2380 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 131
Política. As Biológicas, Físico-Químicas e Mineralógicas, cujas leis e factos sugerem naturalmente caminhos de espiritualidade, são susceptíveis de se converterem em cursos de materialismo. E, se os textos tiverem sido elaborados tendenciosamente, a tarefa resultará simplificada. A Filosofia, por natureza alicerce racional das grandes certezas e valores da vida, pode converter-se em fábrica de cépticos, agnósticos ou negadores sistemáticos. Com a Literatura e um pouco de habilidade não é difícil montar um laboratório para manipular cérebros e almas jovens e inexperientes em sentido negativo e desumanizante, desviando-se, aliás, do plano estético para o ideológico. A história foi sempre a «mestra da vida» do homem de sempre. Não duvido ... Até o homem da caverna contava aos filhos a história sua e da família, transmitindo-lhes a sua experiência e a dos maiores. Sem a história não. se conhece a pátria, família de famílias. E não se pode amar o que não se conhece. E a Rússia aproveita, como ela sabe, as lições desta mestra para os seus objectivos. Qualquer desinteresse pelos aspectos éticos do ensino terá incalculáveis consequências.
O homem não nasce anjo, como deliberou Rousseau, nem monstro derrancado, como sentiu Lutero e negou Pascal e a consciência da humanidade recusa aceitar. Aquele jovem infeliz e assassino, de quem apeteceria dizer, como Cristo de Judas, que era melhor não ter nascido ... não é o monstro de nascimento. Atribui a responsabilidade do seu crime à desordem familiar. Sem admitir como fundada a acusação na sua totalidade, porque os pais não são os únicos responsáveis, pois não são os únicos educadores, aceito que a recriminação tenha validade parcial. Com efeito, é mais elevado o índice de criminalidade entre os filhos de famílias destroçadas ou mal constituídas. Porém, ao lado dos pais actuam, positiva ou negativamente, outros familiares, criados, vizinhos do prédio e rua, escola, meios de comunicação e a própria lei, nem sempre eficaz, por inobjectiva, na defesa dos lares.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Por melhor que se forme na família e na escola, os seus abjectivos podem ser anulados por um degradante marcantilismo cultural. Na era das democracias, proclama-se, em actos, por esse mundo além a realeza do dinheiro, sacrificando-lhe, o maior bem das repúblicas, a juventude. Perora-se contra a escravatura, mas mercadeja-se com a inocência e a juventude das nações.
Uma escola não pode, razoàvelmente, enjeitar as suas responsabilidades, se consente e até promove um relativismo doutrinal que nega a verdade e reduz a ciência à história e a história à opinião ... e identifica a moral com o arbítrio, a circunstância ou situação, nada se lhe dando da natureza do objecto ou acto, nem da razão. É fácil pais e filhos concluírem que não há valores permanentes, propendendo os segundos a supor ultrapassados os primeiros e aceitando estes o veredicto daqueles. E em muitos lares já parece considerar-se normal que os filhos eduquem os pais, pois lhes marcam as balizas e os rumos das suas tarefas educativas. Parece que a própria filiação estará condenada, por implicar uma dependência paternalista, insuportável ...
A doutrina está apenas indicada (direi até melhor: matéria, e não doutrina), não definida, nos programas. A definição vem-lhe dos compêndios. E estes, infelizmente, não têm sido sempre exemplares, no plano da isenção ideológica. E frequente deformarem as realidades, num sentido demolidor dos valores nacionais e universais. Alguns, de Literatura, insinuam que os poderes do Papa não procedem de Cristo, mas do imperador dos Romanos (que terá, pergunto, a literatura com o bispo de Roma?); que as ordens mendicantes foram impulsionadas pelo comércio e vida comunal; para negar as raízes cristãs da Nação, aludem aos fabricados factores democráticos na formação de Portugal; ensinam que, antes de Fernão Lopes, não havia literatura portuguesa, porque não era anticastelhana, reduzindo a literatura à luta política. E as incongruências continuam, no empenho de derrubar figuras nacionais: o Mestre de Avis é uma mediocridade; Zurara exalta o Infante, em prejuízo da Nação; as razões cristãs dos descobrimentos eram ideologia oficial, divorciada da Nação; a exploração económica do ultramar consistiu na apropriação dos beis dos países submetidos; a luta em Marrocos foi uma guerra de conquista; Bernardim Ribeiro é novelista do inconformismo e negador da vida do além; Gil Vicente integra-se na linha ideológica de Lutero; Lutero combate a venda (não se faz por menos) de indulgências; o pecado é o interesse pelas coisas da terra; Sá de Miranda protesta contra uma situação social e ataca a propriedade privada, a tender para um comunitarismo sem teu nem meu; António Ferreira faz da razão o único critério do comportamento humano; Camões, no seu poema, desenvolveu lugares-comuns, fez da história de Portugal uma sanguinosa guerra e tinha mentalidade històricamente improgressiva; a admiração pelo feito aeronáutico do Pe. Lourenço de Gusmão é prova do atraso de Portugal. Como contraste, apresento o depoimento de Eugênio d'Ors, um estrangeiro:
De Portugal, com efeito, provém metade da nossa história espiritual. Que digo? Da nossa? De toda a história europeia. Disse, muitas vezes, que neste composto que tem o nome de cultura a Europa apenas apresenta, segundo uma análise rigorosa, dois corpos simples: Grécia e Portugal.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Dos compêndios de História também não direi mais que amostras. Um diz que o homem apareceu ria terra, tinha a mão menos adestrada, o cérebro menos complexo, e que a sua ideia da imortalidade derivou a ilusão, alienação ou transferência, apresentando a religião como produto político-económico-social: um eco do sociologismo de Comte, Marx e Durkheim. Os doze volumes de VV. Schmit mostram quanto está ultrapassada e foi efémera a moda destas modernas e já recessas teorias. E, em parêntese, uma pergunta inocente: como se sabem aqueles pormenores relativos aos primeiros homens, ignorando a ciência como apareceu no planeta? E faço uma segunda interrogação: por que não se alude à criação do homem?... Não será a Revelação um facto histórico e a Bíblia uma preciosa e monumental fonte histórica, cada vez mais confirmada por fontes profanas e coevas, reveladas pela arqueologia?
No mesmo compêndio sugere-se que a Divindade nasceu da ignorância, que o monoteísmo resulta de uma evolução (também aqui em oposição com os dados da ciência antropo-etnológica, acumulados nos já citados doze volumes de VV. Schmit). Apresenta Cristo aos alunos, dizendo que apareceu no tempo de Augusto, sem alusão à encarnação, e a conversão de Constantino como fruto de uma estratégia política, sem qualquer base documental ou circunstancial, apoiada no contexto histórico, e não como metanoia resultante da acção da graça, cujo sinal exterior, apontado por Eusébio de Cesareia na sua História, foi o episódio do Labarum, durante a batalha da Ponte Mil via. Os Papas consideram-se sucessores de S. Pedro, o monaquismo é produto do infortúnio social e anseio