1160 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 56
uma assistência por eles tão ambicionada, pois conhecem os inconvenientes da falta do ensino agrícola no meio.
A Câmara Municipal, ao indicar o local para a construção dos futuros edifícios da escola industrial e comercial e da escola preparatória do ensino secundário, às quais a seguir me referirei, já o fez com vista a possibilitar ao Ministério da Educação adquirir uma propriedade com campos experimentais para o ensino da secção agrícola.
Teve a felicidade de encontrar no perímetro da cidade essa propriedade piloto, com a superfície de 23 ha, delimitada por duas estradas nacionais, com óptima situação geográfica e a de ser o seu relevo uma excepção para a região, pois é composta de grandes campos quase planos.
Um inspector da Direcção-Geral do Ensino Técnico já confirmou no local a veracidade da pretensão.
Em nome de toda a região da Beira-Douro, que é essencialmente agrícola e vive num atraso de cultura agrícola quase medieval, em nome de todos os onze concelhos que a compõem, eu renovo aqui o apelo que a Câmara Municipal de Lamego fez ao Sr. Ministro da Educação Nacional para, não só criar a secção agrícola, como também comprar já essa propriedade, antes que outro fim lhe seja dado.
Se tal viesse a acontecer, muito mais difícil seria a satisfação de tal exigência.
Eu lamento-me de só referir nesta Assembleia assuntos que carecem de solução urgente, mas é tal a carência das mais elementares condições primárias que me vejo no dever de pedir aos vários departamentos governamentais soluções inadiáveis para eles.
E para exemplo veja-se a situação da Escola Industrial e Comercial, que figurava desde há muitos anos nos programas de criação e só o foi no ano escolar de 1967-1968.
Ao fim dos seus quatro anos de existência, por não ter edifício capaz, cancelou as matrículas e como solução de emergência pediu pavilhões pré-fabricados, mas só nos princípios cio próximo ano lhe serão fornecidos.
Tem uma limitada frequência, de 246 alunos, por não ter espaço para mais.
Embora estejam criados três cursos, só funcionam dois: curso geral de comércio (diurno e nocturno) e curso de formação feminina.
Nunca foi possível abrir o curso industrial de electro-mecânicos, devido à falta de instalações para as oficinas.
Sendo o que faz mais falta à cidade e à região, é precisamente o que não funciona. Além disso, não pode ministrar a disciplina de Educação Física, dada a ausência de ginásio, balneário e vestiário.
O mesmo sucede à escola preparatória do ensino secundário.
Tem uma frequência de 460 alunos, com um aumento de mais de uma centena de alunos por ano, e funciona em pavilhões pré-fabricados, numa região onde as temperaturas negativas são de longo período, originando todos os graves inconvenientes para o rendimento do ensino e prejudiciais à saúde das crianças.
O Liceu também carece de ampliação.
Foi inaugurado em 1937 e para uma frequência da ordem dos duzentos alunos. Presentemente tem cerca de mil alunos.
Nessa ampliação, que também não seja esquecido o tão necessário conforto.
No ensino primário, por onde devia começar, notaram-se há dois anos perturbações, que só o estoicismo do presidente da Câmara e a abnegação dos mestres conseguiram vencer.
De momento, vêem-se privados da Escola Central Primária, onde estava instalada quase toda a população escolar, por ter sido dada como incapaz para o ensino, em virtude de ter aparecido uma pequena fenda no topo de uma das paredes, que, convém frisar, são verdadeiras muralhas de granito e que dão a certeza, mesmo ao mais ignorante, de que não mais cairão.
No entanto, isso foi o suficiente para os serviços escolares lançarem o pânico e terem proibido que se continuasse a utilizá-la.
Felizmente que a Escola continua de pé e a Câmara já adquiriu terreno para a construção de uma nova escola de doze salas, cuja construção começará dentro de poucos meses.
Urge iniciar a construção de outros núcleos.
Propositadamente referi-me a este acidente para demonstrar que só a Lamego acontecem as coisas mais inverosímeis e que tudo quanto tem só é devido à sua persistente vontade de vencer as constantes incompreensões e a pouca sorte de que é vítima.
Pelo exposto, são gerais as precárias condições em que se ministra o ensino em Lamego.
Não há dúvidas de que fomentar o ensino é tarefa necessária e louvável, mas paralelamente deve haver um programa de construções que evite a perturbação no ensino.
Geralmente a necessidade de criar novas escolas está presente no anseio de muitos, mas a sua concretização deve-se ao esforço das entidades locais, quase sempre compreensíveis.
Nesta sacrificada terra uma solução resta: construir imediatamente um edifício para a escola técnica, outro para a escola preparatória, sem esquecer as escolas primárias.
Pela situação privilegiada de Lamego e pelo exemplo das virtudes cívicas e do respeito pelos superiores princípios do espírito, possui a qualidade de cidade ideal para o ensino.
A beleza dos seus jardins e dos seus parques, a riqueza histórica de todo um passado glorioso, tendem a ministrar no espírito do aluno o respeito e o amor devido aos princípios eternos da nossa civilização lusíada.
Aqui florescem dois grandes colégios particulares: um, de rapazes, já centenário e distinguido com a Comenda da Instrução Pública, instalado em edifício grandioso e funcional, sob a direcção da Ordem Beneditina, e outro, da Ordem Franciscana, para raparigas, que vê a sua frequência interna na ordem das 200 alunas. Para bem poder cumprir a sua missão, vai em breve iniciar a construção de um novo edifício, cujo custo orça por 25 000 contos, precisando de uma correspondente comparticipação do Ministério das Obras Públicas.
De salientar a irradiação cultural do seu Seminário Maior, instalado num importante edifício, e dirigido por um escol de sacerdotes que conserva total fidelidade à Igreja e à Nação.
Neste aspecto, seria falta grave não deixar uma palavra de gratidão ao seu venerando bispo, por ser na sua diocese um verdadeiro mecenas.
Permitiu que os seus padres criassem e dirigissem colégios em quase todos os concelhos.
E não seria menos grave ocultar a irradiante beleza moral de todos os mestres e da juventude escolar de Lamego, que, num espírito de disciplina e vontade decidida, são exemplo de podermos, nós os mais velhos, ter a certeza de que, dadas as suas excepcionais qualidades, serão os continuadores de um Portugal melhor e maior.
Para terminar, deixo aqui um apelo ao Sr. Ministro da Educação Nacional, a esse jovem mestre de Coimbra, para que inclua no seu já vasto roteiro de estudo a cidade de Lamego, onde com o seu inteligente espírito de observação e sabedoria confirmará o que deixo dito e que já o é do inteiro conhecimento do seu mais directo colaborador,