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4 DE DEZEMBRO DE 1970 1059

português, foi de tilo fraterna e compreensiva, razão da nossa verdade que não creio que alguém entre nós a possa esquecer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Depois, sem pretender ser especioso, julgo ainda que não deveria deixar de aqui fazer referência ao explosivo crescimento do Brasil, quer populacional, cultural e social, quer nos aspectos industrial, cientifico e de aproveitamento das suas imensas potencialidades, que tornam já hoje este imenso e próspero país fonte inexaurível de mocidade e energia criadora, numa grande realidade, e transformá-lo-ão, seguramente, em algumas dezenas de anos, num dos mais ricos e poderosos do orbe, para honra e glória suas e da Comunidade Luso-Brasileira.

Só é triste, para não dizer lamentável, que a nossa emigração, e refiro-me à que se canaliza para o estrangeiro, e não, necessariamente, àquela que deveria seguir para as províncias de além-mar - se é que esta se deva assim designar -, não volte a orientar-se para o portentoso Brasil, porque o enfraquecimento da notável projecção que durante tantas décadas ali teve a colónia portuguesa, e que já é um facto, acentuar-se-á cada dia mais em prejuízo do prestígio de Portugal. Trata-se de problema sério para o qual, todavia, se não enxerga solução próxima e válida.

Moo desejaria terminar sem uma palavra de louvor para a actividade cultural ao Real Gabinete Português de Leitura, verdadeiro templo de lusitanidade, que através de cursos rápidos de bom nível, iniciados em 1068, muito vem contribuindo para não deixar fenecer o estudo da história, da literatura, das ciências e até da geografia de Portugal e necessariamente também do Brasil, e das profundas raízes sobre ais quais se vivifica a árvore frondosa da cultura luso-brasileira. Atingia já naquela altura uns quatro milhares o número de jovens que têm frequentado esses cursos. Esta iniciativa tão frutuosa, como o próprio Gabinete, pêlos altos serviços que presta à presença espiritual e cultural portuguesa no Brasil, suo dignos do apoio oficial e do da Fundação de Calouste Gulbenkian sempre pronta a apadrinhar grandes obras de cultura e humanidade, que, aliás, já tem sido concedido àquele Gabinete. Importa, portanto, que a ajuda continue.

Também não quereria deixar de louvar o esforço que apesar de tudo se faz ainda na Colónia Portuguesa, através do seu Conselho Superior, para manter em bom nível o nome de Portugal, como o exemplifica a ida propositada de individualidade portuguesa em 10 de Junho de coda ano, para, no Rio de Janeiro, proferir uma conferência alusiva ao Dia da Raça, Dia de Portugal e também dia do imortal Luís Vaz de Camões, aproveitando a ocasião para nessa cerimónia receber e fazer brilhar um orador brasileiro de alta envergadura intelectual e ou política.

Neste ano foram mesmo dois os intelectuais brasileiros que proferiram discursos: o Senador Passarinho, Ministro da Educação e Cultura e o Dr. Clovis Ramalhete, ambos grandes amigos de Portugal.

Só foi pena que a representação portuguesa tivesse sido tão modesta, mas a culpa foi de quem indicou o nome, e não do próprio, que não pretendia nem desejava a tarefa que lhe foi cometida.

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: Creio que VV. Ex.ªs registarão com especial agrado, juntando-a às notícias que tive o gosto de lhes comunicar logo na abertura da sessão, a informação das atenções de que foi alvo o nosso 2.° vice-presidente, quando recebido na Câmara dos Deputados tio Brasil, assim como terão apreciado saber como o Dia da Comunidade Luso-Brasileira foi celebrado no Senado daquele grande país nosso irmão. Estas manifestações de sentimento, expressão natural de realidades profundíssimas, são outros tantos factos a assegurarem que a Comunidade Luso-Brasileira só se reforçará e ganhará em incremento e alentos com o correr dos tempos.

Espero que VV. Ex.ªs me autorizem a comunicar à Câmara dos Deputados brasileira que foi com agrado que tiveram conhecimento das suas cortesias para com o nosso 2.° vice-presidente.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Homem de Mello: - Sr. Presidente: Dentro de alguns dias deverá encerrar-se, em Nova Iorque, a vigésima quinta sessão ordinária da Assembleia Geral da organização multinacional denominada "Nações Unidas".

Na qualidade de vogal da Comissão de Negócios Estrangeiros desta Casa tive a oportunidade de fazer parte, pela primeira vez, da delegação portuguesa àquela Assembleia Geral.

Ao chegar a Nova Iorque, logo referi ao representante permanente de Portugal junto das Nações Unidas - a cuja prudente e esclarecida actuação me apraz render a devida homenagem - que era minha intenção participar nos trabalhos da Assembleia Geral animado do mais sereno propósito de leal, disciplinada e aberta colaboração, o que não poderia invalidar o desejo de, posteriormente e já apenas na qualidade de Deputado, aqui prestar o depoimento que a minha consciência de homem, público viesse a indicar-me.

Pouco importa o que haja sido essa actuação, ainda que eventualmente recheada de um ou outro aspecto positivo, mas, por certo, não isenta dos defeitos inerentes a humana condição. O que importa é que, neste momento, sinta apenas - a responsabilizar o que me. proponho dizer à Câmara - a independência do meu espirito de observação, caldeada por um portuguesismo de que não seria capaz de abdicar e por uma experiência, intensamente vivida, que não poderá deixar de ter radicado significativas implicações.

Em política, a objectividade é um mito, próprio dos néscios e dos ingénuos.

Aos ensaístas e doutrinadores pode estar reservado o campo sereno das cogitações objectivas, na sua qualidade de construtores teóricos de scciedades-tipo de maior ou menor viabilidade prática. Mas ao estadista que, tendo abraçado uma causa, pugna quotidianamente pela manutenção ou conquista do poder, encontra-se vedado o clima sereno ida especulação teórica, na medida em que, na constante defesa e progressão da estratégia que adopte, há-de sempre vir a entroncar-se o interesse da comunidade. No dizer insuspeito, mas esclarecido, de Disraeli, acrescentaria que o homem político só o será verdadeiramente desde que actue por paixão, ou seja, por amor àquilo que em última instância lhe está confiado: o interesse nacional.

Esta declaração liminar visa a afastar qualquer tentativa - já não digo da parte de terceiros, mas da minha própria - no sentido de me apresentar ante os meus pares como uma espécie de "cidadão do mundo" que houvesse assistido aos trabalhos da Assembleia Geral como observador independente capaz de extrair conclusões "objectivas" resultantes de uma serena passagem pêlos auditórios da O. N. U. Não; falo aqui - como tive a honra e o grato privilégio de falar além - na qualidade de portu-