3270 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 182
actividades profissionais compatíveis com a idade e saúde, à maneira de complemento, no plano da mão-de-obra, que escasseia; fazer investigação e divulgação no domínio da cultura; concretamente, trabalhar como contínuo, guarda lê palácio ou museu, dispensando braços mais válidos e necessários em tarefas mais dinâmicas ... são apenas alguns exemplos de trabalho, remunerado ou não, que integra o velho na comunidade.
Essencial, o trabalho ... remunerado ou não, para os velhos sentirem que vivem. Se crentes, sabem que estão a colaborar com Deus até aos últimos dias, completando a obra divina dá criação. E todos, crentes ou não, terão consciência de participar nas tarefas da comunidade. Sem o trabalhe, os reformados não romperão o círculo do seu isolamento não vencerão o tédio da vida, não terão alegria, um dou seus direitos, sem o qual todos os outros ficarão anulados.
Mas não existe alegria sem a esperança.
Podemos dar tudo aos velhos, mas se não lhes dermos esperança, todos os bens serão pobreza e os deixarão indiferentes, insatisfeitos e mergulhados em tristeza. Velhice sem esperança é um pré-inferno, como sugere a advertência de Dante: «Deixai lá fora a esperança ...». Porém, se os velhos «têm mais recordações que projectos», que esperança podem eles ter? Por isso é cruel a psicologia do materialismo, que nega o além, o mais além. O materialismo fez alguns progressos. Ultrapassou a fase do abandono de s velhos, porque eram peso sem compensação e não interferia no circuito económico. Este economismo chegou II justificar, ao menos no plano dos factos, que na Amériua do Norte os professores primários ganhassem menos que os estivadores, ocasionando uma greve geral dos professores.
Agora, o materialismo já não se atreve a desprezar os velhos. Mas, ao mesmo tempo que diligentemente cura do seu bem-estar, empenha-se em negar o prolongamento da vida para além das fronteiras do tempo. E a maior parte das religiões, afirmando embora a existência da eternidade, dispensam mais atenção à vida presente que à futura. E apesar de nisto o cristianismo se distinguir de quase todas as outras religiões, começam alguns cristãos a interessar-se mais pelas maçãs e outros frutos da terra e pelos da ciência do que pelo paraíso das bem-aventuranças.
Esta atitude materialista é um pecado, não só contra a fé e a esperança, mas também contra a caridade e contra os velhos.
«Os velhos têm mais necessidade de esperança do que de pão.» Foi dito. E eu estou de acordo. O problema dos velhos não é fomente social. É, mais ainda, moral ... que eles encontrem razão para viver. Mas os velhos, como todos os homens, gostam de ser eles próprios a construir a sua vida, a sua felicidade, na medida do possível. E a melhor maneira de satisfazer esta aspiração é abster-se de interferir em tarefas que pertencem a outros; habituar-se, pela vida fora e desde a juventude, a pensar nos outros; não reivindicar situações que não são capazes de honrar, por falta de energias; aceitar posições modestas dentro da colaboração comunitária; estar sempre disposto a- servir, qualquer que seja a função, pois todo o trabalho tem a nobreza e dignidade que cada um lhe dá na sua execução.
A família e a comunidade têm o dever de garantir aos finalistas do curso da vida condições de dignidade e segurança. Dias a felicidade dos velhos deve ser preparada por eles. mesmos. Só assim a velhice é ainda uma fase de realização humana, no respeito e enriquecimento da personalidade da pessoa.
A transição da infância para a vida e da vida para a ancianidade é fenómeno complexo. E com pessoas anormais ou diminuídas os problemas agravam-se. Sabe-se que a maioria das caídas nas garras da prostituição nos tempos da tolerância provinha de casas de assistência. Com a estatística na mão era fácil acusar os responsáveis pela sua orientação. E não menos fácil cair numa grande injustiça ... por não se ter em conta, mais que a carência de pessoal capaz e especializado, os vulcânicos 15 anos da idade de saída, a influência negativa da família e do meio em que eram lançadas sem defesa nem amparo e a matéria-prima de tal personalidade. Só por milagre algumas eram salvas do naufrágio ...
À saída, como à entrada, requer-se mais e melhor coordenação das instituições, públicas e privadas, diminuindo a morosidade processual, eliminando a burocracia supérflua. Que não se percam pessoas por causa de papéis. Que não se atire ao mar gente mal habituada às ondas. Que os idosos não sejam abandonados à sua penúria, nem condenados a campos de concentração de inválidos ...
Sr. Presidente: Os períodos de transição são de crise. Em biologia, como em psicologia e sociologia. Mesmo no indivíduo normal. Mais acentuadamente no paranormal. Todos sabemos o que se passa com as crianças abandonadas. Recolhem-se, como se apanham flores, caídas nos lamaçais dos caminhos da vida. Flores de humanidade, recolhidas, lavadas e perfumadas, em jardins de infância, por mãos da caridade. Estou a pensar na solicitude do «Pai Américo» com os rapazes da rua e na dedicação da «Mãe Inês», como lhe chamam as gaiatitas da «Família de Belém».
Mas certa percentagem é portadora de complexos. E algumas são taradas. E já foram as taras e vícios, que não apenas os pecados ... dos pais, que atiraram com elas ao tremedal.
As crianças desabrocham em adolescentes e os adolescentes em adultos - adolescentes reveladores de desequilíbrios hereditários e adultos fixadores de taras mais poderosas que a medicina e seus aliados. E chega a idade da entrada na vida. Mas nem todos são susceptíveis de integração na vida da comunidade em condições de segurança e dignidade. E não poucos perecem na aventura. Caem de novo na lama. E, mais pesados que na infância, não se levantam senão para cair ... e não há sabão que os lave.
Incapazes de resistir ao ambiente., regressam, saudosos, às cebolas do Egipto, por mais podres que sejam.
Este é o drama de muitas casas de educação e de reeducação. E o drama reveste gravidade especial quando estão em causa indivíduos do sexo feminino. Que se há-de fazer destes homens e destas mulheres que nasceram velhos, porque nasceram incapazes ou, pelo menos, diminuídos? Se permanecem nas casas educadoras, tolhem o lugar a outras crianças, contaminam as não contagiadas e transformam, gradualmente, os orfanatos em asilos de velhos. Lançados na vida, deixam-se atropelar por ela e acolhem-se a casas de estropiados ou agonizam lentamente pelas ruas, como destroços humanos.
Estes velhos-natos ou natos-velhos têm de ser recolhidos, porque são humanidade. Como? E onde? Em aldeias de rapazes e em aldeias de raparigas? Não será cair numa segregação? Talvez se admita como normal para o anormal. Mas exigindo sempre meio adequado e aproximando-se, na medida do possível, da vida normal.
Os pròpriamente normais carecem de fazer transição por natureza gradual e progressiva, e não precipitada. E, nisto, os jovens equiparam-se aos anciões. Também estes devem ser ajudados a fazer a sua transição de plena