O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

2820 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 155

leto, da Universidade de Lausana, e Joaquim Vieira Natividade, mês ire consagrado da agronomia e silvicultura portuguesas.
Na verdade muitos foram os seus trabalhos de estudo e investigação de que resultaram numerosas publicações e tratados do mais alto interesse, muitos deles citados em publicações espanholas, francesas, suíças, italianas, inglesas, brasileiras, americanas e russas.
A lista, bibliográfica do professor Joaquim Vieira Natividade compreende cerca de duzentos trabalhos impressos, tal a sua prodigiosa actividade intelectual.
Investigou, divulgou e deu expressão prática à ciência que criou.
Os seus estudos sobre o castanheiro, o carvalho, o sobreiro, a oliveira, as árvores de fruto, etc., tema marca inconfundível do mestre, que amorosamente se debruçou sobre problemas tão difíceis e para os quais encontrou caminhos jamnis percorridos.
O facto de ser criado- matéria nova nos estudos que fez sobre árvores florestais e de fruto não impediu que exprimisse por. regras simples e fáceis de apreender as melhores maneiras de explorar algumas das nossas principais riquezas em risco de se perderem, tão abandonadas elas andavam.
No campo da pomicultura, foi sob sua directa orientação que se procedeu à implantação de pomares lucrativos, em conjunto com uma plêiade de técnicos por ele formados, a cujo labor a, fruticultura nacional tanto deve.
Além de cientista de mérito incontestável, tinha uma maneira de escrever que o colocou entre os nossos melhores prosadores. Em referência ao estilo literário, o Dr. Rafael Duque, n* homenagem prestada a Vieira Natividade, em 18 de Dezembro de. 1966, por virtude de ter recebido o grau de doutor honoris causa pela Universidade de Tolosa, tem as palavras que se seguem:

É assim que na. sua prosa me parece pressentir a influência do célebre autor das Églogas, Rodrigues Lobo, seu vizinho de no- pé da porta, ali de Leiria, de quem parece ter recebido «o colorido com que pinta os quadros da natureza, aformoseados, ainda, com uns toques de tristeza e saudade», do poeta que. no dizer do bispo de Grão-Pará, «chorou no Tejo quanto tinha cantado nas ribeiras de Lis e Lena».

Porém, a suavidade, a delicadeza e o cuidado posto no burilar da- frase, esse, parece vir de Frei Luís de Sousa, de quem se Hz que. escreveu com a pena molhada em mel, ou de alguns desses monges agrónomos que a mia palavra exaltou, embora em sua inocência não tivesse chegado a concluir se eram santos for serem agrónomos ou agrónomos por serem santos.
A independência é própria do seu carácter, e honra lhe seja por isso mas, na irreverência que às vezes aflora no seu estilo, traz a- marca do P.e António Vieira, ao passo que a ironia, subtil, essa é de mestre Gil Vicente.
Toda a vida deste homem foi uma lição constante, apresentou-se sempre com a humildade, que define os espíritos superiores.
É um exemplo que podemos apontar às novas gerações, queimais parecem preocupadas em manifestações de turbulência previamente preparadas por mentores invisíveis do que preocuparem-se com a sua integral preparação.
Na verdade, deixa atrás de si uma obra superior, porque humana e honesta. E um modelo de probidade, riqueza intelectual, dignidade, modéstia, perseverança, sentido das responsabilidades, ânsia de saber, dedicação à profissão, enfim ... um conjunto de predicados que só aos homens de elite é possível ter em tão grande dose como reunia o Prof. Vieira Natividade.
As casas agrícolas de Manuel Meneres, em Trás-os-Montes, de João Lopes Fernandes, no Alentejo, e tantas outras espalhadas por este País são exemplo vivo do que valem a colaboração e os ensinamentos de Vieira Natividade.
O lavrador João Lopes Fernandes, atrás citado, numa forma bem expressiva de reconhecimento pelos inestimáveis serviços que Vieira Natividade prestou à lavoura nacional no campo da subericultura, instituiu e ofereceu à Secretaria de Estado da Agricultura a monumental Taça Professor Vieira Natividade, para galardoar o proprietário que melhor trate os seus montados de sobro.
Não serão também de menosprezar, como escreveu seu amigo Manuel Meneres, também já referido, as manifestações artísticas bem. assinaladas:

As artes gráficas, que sempre imprimiu nas suas publicações; na fotografia, com que ilustrava os seus trabalhos; no cinema, como realizador de mérito; na cerâmica, com cuja contribuição muito tem enriquecido artisticamente a indústria da sua região.

O extinto nasceu em Alcobaça, a 2 de Novembro de 1899. Pertencia a uma conhecida família que se distinguiu pelo seu arreigado amor à histórica e antiquíssima vila do Alcobaça.
A seu pai, o arqueólogo e etnógrafo Manuel Vieira Natividade, devem-se valiosos estudos a propósito do património artístico e cultural da citada vila de Alcobaça.
Joaquim Vieira Natividade, em 1960, deu uma das melhores provas de dedicação filial ao editar à sua custa o livro Mosteiro ,e Coutos de Alcobaça, constituído por manuscritos inéditos de seu pai. A tal respeito, o monge cistercense Maur Cocherill O. C. S. O., numa revista estrangeira, acerca de Manuel Vieira Natividade e seus filhos, exprimia-se deste modo:

Não é exagero escrever que- ele salvou o Mosteiro. A sua obra de historiador pode resumir-se assim: antes dele não havia nada. Depois, todos os que escreveram sobre o Mosteiro inspiraram-se nele. Quando morreu prematuramente, deixou por completar um manuscrito: Mosteiro e Contos do Alcobaça, que nós temos esperança de ver em breve publicada ...

Com pleno conhecimento do. causa pode afirmar-se que a lembrança de Citaux é de tal modo viva, hoje, em Portugal, que a simples qualidade de monge de Cister é suficiente para se abrirem todas as portas depois de cento e vinte e cinco anos de ausência. Isto deve-se a Manuel Vieira Natividade e seus dois filhos, António e Joaquim. Evocar aqui o nome desses homens bem formados é um dever de justiça gratidão.

Foi de maneira despretensiosa, incompleta e até desajeitada que me abalancei a falar de um homem que nas suas obras e publicações, a par do seu conteúdo e profundidade científica, imprimia um estilo próprio, inconfundível, pois são verdadeiras obras literárias que se tem com interessa constante e despertam, nau apenas agrado, mas autêntico deleite espiritual.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tendo consciência da pobreza das minhas palavras, concluirei afirmando que a ciência agronómica perdeu um cientista de eleição e o País ficou mais pobre de valores humanos.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.