O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

7 DE MARÇO DE 1964 3533

É tempo pois de dar execução ao regulamento, em boa hora publicado, tomando-se o caminho da criação dos organismos mencionados no artigo 22.º, e tratar a sério da fiscalização. Caso contrário, tudo se perderá.
Sr. Presidente: se é evidente a importância que para o desenvolvimento económico do País tem o desenvolvimento turístico do mesmo, há que, sem falta de tempo, nos equiparmos a sério de forma a aproveitarmos convenientemente as riquezas com que Deus nos dotou: uma paisagem cheia de beleza que no Norte do País ganha mais encanto; os usos e costumes da nossa gente, que constituem atractivo natural e, não podemos fugir a dizer, têm no Minho a sua mais álacre expressão, com os seus trajos, as suas romarias e os seus mercados.
A nossa cozinha, que o sabor das nossas avós souberam criar e que o nosso derrancado paladar não tem sabido defender, e com ela, com esses soberbos manjares e com os doces que nos ficaram das receitas dos conventos, os nossos capitosos vinhos.
E ainda e acima de tudo o espírito acolhedor do nosso bom povo, que bem merece por ele façamos tudo o que nos seja possível fazer.
Para isso, para o desenvolvimento turístico que se impõe, há que do Minho ao Sul cobrir de boas estradas e de acolhedores hotéis este país.
Não se hesite em buscar capitais onde os houver, porque a resposta será pronta e francamente compensadora.
Sr. Presidente: para terminar direi que numa intervenção que fiz, já o ano passado, se não estou em erro, teci o meu louvor às belezas do Algarve e recordo-me bem de que defendi então determinadas prioridades para investimentos turísticos no Algarve.
O que defendo e exijo é que o turismo se alargue a todo o País, para bem de todos e como uma das condições necessárias para sermos mais conhecidos e melhor compreendidos.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Teles Grilo: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: hesitei seriamente antes de subir a esta tribuna para fazer algumas breves considerações sobre turismo e assim prestar a minha modestíssima colaboração ao debate em curso.
E hesitei porque, afinal, o nosso ilustre colega avisante, Sr. Dr. Nunes Barata, ao efectivar o seu aviso prévio, fê-lo por maneira tão completa, exaustiva e proficiente que me deixou a impressão de ter dito tudo sobre o assunto, e que assim haveria de constituir pura redundância quanto demais fosse trazido a tal debate.
No entanto, passado que foi o ouramento inicial, logo ponderei que há sempre aspectos locais, particulares de cada região, que forçosamente não puderam ser considerados no magnífico trabalho daquele nosso colega, e que por isso mesmo ofereciam bons ensejes de permitir intervenções sem o risco ou o traço sempre desagradável da repetição.
Eis por que me animei a vir aqui, não para expender altos conceitos sobre as diversas formas de turismo, o seu planeamento e estruturação, a sua política, a sua possível, direcção a um nível ministerial, a sua disciplina e regulamentação, números e estatísticas, comparações com o quê se passa lá fora, para nós sempre tão desagradáveis, etc., nem sequer para fazer críticas e censuras ao que está mal podendo estar melhor, ou verberar entidades, instituições e organismos por atitudes e condutas nem sempre felizes quando equacionadas com os interesses desse mesmo turismo, mas tão-só movido por um insólito propósito, que nem sei bem como irá ser acolhido e compreendido por todos VV. Ex.ªs, a quem, receosamente, vou dar conta dele: é que, dentro de instantes, vou iniciar uma digressão turística ideal por terras de Trás-os-Montes, e sentir-me-ia honrado se VV. Ex.ªs condescendessem em acompanhar-me.
Como o menos que posso garantir é que nenhum se arrependerá de fazer essa viagem imaginária, estou certo de que não me faltarão bons companheiros para a jornada.
De resto, temos agora tempo de viajar, visto não haver mais nenhum aviso prévio para discutir.
Vamos, pois.
Estamos em Setembro, no Porto.
A essa hora matutina fervilha já um ror de gente pelas ruas da cidade a dirigir-se, apressada, aos seus empregos e ocupações.
A capital do Norte começa mais um dia de trabalho, enquanto os nossos carros, sem embaraços no trânsito, vão deslizando por Bonfim, S. Roque da Lameira e Rio Tinto, rumo a setentrião.
A estrada é boa, em paralelepípedos, e como o tráfego se processa em modelares condições, sem bicicletas lado a lado, sem camiões postados a meio da via e soberanamente indiferentes ao desejo ou necessidade de ultrapassagem por parte dos veículos ligeiros, sem o perigo de surgir pela frente, e fora de mão, sobretudo em curvas fechadas, qualquer dementado ás do volante em busca de perfomances e records, sem peões corajosos a atravessar a faixa de rodagem, deliberadamente esquecidos de dar uma olhadela para os lados, enfim, como tudo caminha em boa ordem, a evidenciar que não se torna necessário aumentar os efectivos da Polícia de Viação e Trânsito, breve atingimos Paredes, passamos a sempre gentil Penafiel, e deixamos para trás Amarante, com os seus famosos doces de ovos, começando a subir já o Marão, todo ele deslumbramento feito de verdes e lonjuras, de silêncios, de odores fortes a pinheiro e de paisagens que esmagam de tanto serem belas!
Alguém que segue a meu lado lembra que no Inverno, quando a neve se entretém a cobrir essas lonjuras, o espectáculo oferece aspectos ainda mais surpreendentes.
Marão: algo de diferente a considerar numa rota turística, com ponto de paragem obrigatória na excelente Pousada de S. Gonçalo, agora renovada e aumentada, com mesa farta e variada, quartos confortáveis, serviço isento de reparos, óptimo ambiente, e tudo isto alcandorado lá no alto, num ângulo feliz da serra, a dominar a imponência da paisagem!
Prossigamos, entretanto, que a nossa meta é do Marão para além.
Ultrapassado o Alto de Espinho, que assinala o limite entre os distritos do Porto e Vila Real, somos surpreendidos pelo súbito contraste oferecido por montanhas escalvadas, à espera de arborização florestal adequada, que aliás se iniciou já.
E vamos agora descer em direcção à capital do distrito, a princesa do Marão, a sempre senhoril Vila Real, berço do heróico marinheiro Carvalho Araújo, que na avenida do seu nome tem estátua condigna de justa consagração e homenagem.
Fazemos aqui o primeiro alto, para almoçar.
Nenhuma dificuldade na escolha do local para tomar a nossa refeição. Além de um excelente hotel de 1.ª classe, dotado de todos os requisitos para o impor ao turista exigente, Vila Real dispõe ainda de alguns bons restauran-