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29 DE FEVEREIRO DE 1964 3447

os umbrais da Capela Sistina, fez ranger, com sonoridade universal, os gonzos dos portões da imortalidade.
Respeitemos, gratos e reconhecidos, Sr. Presidente e Srs. Deputados, as dádivas e o superior desígnio da Providência, distribuindo com justiça e sábio critério as benesses de que dispomos por toda, toda, a sagrada terra portuguesa.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. José Manuel Pires: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: o aviso prévio que o ilustre Deputado Dr. Nunes Barata submeteu a debate desta Câmara, que outros méritos não tivesse, acho que todos lhe reconheceremos, pelo menos, o valor inestimável de vir na hora própria. Por mim, quero ainda prestar homenagem muito sincera ao alevantado propósito e ao minucioso conhecimento de causa, que ele amplamente patenteia, a ponto de não deixar de fora nenhuma actividade, qualquer sector ou forma de vida nacional que, perto ou longe, possa relacionar-se com o turismo, desde a valorização da sua transcendência, dentro- da sociedade actual, até aos aspectos de aplicação prática e imediata.
Todos temos ainda bem presente a comunicação memorável que, na tarde de 7 de Janeiro passado, o Sr. Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, ilustre parlamentar desta Câmara, fez ao Conselho Nacional de Turismo. As palavras deste ilustre membro do Governo acordaram as mais fundas ressonâncias em todos quantos conhecem um pouco a importância decisiva do problema na vida dos Estados modernos.
Quando, lá fora, povos com padrão de vida tão elevado, como a Suíça, têm no turismo a sua principal indústria, a mais rendosa e porventura a mais duradoura e a de mais benéfica influência sobre a sua cultura, precisamos nós de acertar o passo e ultrapassar até a política turística desses povos, na boa linha de incentivação que nos últimos vinte anos se vem processando, já que a Natureza nos prodigalizou recursos inesgotáveis. «Aproxima-se, de facto (como em fórmula de lápide afirmou o Sr. Dr. Paulo Rodrigues), a hora decisiva da indústria turística em Portugal».
Passou, felizmente, a hora em que, se não nos textos constitucionais, e muito menos dentro da boa verdade histórica, as leis criadoras, os debates redentores, as iniciativas arejadas, os ventos que nas asas levam as sementes de renovação e da vida parece que receavam alargar o voo aos mares mais recuados do nosso império ultramarino. Dentro desta Casa, quando hoje se fala de Portugal, logo pensamos todos na sua complexidade pluricontinental e multirracial. Aí está justificada, Sr. Presidente e Srs. Deputados, a minha presença no aclaramento desta importantíssima questão: falarei apenas daquela que é a minha terra pelo coração - Moçambique.
Talvez diante de nenhuma outra província portuguesa se abram perspectivas mais rasgadas como para Moçambique. Bem sei que a Natureza foi generosa em dotar de encantos Portugal inteiro. Mas essas terras portuguesas da África oriental possuem atractivos sem par. Mesmo que apenas considerássemos a sua fauna e a sua flora, elas forneceriam já um cartaz turístico de riqueza e variedade incalculáveis: o Parque Nacional da Gorongosa, o mais vasto e rico do Mundo, onde nada há que possa levar-lhe vantagem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - De norte a sul, feras aos milhares povoam os seus tandos, para delícia dos caçadores, que já vão chegando de toda a parte. As suas montanhas e florestas majestosas, os palmares de Quelimane, as inigualáveis plantações de chá do Gurué, as suas primorosas prais, baías e enseadas, como a baía de Porto Amélia (uma das mais belas e opulentas em pesca submarina que se conhecem), Mocímboa da Praia, a ilha de Moçambique (relíquia histórica de um passado sempre vivo), a Beira e o seu acampamento do Macúti, as ilhas do Bazaruto e de Santa Carolina, as risonhas praias Sepúlveda, do Bilene e de Lourenço Marques ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... e o feitiço da cidade, com o jardim florido de Vila Luísa, a um voo, por uma estrada maravilhosa, a estância da Namaacha, com o seu clima reconfortante de altitude, o paraíso verde da Zambézia e as margens impressionantes do lago Niassa, ainda quase desconhecidas - eis aí, em rápida visão, Srs. Deputados, alguns dos nomes do maior relevo, entre tantos outros que igualmente poderiam salientar-se.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas a gente, com os seus costumes, a sua etnografia tão rica e tão variada, e a riqueza incomparável do seu folclore, não oferece menos interesse, li ver a paixão com que estrangeiros dos mais cultos vêm, pela roda do ano, estudar, filmar, guardar as suas manifestações mais representativas. Só os marimbeiros de Zavala bastavam para ilustrar a ternura e a inteligência que nós temos posto em preservar os autênticos valores nativos, eles que são o conjunto acaso mais notável de toda a África negra. O seu nome vale por um símbolo, visto que, sendo embora o mais representativo, se situa na larga e colorida teoria de muitos mais que por lá se conhecem.
Anotemos, ainda, a importância crescente que a arte indígena dia a dia vai tomando, desde o impressionismo para cá. Ora Moçambique possui excelentes escolas de artesanato nativo; e os Macondes são artistas natos, com um sentido estético tão apurado com os Lundas ou os Quiocos de Angola.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas, para o estrangeiro que chega, a maior surpresa, para mais nesta hora tão sombria para o continente africano, encontra-se na harmonia social, cultural, religiosa e artística da nossa presença ali, no milagre permanente da sociedade multirracial, que nós soubemos criar, não esmagando o Negro, mas elevando-o até nós, que primeiro soubemos descer até ele, na inteligência e na fé de civilizadores cristãos, salvando-o e transfigurando a nossa própria visão do Mundo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Temos a rara felicidade de estar rodeados de vizinhos que detêm o padrão de vida mais elevado de todo o continente africano e até já um dos mais prósperos do Mundo. Mas eles, em grande parte fechados no interior, não têm praias nem regiões de belezas naturais como as nossas. Por isso acodem, nas épocas próprias, aos milhares, vindos da União Sul-Africana, das Rodésias, da Suazilândia, ficando semanas e meses, por lá deixando quantidade já muito apreciável de divisas, e