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7 DE FEVEREIRO DE 1968 2383

Acima de tudo, uma pedagogia convergente e valorizadora dos indivíduos e da Nação. O Estado não pode pagar a quem não sirva lealmente a sua pátria ou não respeite a consciência das famílias.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Na fidelidade aos valores humanos e nacionais, todos nós podemos dar as mãos para servir a maravilhosa juventude de Portugal, uma das mais sãs do planeta, e construir com ela um futuro digno do nosso passado e dos seus sacrifícios no presente. Ninguém melhor que ela saberá estar vigilante, para que se não frustrem tantas e tão fundadas esperanças. Ainda há dias. em Lisboa-Espaço, ela, a juventude, preconizava um ensino virado para a utilidade social e para o futuro, com programas de qualidade e não de quantidade. E conjugava ali os verbos escolher, suprimir, limpar e integrar, para, estruturar um ensino actualizado, que habilite os homens a aprender ao longo da vida e não pretenda fabricar sábios completos e definitivos, de empreitada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Só as palavras são minhas, as sugestões são da juventude, e eu estou de acordo com elas. Numa palavra, um ensino válido para a vida, a partir dela, para ela, que arme e não desarme os espíritos, tornando-os capazes de aprender e de filtrar a verdade, mais seguros em discernir, mais corajosos para realizar, menos copiógrafos e repetidores e mais investigadores. A juventude sabe o caminho, aponta-o e confia-nos responsáveis pelas decisões a tomar. E o País precisa desse ensino novo, que forme homens novos, aptos a participar na construção do mundo novo, a cumprir os seus deveres e a exercer os seus direitos, a obedecer e a mandar, servindo e realizando-se no plano da história e na perspectiva da transcendência, que é sua vocação. Tais homens não se fabricam dentro de moldes, em série, só com a didáctica e a técnica, a margem do esforço pessoal e da ética. Mas não se espere que a cadeira da Moral faça milagres. Corrijam-se as deficiências do seu condicionalismo, aperfeiçoem-se os métodos, seleccionem-se e valorizem-se os professores cada vez mais. Porém, a sua eficiência poderá ainda ser insuficiente, reduzida e até anulada, .se não houver a indispensável convergência, ao menos negativa, entre a Moral e as outras cadeiras, entre todos os professores e entre professores e alunos, como entre as escolas e as famílias.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quanto aos alunos, como Roberto de Sorbon, capelão de S. Luís e fundador da Sorbona, aos estudantes do seu famoso colégio, receito: trabalho, emprego ordenado do tempo, atenção concentrada, tomar notas, discutir com os colegas as lições ouvidas e oração... espiritualidade, inseparável de autêntico humanismo, fonte de dignidade e condição de liberdade.
Urge tomar medidas... Quando a história andava de liteira, tínhamos reformas do ensino umas em cima das outras. Agora, que ela anda de jacto, fazem-se longas... demasiado longas experiências... Já se perdeu muito e precioso tempo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. António Cruz: - Sr. Presidente: A não haver outras razões que bem justificassem o aviso prévio do ilustre Deputado Dr. Martinho Vaz Pires sobre o ensino liceal, bastaria referir, em ordem a avaliar da sua oportunidade, o interesse que ele despertou da parte dos educadores, dos pais e de todos os que sinceramente se debruçam sobre os problemas da instrução e da formação da juventude. Tanto corresponderá a dizer que se deseja algo de novo, ambicionando-se, compreensivelmente, que sejam postos em equação problemas que não são apenas dos nossos dias, porque exigem soluções apontadas para o futuro.
Pretende-se que as mesmas e necessárias soluções venham a inserir-se no contexto de uma reforma que se exprima em termos adequados às exigências do nosso tempo - e logo, por isso mesmo, uma reforma em extensão e em profundidade. Será de perguntar: como empreendê-la e como executá-la?
E à escala portuguesa que essa reforma tem de ser encarada. E não apenas sujeita à contingência das possibilidades de ordem económica, se a queremos aferida por essa escala. Mas sujeita, isso sim, às exigências de uma formação tendente a impor o homem português, destacado pelo seu saber e também, ou sobretudo, pelo seu carácter.
O saber e a experiência de ilustres colegas nossos trouxeram já ao debate opinião válida, em todo o pormenor que toca de perto com a reforma de programas de ensino e a preparação de professores. Sublinhou-se, e bem, que esses programas, do ponto de vista científico, nem sempre correspondem às necessidades imediatas e às realidades do nosso tempo. Como não satisfazem, acrescentemos nós, às exigências da doutrina que informa toda a vida nacional e dos altos ideais que dela promanam, pelo que diz respeito à preparação dos nossos jovens. Adivinho uma pergunta:
E será esse um problema a inserir-se apenas no contexto do ensino liceal?
Na realidade, não se trata de problema exclusivo do ensino liceal, porque o é também do ensino técnico ou, até, do universitário, posto que a revestir-se aí de outros aspectos. Porém, o que hoje se debate é tudo quanto diz respeito ao ensino liceal, pelo que seria descabido trazer agora para aqui uma reflexão sobre matéria estranha. Tanto me dispensa, por isso, de considerações que desejaria fazer, limitando-me o campo de apreciação.
Com objectividade e clareza, o Dr. Martinho Vaz Pires focou no pormenor tudo o que importa fazer para atingir a desejada actualização do ensino liceal. Nem um só aspecto escapou à sua observação, desde a necessidade de reformar os programas adoptados até a preparação do corpo docente dos liceus. O pedagogo deixou o testemunho de uma experiência, o pai não calou os seus anseios, o homem atento às realidades não escondeu os receios que devem afligir-nos a todos.
Quem viva na cómoda posição do alheamento ou da ignorância, em relação aos mesmos anseios, às mesmas realidades e aos mesmos receios, poderá ter sido colhido de surpresa, quando soube da dificuldade que há de recrutar professores, devidamente preparados, para o ensino médio e quando soube também que os programas do mesmo ensino não estão adaptados às exigências do nosso tempo e não são adequados às possibilidades dos alunos a quem se destinam. Mas não foi colhido de surpresa quem vive, dia a dia para as tarefas da docência ou se mantém atento a tudo quanto interessa ao verdadeiro desenvolvimento da vida portuguesa e à defesa do património moral da Nação.