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21 DE FEVEREIRO DE 1968 2479

menos qualificados, que partiram acalentados pela aventura de ganhos fáceis o regressaram decepcionados pelo insucesso.

O melhor mecanismo de atracção ao retorno será sempre, na metrópole ou no ultramar, a oferta de um emprego que permitiu um nível de remunerarão semelhante no recebido no estrangeiro (cf. a publicação da O. C. D. E., Les traecallears émuiréx rtornaut daurx pays. 1967).

Terão, por outro lado, muitos dos nossos polires beirões ou transmontanos adquirido efectivamente nos países de destino uma notória promoção profissional.

Em 1964 apenas 14 por cento dos emigrantes turcos na Alemanha e 8 por cento dos gregos possuíam um emprego qualificado. À maioria exigia-se apenas um esforço físico, uma saúde robusta e endurecida.

A passagem da mão-de-obra agrícola no estádio industrial e a sua progressiva promoção dentro deste sector não é isenta de dificuldades (ef. H. Krier. Main-d'acacre rural et diveloppement industriel. O. C. D. E. 1961; O. C. . . "Séminaire international núxte de Wiesba-den", Adaptation des tracaillcars ruraux et étragers à Finulustrie, l965). Muitas vezos n repatriamento dos trabalhadores sem melhoria de habilitações profissionais e sem estruturas económicos de acolhimento acabará por engrossar o sector dos pequenos comerciantes parasitários ou até, a lista dos candidatas a contínuos . . .

Sr. Presidente: Ao tratar o problema, da emigração devemos. acima de tudo, ter presente que o emigrante é um ser humano.

A recente "Pastoral colectiva do episcopado português" (cf. a imprensa diária de 22 de Dezembro de 1967), para lá da consideração dos problemas fundamentais do fenómeno migratório, põe a nu o drama dos que. emigram clandestinamente, aponta medidas indispensáveis paru prevenir os perigos inerentes à emigrarão, com o estabelecimento de um plano nacional, e anuncia a, criarão do servido católico da emigração.

A oportunidade em atender aos problemas humanos e sociais da nossa emigração justifica particular referência à emigração clandestina para França.

Segundo estimativas, a emigração clandestina para França deve ter sido, no período de l961 a 1966, de cerca de 150 000 indivíduos. Ora boa parte da história de cada um destes nossos irmãos, se fosse possível aqui reproduzi-la, não poderia ser senão deferosíssima:

[Início da tabela]
Emigrantes portuguesa para a França
[Fim da tabela]

Fonte: Revista Análise Social n.º 18.

A revista francesa Population, no seu número de Maio/ Junho de 1966, refere a nossa emigração clandestina (fundamentando-se em elementos do caderno n.º 105) da publicação Hommes et Migratioux}.

Reproduzo algumas afirmações:

Põe-se em evidência a importância crescente da emigrarão clandestina: 25 por cento dos emigrantes em 158 44 por cento em 1960 e 65 por cento em 1963.

Segundo sondagem efectuada, em Marco de 1965, no departamento do Sena, a percentagem de clandestinos era de 67,1 por cento.

A maioria dos trabalhadores - principalmente no departamento do Sena - era composta por homens casados, que tinham deixado a família era Portugal; 78 por cento trabalhavam nu construção civil e 4 por cento na metalurgia.

A natureza das condições de trabalho, a insuficiência relativa do salário e as dificuldades da língua apontavam-se como caudas de uma instabilidade profissional um- levava muitas vezes os trabalhadores n perder as vantagens da antiguidade (prémios, gratificações c férias pagas).

O nível de vida era tanto mais baixo quanto sucedia que os trabalhadores remetiam n maior parte dos salários às famílias, reservando por viver 150 a 300 francos por mês.

Três quartos dos trabalhadores portugueses viviam em abarracamentos, nas obras, nos foyers du hátiment e nos bairros de luta (já 15 000 em fins de 1964).

O inquérito sociológico realizado permitia concluir que só 22 por cento dos portugueses interrogados estavam satisfeitos, tendo 77 por conto afirmado que dispunham em Portugal de melhores condições de alojamento. Nestas condições, apenas 30 por cento exprimiram o desejo de se instalar em França.

Permito-me ainda recorrer a outros testemunhos arquivados em Hommes et Migrations, para ilustrar esta drama da viagem, da chegada a França, da sua instalação c das condições de trabalho:

Se alguns utilizam o comboio, a viagem da maioria processa-se a pé e de camião. Tanto a fronteira espanhola como a francesa atravessa-se a pé. Se a travessia da primeira é fácil, a da segunda é muito difícil. Segundo as épocas, atravessam-se os Pirenéus no frio, na chuva, na neve ...

Se a marcha a pé é considerada pêlos emigrantes interrogados como o pior da viagem, pelo que tem de fadiga, de medo o de frio, o percurso em camião é também insuportável. Comprimidos uns contra os outros, mal podendo respirar, os emigrantes sentem e sofrem a angústia de verem o seu camião detido pela polícia espanhola ...

54 por cento dos. emigrantes interrogados afirmaram que jamais recomeçariam uma viagem como clandestinos ...

Alguns sofreram o medo de serem abandonados. "Queriam deixar-nos na neve . . . podiam matarmos. Estávamos perdidos. . . não conhecíamos nada . . . Encontrámos um compatriota que há três dias jazia doente na montanha e num estado de fraqueza que já nada podia comer".

Outros, delidos em Espanha pela, policia, recordam com horror a perca de liberdade: "íamos de prisão em prisão, algemados, como se fôssemos criminosos ou selvagens".