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9 DE FEVEREIRO DE 1968 2405

Numa natural sequência, aos programas seguem-se os livros e compêndios escolares, os quais enfermam do mesmo mal, e, porque por eles se guiam os professores e se orientam os alunos, poder-se-á afirmar que são os autores desses compêndios os verdadeiros orientadores da acção educativa dos nossos jovens liceais. Sobrecarregados de matéria exposta em linguagem pouco acessível, normalmente os livros não correspondem a um ensino moderno e em conformidade com as necessidades de coordenação que deve presidir aos actos de educação. Vemos por exemplo dar-se num livro excessiva importância a certa parte da matéria em determinada disciplina, enquanto naquela de que especificamente faz parte tal assunto é tratado superficialmente, porque não tem o valor que ali se julgava importante. Tudo isto que se verifica, quer através dos compêndios, quer ainda pela forma como os assuntos são desenvolvidos durante as aulas, mais não é do que mera consequência da falta de coordenação das actividades dos professores dentro dos liceus, ou, aqui com mais importância, pela falta de coordenação que presidiu aos trabalhos de elaborarão dos programas.
Hoje, o professor interessado, a fim de proporcionar aos seus alunos os conhecimentos novos que o interesse e o seu saber obtiveram, procede por adição, tornando-se os livros desta maneira, acrescentados pelos apontamentos verdadeiros monumentos em quantidade de saber, passando assim a ser para determinados alunos obras de arte que se respeitam e não se devem tocar. Parece-me de absoluta necessidade aligeirar os programas existentes para o que hoje constitui o 2.º ciclo, que é a base do ensino liceal e talvez encarar a necessidade de agrupar determinadas disciplinas de modo a serem dadas pelo mesmo professor, que desta maneira garantiria a unidade indispensável ao processo educativo.
Não seria possível, por exemplo, estabelecer uma certa ligação entre a literatura e a história, ou até entre estas disciplinas e a geografia, de modo a possibilitar, o mesmo professor a fazer no ensino a síntese dos conhecimentos destas disciplinas no sentido de uma mais real identidade entre os interesses e as vantagens que resultam para o homem do seu conhecimento? E se algum estudo mais profundo for considerado necessário, ele viria no último ciclo, onde uma mais ampla diversificação por alíneas no sentido de especialização eliminaria o supérfluo e aumentaria o essencial.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pôr-se-á então a questão: qual deverá ser e como determinar o conteúdo dos programas adequados à formação dos homens de que a sociedade de amanhã virá a ter necessidade?
A solução desta questão só poderá ser encontrada, julgo, num trabalho de equipa entre educadores, sociólogos e psicólogos, os quais deverão trabalhar em conjunto na organização dos programas escolares. De qualquer modo, com um só professor para cada grupo, ou com mais de um professor para cada grupo, parece-me que seria da maior conveniência estabelecer certa ligação entre as disciplinas que o constituem, de forma a possibilitar as sínteses que viriam a constituir efectivamente a resposta indispensável e útil à necessidade de saber dos alunos e ao interesse.
E, por esta razão, justifica-se da maior conveniência a criação de gabinetes de coordenação de actividades e de relações humanas dentro dos liceus, que teriam como função não só estabelecer o intercâmbio de opiniões e actividades entre os professores, como ainda a de criar as condições de relações professor-aluno tão úteis à formação de um ambiente propício ao desenvolvimento de um trabalho sério de educação dos jovens, tendo em vista a sua futura integração na sociedade.
Naturalmente que estes factos sugerem a modificação dos métodos e das estruturas, de forma a dar ao professor do ensino liceal a possibilidade de estar mais em contacto com os seus alunos, conhecendo-os, desenvolvendo um ensino de relação que permita ao aluno conhecer-se e avaliar as suas potencialidades. Com a diferenciação que resultará do trabalho de educação processado no ciclo preparatório, ao ensino liceal virão a ser admitidos os alunos que, de qualquer maneira, tenham revelado tendências especiais, ou interesse normal, para as especializações no campo dás ciências humanas, matemáticas ou naturais, o que pressupõe ainda mais a necessidade de conduzir e orientar o ensino sob o aspecto que aqui deixo apontado.
Certos pedagogos pensam que a função natural que compete à maior parte dos; estudantes é menos escutar para reflectir do que agir para reflectir, o que quer dizer que os estudantes do ensino primário e secundário terão de viver um mundo concreto, tanto mais que apenas a partir dos 16 anos é que o jovem encontra em si maiores possibilidades de abstracções e especulações teóricas. No dizer de Dodisson:

Estar frustrado é, com meios normais, não ter encontrado em volta de si o apoio necessário e em si mesmo ,a confiança suficiente para ter interesse, gosto, paciência para se abrir para um mundo de conhecimentos cuja maior parte parece sem ligação com a realidade vivida em cada dia e sem abertura para o dia seguinte. A repulsa dos adolescentes em relação às disciplinas escolares pode ser vencida desde que, através das actividades mais variadas, lhes seja oferecida a oportunidade de se valorizarem, de tomarem consciência de si como indivíduos autónomos e responsáveis.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Desta maneira se deduz que a aprendizagem se não deve fazer através de um ensino de aspecto geral servido de exemplos ou experiências colhidos na vida, mas sim com base numa vida profissional, que necessita para o seu desenvolvimento do Português, do Francês, da Matemática, etc.
Para melhor concretização deste meu ponto de vista direi, com Schwartz, que a instrução não deverá ser nem unicamente abstracta, nem unicamente concreta, nem, consequentemente, unicamente teórica ou prática. Ela deverá partir do trabalho- diário para atingir a cultura, retomar a experiência quotidiana para se expandir u alargar o campo dos conhecimentos, sempre com a finalidade de abrir a visão, permitindo a cada um adaptar-se melhor a toda a transformação.
Mas para a realização deste plano resulta como evidente que não é possível conseguir-se essa finalidade sem que o problema da constituição numérica das turmas esteja resolvido. Tendo um professor diante de si 38 a 40 alunos para cada turma, número que se multiplica segundo a quantidade de turmas de que está encarregado, dificilmente lhe será possível estabelecer os contactos e os conhecimentos individuais que lhe permitam um trabalho de relação que origine a transferência de simpatia indispensável ao clima ideal no sentido da formação da juventude que nos dias de hoje é cometido à escola. Dada, porém, a carência de edifícios, uma solução se impõe - o aproveitamento em pleno dos edi-