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3670 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 146

O Orador: - Procedendo assim, podemos garantir aos nossos irmãos de além-mar que vibramos com eles, e vivemos com eles, todos unidos em volta dos nossos lídimos chefes, as horas que eles estão vivendo.
Andemos depressa, pois branduras e fraquezas podem-nos ser fatais.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Cardoso de Matos: - Sr. Presidente: em tintas de indelével luto registam as nossas efemérides que - faz agora precisamente três anos - o dia 15 de Março de 1961 se ensombrou de infinita tristeza nas almas dos Portugueses, atónitos ante o sopro de insânia que assolou as terras do Norte de Angola, numa onda de terrificante barbárie, de louca e cega violência, de insuspeítado quão injustificado ódio, que imolou a um pérfido ídolo vidas de pacíficos obreiros de uma civilização de tolerância e de bondade.
Três anos se passaram sem que diminuísse de horror a apocalíptica visão de corpos humanos trucidados com selvático e atroz requinte, em meio a campos depredados, casas devastadas e caminhos desventrados - amostras de uma hediondez que desafiou a credulidade e assombrou o Mundo. Imagens de tanta desolação e dor para todo o sempre se fixam na retina de quem, desditosamente, lhes foi presente. Por muito balsâmico que o tempo seja, a vida de um homem não dura o suficiente para que ele se liberte de tão tristes e hórridas recordações.
No desenrolar retrospectivo dessa hecatombe, lembramos os seus primórdios, que poderiam ter servido de aviso a consciências menos tranquilas e confiantes: a insubordinação em Luanda, e as primeiras vítimas entre os mantenedores da ordem pública, traiçoeiramente atacados a coberto da escuridão, surpreendidos em merecido descanso depois do dever cumprido.
Sr. Presidente: que me seja perdoada a pungente recordação de tão dolorosos momentos e relevada a intenção da merecida homenagem que presto a todos os que, na defesa dos ideais que nos transcendem, brutalmente foram subtraídos à vida depois de martirizados - sem motivo e sem razão, mas gloriosamente.
Que o sacrifício não foi inútil, demonstra-o cabalmente o caminho percorrido desde então.

O Sr. Virgílio Cruz: - Muito bem!

O Orador: - Passado o choque inicial, vencida a natural perturbação dos primeiros dias, logo veio o cerrar de fileiras, o irmanar de vontades, o conjunto de esforços para se superarem todas as dificuldades. Reagindo e improvisando onde tudo faltava, o homem simples, o homem pacífico, soube erguer-se à altura dos heróis e impor a razão do seu querer e da sua justiça.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em admirável e abnegada epopeia o pequeno português permanece inflexível no seu destino; mantém-se fiel aos seus antepassados; não ouve os conselhos dos mais fortes e fica tenazmente onde outros fugiriam alarmados. Foi essa coragem, foi esse heroísmo, que tornaram mais rápida a recuperação que se seguiu e o progresso que se fez sentir no caminho da normalização, que todos almejamos e confiamos seja alcançada.
Relembrando esses dias maus, esses tempos mais negros da vida de Angola, presto homenagem aos que nela pereceram, aos que por ela lutaram e lutam, aos que por ela deram e dão o sangue e a vida, aos que por ela se sacrificaram e sacrificam, sem distinção de cores e credos:

A esses bravos civis, que pelas estradas e nas suas fazendas arriscam continuamente a vida;
A esse admirável corpo de voluntários, símbolo de um querer que não esmorece;
Aos nossos bravos soldados, que continuam a escrever páginas de uma história que é o nosso orgulho;
Enfim, a todos os que, servindo o mesmo ideal, unidos na mesma fé de uma Pátria imorredoura e una, se sacrificam, lutam e morrem para que essa Pátria continue.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Armando Cândido: - Sr. Presidente: no dia 15, ou seja no domingo último, foi inaugurado na cidade de S. Leandro, no estado norte-americano da Califórnia, um monumento ao imigrante português. Trabalhado em pedra lioz, por Numidico Bessone, escultor micaelense, o padrão reafirma o talento do ,seu autor. A figura do imigrante é rija e dominadora e recorta-se numa proa altaneira, lembrando essas que desembaraçaram as distâncias de enigmas terríveis.
Notável simbolismo este, que exprime a tenaz generosidade do nosso povo.
Faltava a legenda. Uma nação que possui Os dispõe de um tesouro de legendas:

Eram de várias terras conduzidos,
Deixando a Pátria amada e próprios lares.

Na quarta parte nova os campos ara;
E, se mais mundo houvera, lá chegara.

Não poderiam ter escolhido melhor. A palavra de Camões é a voz de um crédito inesgotável. Tanto, que nada mais seria preciso acrescentar se a homenagem prestada ao imigrante português na América do Norte, além da sublimidade que a distingue, não tivesse, neste momento, um especial significado.
Afeito à sucessão de horizontes na caminhada para os horizontes que a sua ânsia busca, o Português, esteja onde estiver, exemplifica a virtude de conviver e trabalhar em paz. Mas existem ainda norte-americanos que teimam em não reconhecer essa virtude e a legitimidade dos direitos dela emergentes. Pior ainda se atentarmos na sua visão prejudicada por ideias utópicas acerca da liberdade e independência dos povos, que julgam poder ser objecto de artificialismos criadores, ou simplesmente pautados à régua e a cálculo por interesses antitéticos das realidades, e se repararmos em que os Estados Unidos da América, através da sua política externa, estão adensando à sua volta uma chusma de inimigos potenciais, que no instante decisivo lhes negarão o seu apoio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Valerá, pois, aproveitar todos os ensejos para mostrar a nossa verdade, acontecendo mesmo que nem sequer necessitamos agora de chamar a atenção para as características do nosso todo nacional.

Vozes: - Muito bem!