Subsecretário de Estado da Presidência, Dr. Paulo Rodrigues, que tanto dignificou esta Assembleia e que ainda há bem pouco tempo, em profunda análise às nossas condições turísticas, dou a todo o País mais uma prova incontestável do seu enorme talento.
Com intensa alegria e muita justiça recordo também a acção criadora, a actividade desdobrante, a inteligência viva, o critério sério e sensato do Dig.mo Secretário Nacional da Informação, Dr. César Moreira Baptista, entusiasta continuador da obra de António Ferro, a cuja memória presto respeitosíssima homenagem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E quero valorizar este conceito, dar-lhe toda a autenticidade, declarando que não me coíbo de, com intuito construtivo, contrariar, provàvelmente bastante mal, mas com certeza muito sinceramente, as ideias fundamentais e acessórias dos mais altos responsáveis pelo turismo em Portugal.
Assim e para já peço que me perdoem os mestres e os técnicos a ousadia de começar com uma singela advertência: cuidado, muito cuidado, com as estatísticas. Meu pai, com a sua peculiar, mas sinceríssima filosofia, considerava esse famoso instrumento informativo como a mais engenhosa mentira de todos os tempos o contava - já lá vão tantos anos -, entre irónico e incrédulo nas coisas temporais, a história de uma arruinada estrada para a qual a actividade dos altos poderes públicos dessa época jamais se voltava - porque a estatística sempre referia que não tinha movimento de veículos, esquecendo acrescentar que o não tinha precisamente por se encontrar absolutamente intransitável.
Presente pois, em mim, este paternal conselho e dada a autorização de V. Ex.ª, Sr. Presidente, atrevo-me a ligeira digressão turística, tão rápida como a VV. Ex.ªs convém e superficial como as minhas reservas nesta especialidade me permitem.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: como a moralidade bem entendida e bem julgada deve começar por nós próprios, vou principiar por pedir aos responsáveis a boa atenção e o melhor auxílio para o turismo de uso interno, isto é, para o turista nacional.
Repara-se, por exemplo, e com justa razão, que milhares de nortenhos conheçam bem Paris e desconheçam as maravilhosas praias algarvias e que outros tantos desta ponta de Portugal se mostrem bem familiarizados com as avenidas de Barcelona e nunca tenham, sequer, sonhado com as telas garridas de todo o Norte do seu país.
Talvez porque esta verdade se vem apagando na sua própria rotinice, não se lhe deu a relevância merecida o se não começou pelo princípio.

O Sr. Gamboa de Vasconcelos: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça obséquio.