3446 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 137
sas unidades hoteleiras, se os preços das diárias são proibitivos, se, em alguns casos, a cozinha não pode ser vista de surpresa e se um mendigo ou muitos nos aguardam à saída?
Caberia agora, Sr. Presidente e Srs. Deputados, cuidar destes males se já os não tivéssemos tratado nesta Assembleia ao apreciar os nossos métodos de educação, de assistência e de previdência.
Não resisto, todavia, à tentação de recordar, mais uma vez, a valiosíssima obra educacional e assistencial realizada pelo nosso distintíssimo colega Dr. Veiga de Macedo quando, com trabalho esfalfante e muito saber, desempenhou os altos e difíceis cargos de Subsecretário da Educação Nacional e de Ministro das Corporações. Perdoem-me agora referir ao desejo que aqui insistentemente manifestei de que não fossem extintas as comissões municipais de assistência e para que antes lhes fossem proporcionados os meios indispensáveis para o seu cabal funcionamento.
Resta-me acrescentar, a propósito destas particularidades, que estimaria sentir muito mais vivamente a presença do elo de ligação, do órgão coordenador existente entre o Secretariado Nacional da Informação e os diversos Ministérios o organismos cujas actividades implicam com o desenvolvimento ou aperfeiçoamento do nosso turismo.
Penso, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que este ponto merece ser posto também em evidência, porque, por um lado, o turismo está hoje na ordem do dia, e porque, por outra banda, se notam bastantes falhas neste sistema de interligação indispensável para que o turismo possa bem germinar e dar bom fruto.
De uma mais intensa actividade deste órgão coordenador resultaria - assim o entendo - um avanço na batalha contra o pé descalço e contra a mendicidade, um maior aproveitamento das naturais qualidades hospitaleiras do nosso povo, uma possível subida na escala das prioridades, tanto em relação às obras de fomento ligadas ao interesse turístico, como aos financiamentos das comissões e juntas de turismo, que, neste aspecto, muito sentem essa solução de continuidade, bem como a perda correspondente aos 20 por cento sobre as receitas ordinárias dos seus orçamentos, ou seja uma quinta parte.
Sr. Presidente: vou terminar focando um ponto que reputo fundamental na problemática do nosso turismo:
A diversidade das predilecções humanas, também reconhecida no campo do turismo; a variedade da sedutora cozinha portuguesa em função das diferentes regiões; a vida barata em qualquer ponto do Pais; a presença do mar desde a ponta norte até, ao extremo sul; a beleza de tantos rios que recortam as áreas interiores, tão ricas de fontes termais; a igualdade do clima, sem diferenças que impressionam ao longo de toda a zona marginal; a pequenez do território continental repleto de encantos naturais e que, precisamente por ser tão pequeno, tem de ser todo aproveitado para se aumentar a média do tempo de estada dos turistas no País; e, finalmente, a necessidade de distribuir por todos os portugueses os benefícios proporcionados pelo turismo, são algumas das muitas razões que me levam a sublinhar a necessidade e a vantagem de, na estruturação de um plano de desenvolvimento turístico, rios orientarmos pela política de difusão, e não pela de concentração.
O Sr. Rocha Cardoso: - Muito bem
O Orador: - Milhares de turistas preferem a incomparável e luxuriante região nortenha; outros tantos deixam-se seduzir pelos encantos das Beiras; outros milhares ficam presos ao colorido do Ribatejo ou às canções dolentes nas planícies alentejanas; muitíssimos aos encantos da luminosa costa algarvia; quantos e quantos ao sabor paradisíaco da Madeira e dos Açores; outros milhares ao bulício das cidades, às delícias das praias, ou ao romantismo das aldeias. Que precisamos juntar a tantos atractivos que a Natureza nos dispensou? Precisamos de distribuir, regular e equitativamente, sem predilecções discutíveis, a ajuda do homem, de forma que todo o País, e não apenas uma região, seja terra de turismo.
Sr. Presidente: o progresso que de ano para ano se vem registando no processo turístico nacional deve-se, em primeiro lugar, como já referi, aos benefícios que todo o País vem colhendo de uma política superior verdadeiramente excepcional e, secundária e consequentemente, à descoberta de que Portugal não é só Lisboa.
Mas verdade, verdadinha, é que nos mais afastados antecedentes da vitória sobre o «muro» do famoso triângulo turístico menos encontramos os homens do passado que a providência de sempre.
Se os olhares justos e generosos da Senhora do Rosário não se tivessem volvido para Fátima, talvez ainda hoje continuássemos confinados aos vértices desse triângulo dominador e egocentrista.
Pela graça divina, de que Ela foi mensageira, o sol entrou por todas as janelas e esterilizou o ambiente; a paz voltou à Terra e aos espíritos; os pomares começaram a dar frutos; o País passou a ser respeitado e, a pouco e pouco, admirado em toda a sua extensão; enfim, o turismo nasceu e a Revolução Nacional parece-me, agora também, um milagre de Fátima.
O Sr. Rocha Cardoso: - Muito bem! E foi assim!
O Orador: - Mas soa, ùltimamente, Sr. Presidente e Srs. Deputados, novo slogan sugestivo como o pecado. Autêntica arma de dois gumes que pode atirar para a penumbra do ocaso muitas e legítimas aspirações.
Atrai, seduz e mata. E, por isso, daqui me vem o receio de que a mensagem de Fátima não tenha sido compreendida por nós em todos os escaninhos do seu transcendente significado. Com docilidade a Virgem derrubou o muro triangular e arrastou os homens, de todos os continentes, até Fátima. E deste nosso centro espiritual e corográfico falou-lhes do amor a Deus e do amor ao próximo e mostrou-lhes as belezas de todos, todos, os recantos desta maravilhosa terra da sua predilecção: o romantismo dos vales; a majestade do mar; o bucolismo dos rios; a austeridade das serras; o carácter específico de cada cidade; a graciosidade das vilas; a garridice das aldeias, e a alma simples, aberta, hospitaleira, briosa e crente de todo um povo regido pelas leis mais humanas do Mundo, que não admitem a pena de morte, nem a discriminação de classes, nem de raças.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - E o Mundo ficou deslumbrado. E da sua retina jamais se apagará a imagem daquela multidão com os braços em cruz, na ânsia de uma universal fraternidade, e de olhos fixos na Bainha de Portugal. Deste Portugal pequeno e grande, histórico e simples, brioso e humilde, claro e policromo, poeta e prosador, contemplativo e vivo, tão variado, tão sui generis e tão transcendente, que só seria possível traduzir-se, fielmente, em expressão pictórica, através do génio polivalente daquele que foi pintor e também poeta, escultor e humanista renascentista, músico e arquitecto, e que, há precisamente quatro séculos, ao transpor, pela última vez,