O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

29 DE FEVEREIRO DE 1964 3445

O Sr. Gamboa de Vasconcelos: - Referiu-se V. Ex.ª ao movimento do turismo do norte para o sul e do sul para o norte. Mas se avançarmos para oeste, verificamos, por exemplo, que o arquipélago dos Açores é quase totalmente desconhecido.

O Orador: - V. Ex.ª terá ocasião de verificar que não me esqueci dos Açores. Julgo muito conveniente e até necessário estimular e ajudar materialmente as organizações de excursões e cruzeiros, de forma a facilitar a muitos mais portugueses o conhecimento directo do nosso território continental, insular e ultramarino, para assim mais se fortalecer o amor à Pátria estremecida.
E deste amor à Pátria, desta grande altura espiritual, não desejaria eu descer agora se não julgasse conveniente lembrar também a grave crise que o nosso pequeno comerciante atravessa - algum até arruinado por efeito reflexo do imposto de consumo que profundamente lhe reduziu a clientela - e a quem esse movimento turístico daria certo auxílio e algum alento.
As viagem turísticas ao estrangeiro por meio de cruzeiros em barcos portugueses, também me parece, são dignas de atenção, além do mais pelo que julgo favorecer a nossa própria economia, reduzindo a perda de divisas por motivos de saídas para além-fronteiras.
Sr. Presidente: voltemos agora os olhos para o turismo de fora para dentro.
Há na brilhante exposição do ilustre Subsecretário de Estado da Presidência um silogismo, com proposições tão cristalinas, que por mais que se deseje não se encontra ensejo para qualquer controvérsia bem intencionada.
Refiro-me, é claro, à raiz, aos fundamentos deste surto de turismo que hoje nos bate à porta.
Seria negar a própria realidade posta a nu diante dos olhos não reconhecer na sábia, austera e vertical política de Salazar a razão-base do extraordinário interesse que o nosso país actualmente desperta no seio do turismo mundial.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Paz, ordem, trabalho, serenidade nos espíritos, vida barata, restauro de monumentos, magníficas vias de comunicações, admiráveis melhoramentos urbanos, sedutoras pousadas, sumptuosos hotéis, enfim, toda uma enorme série de atractivos, que juntamos à prodigalidade que a Natureza nos dispensa e a todos encanta e domina, é a lógica consequência da genial política de Salazar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A paz e a ordem voltaram como resultados de uma autoridade reconhecida e respeitada e não imposta.
As forças armadas reconquistaram a dignidade e o prestígio; e a política, apresenta ùnicamente aqueles erros inerentes à não Infalibilidade humana.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os planos de fomento desenvolvem-se em ritmo consolador, não obstante a guerra que nos foi imposta.
E a lembrança de tanta obra monumental realizada leva-me a não perder esta oportunidade para dirigir também um palavra de muito apreço e de verdadeira justiça ao ilustre titular das Obras Públicas, Eng.º Arantes e Oliveira, pela extraordinária colaboração que a este surto de turismo tem prestado com uma excepcional acção de fomento e com uma invulgar dedicação aos municípios, tão frutuosa que já despertou justa celebridade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Do que acabo de expor devo tirar mais um outro conselho: se desejamos manter o ritmo do desenvolvimento turístico que ora se constata, precisamos de, em primeiro lugar, estar bem unidos e ao lado do Governo que criou tão magnífico clima neste país que necessita da colaboração de todos os portugueses para vencer a guerra e prosperar na paz.
Como resultado dessa feliz política oferece a nossa terra, além de muito mais, uma vida baratíssima em relação às outras, e creio que esta particularidade é, depois tia nossa paz interna, o principal atractivo da corrente turística que para nós se dirige e depois se mostra deslumbrada com a descoberta sucessiva de tantos valores materiais e humanos que aqui e além lhe retardam a partida.
E julgo que será optimismo demasiado não considerar fundamental este pormenor e crer que, mesmo sem a vida barata, se venceria a espessura da Espanha que nos separa do resto da Europa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Porque a problemática do custo de vida é muito complexa e dependente de múltiplos factores variáveis e imprevisíveis, não me atrevo a pô-la em equação com o objectivo de se conseguir a estabilidade dos nossos preços, mas penso que é utilíssimo insistir na campanha dos parques de campismo, das estalagens e das pousadas, em prejuízo, se tanto for preciso, do número das grandes e sumptuosas unidades hoteleiras.
É natural que estas garantam mais rentabilidade aos respectivos exploradores, mas as pousadas, com o sóbrio e distinto conforto que oferecem por preços muito razoáveis, são admiráveis motivos atractivos e adaptam-se melhor à vantajosa e equitativa política de difusão turística de que adiante me ocuparei mais largamente.

O Sr. Rocha Cardoso: - Inteiramente verdade.

O Orador: - Sr. Presidente: para mim, uma das maiores virtudes do turismo consiste em servir a fraternidade universal através de um melhor conhecimento, de um conhecimento directo, de todos os homens: dos seus usos, dos seus costumes, dos seus sentimentos, das suas virtudes, do seu ambiente, das suas potencialidades, etc.
Tomo até esta convicção como centro de todas as minhas atenções e sinto bem que ela é o pólo de atracção de todo o meu raciocínio, o ponto convergente de todos os meus passos neste momento.
Devo, no entanto, acrescentar que não confundo este objectivo do turismo com o sentido da etnografia, que também lhe é muito útil. Esta é, essencialmente, uma ciência que tudo quer na sua pureza primitiva para os olhares profundos e atentos dos investigadores, enquanto o turismo implica com a arte de embelezar para melhor deleite espiritual do observador. Daqui se infere que é mister rectificar, corrigir e, sobretudo, educar.
E nestes termos é pertinente reflectir nos benefícios que não se podem colher totalmente das grandes verbas gastas - e muito bem aplicadas -, por exemplo, com valiosíssimas obras em alguns dos nossos postos alfandegários, se a recordação que perdurará no turista é a provocada pelo impertinente papelinho a preencher, pelo pé descalço ou pela rudeza da palavra e do gesto.
Que vantagens colheremos dos dinheiros gastos - e aliás muito bem gastos também - em grandes e sumptuo-