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9 DE NOVEMBRO DE 1967 1681

ambiente de responsabilidade consciente e vivida, com a naturalidade própria de quem se devota a uma causa - de que não conhecemos excepções -, dizia, de quem se devota a uma causa não sua, mas bem mais importante - da Nação.
Na verdade, vivemos horas altas de lusitanidade, desde o verificado no ambiente austero do Palácio da Ponta Vermelha até às zonas mais longínquas que visitámos - Tete, Metangula, Monte Puez, Porto Amélia, etc.
O denso, mas bem elaborado, programa que as entidades responsáveis nos prepararam, e que pôs à prova a nossa resistência física, abrangia muitos dos aspectos fundamentais, de modo a tomarmos contacto com o considerado essencial para a vida e progresso daquela província, tanto no sentido económico como no cultural, turístico, social e militar.
Ante a impossibilidade de me permitir, com o maior desenvolvimento possível, dar conta a V. Ex.ª, Sr. Presidente, e a esta Câmara, daquilo que mais poderia interessar - em boa verdade tudo interessa -, corria o risco de me alongar demasiado e maçar VV. Ex.ªs
Sei que estava no pensamento de alguns colegas virem aqui transmitir a VV. Ex.ªs as suas impressões desta viagem e, por isso, circunscreverei as minhas considerações, tanto quanto possível, e alguns aspectos ligados com o fomento e o povoamento da província.
Antes de prosseguir, quero deixar aqui bem expressa a forte impressão que me deixaram os contactos que tive com os comandos de terra, mar e ar, que, numa descrição meticulosa e exaustiva da guerra que nos é imposta do exterior, me deram uma visão séria das suas causas e implicações de ordem psicológica, económica, política e táctica.
Quando percorri a longa frente, que vai do lago Niassa à foz do Rovuma, não sei que mais salientar - se o calor da recepção que nos prestaram as populações nativas, com o garrido dos seus trajos e danças, se a alegria transbordante que a nossa presença despertou nos homens dos acampamentos militares que visitámos. E com que emoção recolhemos os depoimentos dos homens mais directamente responsáveis por esse sector operacional, depoimentos impregnados de conhecimento seguro da tarefa a cumprir e serena consciência daquilo que a Nação deles espera - o cumprimento do dever.
O espírito de sacrifício dos homens empenhados no apaziguamento e recuperação das populações nativas é qualquer coisa de notável. Heroísmo e simplicidade quase se banalizam no dia a dia, de que poderemos citar, entre muitos, o caso de que quase fomos testemunhas: citarei o que se passou com uma coluna militar que em missão de reabastecimento se deslocou a Valadim. No regresso à base, esta coluna detecta e «desarma uma porção de minas de elevado poder mortífero traiçoeiramente colocadas na estrada. No fim da missão de que estavam incumbidos, fora da zona que exigia maiores precauções e já próximo do quartel a que recolhiam, descontraídos, alegres e conscientes do dever cumprido, os componentes daquela coluna, esquecendo, sem dúvida, as instruções recebidas e dando largas à sua imaginação, colocam na viatura da frente um letreiro de razoável dimensão, com o seguinte dístico: «Os Mineiros de Valadim.»
São assim os nossos homens, que bem merecem da Pátria. Glória aos nossos soldados!
Foi na visita aos centros vitais do Norte - objectivo número um do terrorismo - que mais se consolidaram os nossos sentimentos de confiança. Civis o militares, todos irmanados de vontade firme, suprindo faltas de diversa natureza, vencendo mil dificuldades, sem olhar a sacrifícios, pedem mais meios para dar pleno cumprimento à sua acção específica.
Por exemplo, manifestaram-me tanto empenho no pedido de mais helicópteros como no envio de mais maquinismos e pessoal técnico com o fim de completar os planos de reordenamento agrário.
Neste aspecto, através do que já foi realizado em Cabo Delgado, os resultados práticos são espectaculares, pois têm demonstrado constituir a mais profícua forma de elevar o nível de vida das populações autóctones e, também, mais um motivo de as mantermos voluntariamente mais ligadas ao nosso convívio, porque lhes proporcionamos valiosos apoios económicos e sociais que são aplicados em seu directo proveito, sem esquecer apropriados meios de defesa contra as agressões do inimigo.
Os planos para uma criteriosa e sistemática reordenação rural, em meu modesto entender, encerram interesse da maior transcendência, por constituírem, em relação ao futuro, o antídoto que contraria profundamente os grandes objectivos que norteiam a acção do inimigo, com a vantagem de proporcionarem a sua mais rápida promoção.
Tem, de facto, constituído autêntico êxito o agrupamento das populações nativas- em espírito de colaboração com as autoridades e na- presença de vantagens imediatas, que vão desde a escola à exploração de melhores terrenos, já arroteados, tecnicamente assistidos e com garantia de remuneração para as culturas bases (por exemplo algodão) e com preço igual ou superior ao praticado nos países situados para além do Rovuma. Enfim, um conjunto de acções, justificando trabalho de planificação pela amplitude que já alcançou, que está proporcionando apoios técnicos, económicos e sociais que os autóctones jamais poderiam usufruir quando espalhados em caprichosa irregularidade, praticando a chamada agricultura itinerante, que está nas suas tradições e com muito baixa produtividade.
Parece-mos de admitir que a transformação da agricultura itinerante em agricultura empresarial se vai processar a ritmo cada vez mais rápido. No entanto, julgo que se impõe, se não é que existem dispersas por variadíssimos diplomas, despachos, circulares, etc., um conjunto de medidas de carácter técnico, económico e legislativo que consolidem toda- a obra já realizada o lhe dêem uma estrutura duradoura.
Este trabalho de reordenamento rural quase se pode classificar de verdadeiro serviço de colonização interna, transplantado para África e, portanto, sob factores diferentes dos verificados- na metrópole. As potencialidades já reconhecidas dão-nos uma ideia das espantosas possibilidades existentes. A inventariação dos recursos, levada a efeito pela Missão do Vale do Zambeze e pena é que não tenham sido constituídas outras missões para, nos mesmos moldes, actuarem noutras bacias hidrográficas -, abre perspectivas que excedem tudo quanto a nossa imaginação concebera. Devidamente programado, pareceu-nos que todo o trabalho realizado permitirá avaliar, com bastante aproximação, os meios financeiros, técnicos e humanos, próprios e alheios, que será necessário mobilizar para explorar os recursos energéticos, mineiros, silvícolas, pecuários e agrícolas cujo aproveitamento oferece condições absolutamente excepcionais.
O empreendimento de Cabora Bassa constituirá a mola impulsionadora que, a curto prazo, porá em marcha um espectacular desenvolvimento económico. Este empreendimento, só por si, permite a produção anual de energia