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30 DE NOVEMBRO DE 1967 1913

com o director deste jornal, quando ali foi formular pessoalmente o pedido, esclarecendo a necessidade vital dos livros para as crianças de hoje e homens portugueses de amanhã.
A presença deste jornal lusitano em terras canadienses é também uma prova de que alguma coisa está a ser feita no apoio ao portuguesismo dos colonos em terras alheias. Aliás, no projecto do III Plano de Fomento diz-se estar na preocupação do Ministério da Educação Nacional a cobertura e intensificação da assistência cultural e escolar às comunidades portuguesas que vivem noutros países.
Uma preocupação sempre é melhor que uma indiferença ...
A tarefa, porém, de levar a língua portuguesa aonde portugueses a podem falar cresce de importância e de acuidade quando se encaram os territórios africanos. Muitos de nós tivemos ocasião de verificar quão mal se fala ali o português ou como o desconhecem. Ao caso se referiu ainda há pouco o Sr. Ministro do Ultramar, com a autoridade que tem, recomendando acção profunda e intensiva.
Mas, Sr. Presidente, e Srs. Deputados, do que eu vinha a falar hoje era do que se passa na metrópole, onde os meios audiovisuais, considerados hoje como poderosa ferramenta didáctica, estão a actuar, infalivelmente, sobre o modo de ser e o linguajar da gente portuguesa. Refiro-me em especial, ao cinema e à televisão.
Vai de mal a pior, em quantidade, a nossa produção cinematográfica. De extremo a extremo de Portugal, o que se passa, pois, nos panos brancos dos cinemas é importado por larga soma de divisas, sobretudo da América. Todas as noites, milhares de portugueses se sentam em salas escuras a ouvir falar estrangeiro. Todas as noites, mais milhares de portugueses assistem pela televisão à passagem de filmes em fala estrangeira. Pior que o cinema, é a televisão.
Ela chega às pequenas aldeias, onde o índice de alfabetização não é famoso, com muita projecção falada em estrangeiro, obrigando à. leitura rápida de legendas minúsculas, que, por isso, nem sempre são lidas totalmente. Então, se a legenda é já, pela própria linguagem cinematográfica e por esforço do tradutor, frase descarnada de atavios, estilo sintético de telegrama, lida incompleta ou lida depressa é sucessão de palavras cujo sentido se adivinha pelos gestos, e por isso mais vale abandoná-la, a perder a riqueza de pormenores da representação. Quantas vezes, no cinema, mesmo os que lêem depressa, não abandonam a leitura para se aterem ao jogo fisionómico dos artistas, ao cuidado da encenação? Estou mesmo em crer que muita da crítica severa que se faz aos filmes portugueses resulta da possibilidade, que eles dão, por não obrigarem a leitura de legendas, de tudo neles se poder observar, desde o rigor da representação à arte da montagem. Assim como crente estou de que muita da crítica que se faz à deficiente sonorização dos filmes portugueses é mais resultante de uma aparelhagem de reprodução afinada para tonalidades estrangeiras do que de má captação de som ou técnicos pouco experientes.
O problema da dobragem dos filmes há muito que é debatido entre nós, com argumentação válida de parte a parte. Não lhe trago aqui novidade nenhuma, nem sequer o exemplo do que se passa em Espanha, onde tudo é dobrado. Ponho-o, porém, nesta Assembleia, por um sentido de responsabilidade a que me arrogo como professor e como político, para além das relações humanas do dia a dia. Não seria, aliás, lógico comigo mesmo se, defendendo o ensino da língua portuguesa além-fronteiras e a sua consolidação no ultramar, o viesse a desprezar aqui ao pé da porta. Ao menos que a TV dobre os seus filmes, já que contra as empresas distribuidoras não, há altos poderes que possam levantar-se.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei relativa à elaboração e execução do III Plano de Fomento.
Tem a palavra o Sr. Deputado Cazal Ribeiro.

O Sr. Cazal Ribeiro: - Sr. Presidente: E de tal forma vasto o campo de apreciação que resulta de uma análise, mesmo sucinta, do III Plano de Fomento que julgo caber no pormenor da discussão um problema que, embora constituindo apenas uma parcela do diploma em referência, merece, mesmo assim, que sobre ele nos debrucemos, embora tão resumidamente quanto possível. Refiro-me aos capítulos em que se trata do plano rodoviário, quer u escala nacional, quer à regional.
Insistentemente, cada vez mais insistentemente, se ouve clamar, em todo o País e em todo o Mundo, contra o aumento assustador dos acidentes de viação, que ceifam impiedosamente milhares de vidas e causam incalculáveis prejuízos de toda a ordem. Muitas poderão ser as medidas a tomar no sentido de minorar o caos em que vivemos, e em todos os sectores, públicos e privados, é evidente o desejo de se unirem os esforços despendidos a fim de se obter aquilo que, ao fim e ao cabo, é o natural anseio de todos.
Por mim, por mais de uma ocasião,, e em várias circunstâncias, tenho, dentro da minha limitada capacidade, tentado contribuir para o esclarecimento de uma situação que, sem querer dramatizar, é excessivamente grave para não preocupar todos quantos, possíveis intervenientes ou simples espectadores, acompanham mais de perto tão importante problema, cuja extensão seria inconsciência ignorar e grande erro minimizar.
Estas palavras ligam-se, como acima referi, com o III Plano de Fomento, porquanto será preciso analisar II utilização das verbas destinadas às estradas nacionais e à viação rural, referidas nos capítulos IV e V do 2.º volume do aludido e importantíssimo documento, o qual foi concebido para um período de seis anos e funcionará como instrumento de programação global do desenvolvimento económico e do progresso social do País.
Ora não se ignora, não pode, nem deve, ignorar-se, que é justamente o estado em que se encontram certas estradas uma das causas mais relevantes dos acidentes de que resulta a perda de vidas e de bens que urge estancar, e a que me referi no preâmbulo desta minha intervenção. E evidente que a rede rodoviária nacional, bem como as estradas rurais, não acompanhou, quanto à quilometragem construída, renovamento de certos troços ou respectiva conservação, o extraordinário surto registado no parque automóvel nacional, nem o aumento de tonelagem de alguns veículos em circulação. E, repito, muito embora o problema não seja apenas nosso, e não devamos ignorar o facto para que o assunto seja visto com inteira objectividade, interessa-nos principalmente que o que a