O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

14 DE DEZEMBRO DE 1968 2821

O Sr. Armando Perdigão: - Sr. Presidente: Com o recente desaparecimento do Prof. Eugênio Antunes Tropa, vítima de doença que brutalmente o acometeu no exercício das suas funções no seu gabinete de trabalho da Direcção-Geral dos Serviços Pecuários, perderam as ciências veterinárias um dos seu mais altos valores de todos os tempos e o País um cientista de grande mérito e um devotado e isento servidor da coisa publica.
Aluno brilhante do curso de Medicina Veterinária da formatura de 1933, o Doutor Eugênio Tropa ingressou no quadro técnico dos serviços pecuários, logo se distinguindo pelos serviços prestados como director do Laboratório de Patologia Veterinária do Porto, onde, mercê da sua preparação científica, dotes de inteligência e qualidades de trabalho, realizou uma obra de grande valor regional e nacional que avulta na escola que aí soube criar com os seus colaboradores, graças ao seu espírito aberto, aliado a um fecundo entusiasmo.
Tendo enveredado depois pela carreira académica, ascendeu, após brilhante concurso de provas públicas, ao lugar de catedrático de Bacteriologia da Escola Superior de Medicina Veterinária, ficando a dever-lhe este estabelecimento universitário e a economia do País a introdução, em moldes modernos, do ensino da tecnologia dos produtos alimentares de origem animal, de que foi pioneiro, e a criação da respectiva cadeira no currículo escolar.
Cientista de renome internacional, era membro de várias sociedades científicas nacionais e estrangeiras e autor de numerosos trabalhos científicos. Tendo representado o País em várias reuniões internacionais, a sua acção valeu-lhe recentemente honrosa condecoração de país estrangeiro.
Pelo seu mérito científico e pelo conhecimento das indústrias de transformação dos produtos animais, foi chamado a dirigir o grupo de laboratórios de química e biologia do Instituto Nacional de Investigação Industrial, onde coordenou a actividade de numerosos técnicos das mais variadas formações, engenheiros, biólogos, agrónomos, químicos, farmacêuticos, físicos e veterinários.
A instâncias do Governo, assumiu as funções de director-geral dos Serviços Pecuários num momento particularmente difícil da vida daquele departamento da Administração, quando à grave situação decorrente de agudos problemas sanitários que .atingiam as populações porcinas se juntavam os problemas inerentes ao lançamento, pelo Governo, das indústrias pecuárias, em substituição das explorações tradicionais.
Será cedo para apurar o balanço da sua acção fora da Universidade; a história se encarregará de o fazer! Pode, porém,, afirmar-se desde já que o grupo de laboratórios de química e biologia do Instituto Nacional de Investigação Industrial constitui um conjunto operacional de elevada expressão tecnológica e de grande potencialidade ao serviço do desenvolvimento das indústrias tranformadoras; que o estabelecimento de explorações avícolas e pecuárias industriais prossegue a bom ritmo e que se anuncia para breve a publicação de diploma oficial organizando em novos moldes a cobertura veterinária do País e solucionando finalmente o crónico problema dos veterinários municipais.
Ao longo de toda a sua vida de professor e de profissional ilustre, que bem pode ser considerada exemplar, o Prof. Eugênio Tropa sempre procedeu como um homem bom, leal e modesto, dotado de uma boa vontade militante para ajudar alunos e colaboradores, a quem nunca negava os frutos da sua experiência e saber. Eles lhe retribuíram em estima e admiração, reforçadas agora com profunda saudade.
Com as mortes dos Profs. Vieira Natividade e Eugênio Tropa, a Universidade, a agricultura e a Nação foram agora privadas de dois grandes valores.
O meu preito de sincera homenagem e de grande admiração aqui fica.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. José Alberto de Carvalho: - Sr. Presidente: Está inquieta a nossa juventude académica.
Na linha de uma formação, eu sou dos que advogam o uso de uma liberdade de expressão, dado que é esse um dos direitos naturais da pessoa humana. À juventude, sempre pronta a assumir a liderança das grandes causas e as atitudes heróicas, esse direito é condição indiscutível, já que ela crê nas grandes verdades e não transige perante o muro das inibições. Mas há que distinguir.
Liberdade não é revolução, e renovação não implica, necessariamente, a violência ou insensatez.
A essa juventude, a quem cabe de direito a direcção e a salvaguarda do futuro desta Nação, não se pode conceder que seja irreflectida. Também a nós, a geração que orienta e dirige, nos cabe o direito de exigir dela responsabilidade.
Será ela que terá de manter a linha das nossas tradições, ser digna do passado e do presente, para que mereça o futuro, que será aquele que lhe compete dirigir, e isso leva a que se aconselhe que seja moderada, embora persistente na sua razão.
O homem só é digno da sua qualidade quando sabe encontrar no diálogo e na convivência a força das suas razões, ciente, bem ciente, de que o significado da palavra «liberdade» abrange o respeito pelo uso da liberdade dos outros, a qual implica uma fórmula de pensamento e de moral, de condições e de atitudes.
Reconhecer o direito ao uso dessas fórmulas, condicionando o uso dos nossos padrões, é saber usar da liberdade. Impor as nossas fórmulas é negar a liberdade.
Dialogue a juventude com os responsáveis e com a Nação, opondo as suas razões às razões que julgar não serem justas, mas saiba reconhecer o que é viável e o que é prudente. Saber transigir, quando não é possível vencer, é triunfar.
Recorde a nossa juventude académica que não é fácil o momento que a Nação vive, e que na guerra que travamos os campos de batalha se vão enchendo de dor, sofrimento e morte. Que é ali que os seus irmãos, jovens como ela, ocupam os seus lugares, vazios por concessões que apenas são válidas desde que a qualidade do estudante se mantenha. Há também que ser digno desses exemplos e dessas concessões.
Tudo está na base de uma segurança na retaguarda, que é necessário manter e que implica, sem dúvida, a consciência plena de que a Nação não pode suportar, mesmo no campo material, a devastação e a paralisação, sem que daí não resultem implicações com incidência profunda na segurança dos que lutam e do bem-estar e progresso dos povos e das terras.
Envolvidos numa guerra de tão vastas consequências, a unidade, a reflexão e as atitudes ponderadas são condição de sobrevivência.
Reinvindique a juventude a solução dos seus problemas, e tantos são. que é seu direito; mas faça-o calmamente, dialogando, e por intermédio dos seus representantes.
Mas dê exemplo de trabalho e de responsabilidade.