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26 DE FEVEREIRO DE 1969 3267

Para todo o indivíduo há uma longevidade potencial, que parece constituir um dos caracteres da espécie e representada pela duração da vida, aproximadamente fixa e pouco variável para uma mesma espécie.
Mas para uma mesma espécie os factores genéticos são por vezes determinantes, e assim os indivíduos não envelhecem todos com a mesma velocidade.
Além disso, está confirmado que a longevidade média de uma população depende, em parte, das suas condições de vida.
Na ausência de uma causa patológica, o homem pode hoje viver mais anos, aproximando a duração média de vida da sua longevidade potencial - 112 a 124 anos, segundo os cálculos actuais.
Considerando que esta longevidade potencial existe por enquanto só para uma minoria, em relação com determinada época variará muito com o tempo, com os progressos científicos e técnicos, com os grupos humanos e condições de vida, com as circunstâncias e os lugares.
E a este ponto queríamos chegar: os indivíduos e as populações beneficiam diversamente no seu potencial de vida, de maneira que a duração efectiva da vida é mais fraca nos países subdesenvolvidos do que nos países com nível de vida alto.
Naturalmente que a esperança de sobreviver mais anos depende ainda de numerosos factores inerentes à protecção médico-social dos indivíduos, ao conhecimento das doenças e suas causas e aos meios terapêuticos que se lhe opõem. A doença acelera o envelhecimento e a velhice predispõe a certas doenças.
E juntemos à doença - porque não? - as angústias, os cuidados, as inquietações, as frustrações, as emoções, os desgostos, numa palavra, as chamadas dores de alma.
António Feijó, que foi meu vizinho e príncipe de poetas, disse-o em verso melhor que eu o sei dizer em prosa:

Muitas vezes os cabelos embranquecem,
Na dor de horríveis sofrimentos ...
Não são os anos que nos envelhecem,
São certas horas más, certos momentos!...

Feito este resumo sobre o processo de envelhecimento, vejamos também como se comporta o homem velho na sociedade e como esta se comporta em relação à velhice.
Hoje em dia o envelhecimento da população arrasta em todos os países do Mundo problemas cada vez mais graves e o bem-estar do homem velho impõe uma política da saúde que defina, e dê solução aos problemas criados pela maior duração da vida na actual e nas futuras gerações.
Atente-se que os velhos reformados são hoje considerados como «os proletários do mundo moderno», constituindo como que «o terceiro mundo caseiro».
A «velhice excepção» como que deu lugar à «velhice exército».
Se nos países ricos os operários não constituem já um proletariado no sentido exacto do termo - um grupo social sem esperança de promoção -, em substituição aparece um outro mais moderno, o dos velhos, mais infelizes na medida em que não estão organizados nem sindicalizados, sem capacidade de resistência ou reacção, sem esperança até de um auxílio exterior.
Atente-se que uma população activa é cada vez mais restrita.
Se considerarmos os progressos técnicos e tecnológicos, e a automatização com consequências incalculáveis devidas à electrónica e à, cibernética, reconhecemos que aos 50 a 60 anos da actual população activa sucederá, em tempos mais ou menos próximos, 40 a 50 e depois à volta dos 40.
Em contrapartida, pois, aumenta a população inactiva constituída por jovens e segregados (alguns adultos e, sobretudo, velhos).
Acabaremos por cair num círculo vicioso: a um aumento da produção corresponderá uma diminuição de poder de compra. Sem meios não se consome.
Mas mais: cada trabalhador da população activa terá de suportar o encargo e manutenção dos dependentes menores e dos maiores segregados, que no seu curso vital passarão a ser como aqueles, apenas consumidores de recursos económicos.
E o problema, posto assim, mais uma vez preocupará os economistas, os sociólogos, os políticos, os filósofos e os teólogos.
Absorvidos pela «política da juventude», nada ou quase nada temos feito na programação da «política da velhice».
Todavia, cada um de nós, por muitas razões ou talvez por uma só - a razão egoísta - espera chegar algum dia a uma idade gerontológica.
Numa sociedade que é, antes de tudo, uma sociedade de produção, continua esta fracção da população a não ser considerada, uma vez que não participa directamente na vida activa. Este mesmo factor técnico-económico, afastando os inúteis, atenta única e exclusivamente nos jovens como factores potenciais.
Ora esta orientação política repousa sobre uma manifesta injustiça, já que esses segregados, que ontem e atrás de ontem foram activos, contribuíram, pelo seu trabalho, para o nível de vida que hoje todos gozamos.
Para eles reclamamos um clima espiritual suave e morno para o crepúsculo vital, possivelmente uma velhice sã, serena e produtiva.
Há trabalhos cujo rendimento não se altera com a velhice.
Depois dos 70 anos, Rachmaninoff, Paderewsky, Sauer, Rubinstein, o nosso Viana da Mota, alcançaram os seus maiores êxitos pianísticos; Toscanini, até depois dos 80 anos, demonstrou excepcional eficiência como director de orquestra: Schweitzer, Winston Churchil, Adenauer e tantos outros octogenários contemporâneos deram-nos, ao lado de considerável capacidade produtiva intelectual, exemplo de invejável agilidade e energia física, realizando tarefas para as quais muitos jovens não teriam força nem resistência.
As melhores, contribuições filosóficas de Kant foram produzidas quando já velho e doente.
Cientistas como Einstein, como Baruch, como Scherrington, músicos como Strawinsky, pintores como Picasso, intérpretes como Casais, novelistas como Baroja, filósofos como Bertrand Russel, médicos como Egas Moniz ... tantas e tantas celebridades, octogenárias ou quase!
Acabe-se, pois, com o sentido pejorativo da velhice neste mundo chamado civilizado e tão diferente do que imperava nos tempos antigos, quando na própria Esparta havia a gerúsia e os gerontes dirigiam a vida nacional.
Desfaçamos preconceitos, se não queremos enfrentar mais tarde ou mais cedo esta alternativa monstruosa: a fusão das idades ou a guerra das idades.
Uma sociedade que em nome de princípios utilitários condenasse os velhos improdutivos acabaria em miserável agonia.
A sociedade labora em erro se aplica à, velhice as leis do «tudo ou nada».
Evite-se o impacte emocional da velhice. Todos sabemos como a aposentadoria compulsiva é causa principal de depressões e alterações psicossomáticas no homem ainda válido.
Ao fim e ao cabo, integração ou segregação? Qual dessas atitudes triunfará? Optamos pela decisão cristã, mais