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1320 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 65

dade duzentas vezes superior a do oxigénio; a sua presença no atmosfera constitui um risco constante e geral, embora haja certos grupos sociais que podem ser mais afectados, como os trabalhadores em garagens, os polícias de transito e, perdoem-me muitos dos meus colegas, o enorme grupo dos (fumadores, se é que se podem considerar como um grupo social... Os fumadores podem chegar a ter um teor de carboxi-hemoglobina superior a 10 por cento, valor este que seguramente é mais elevado quando expostos a uma atmosfera carregada de monóxido de carbono; para se avaliar o risco que tal representa, basta referir que há muitas pessoas que ficam afectadas nas suas reacções psicomotoras perante um teor de carboxi-hemoglobina de 5 por cento, teor este que se atinge por uma exposição a uma atmosfera de ar poluído com 30 p. p. m. durante quatro a seis horas, concentração esta muitas vezes ultrapassada, sobretudo nas chamadas horas de ponta, em algumas zonas urbanas onde pode atingir valores superiores a 50 p. p. m.
Na última reunião da Assembleia Parlamentar da N. A. I. O., no Comité Científico e Técnico, votou-se, por minha sugestão, uma moção, pedindo aos Estados Membros para estudarem a possibilidade da não adição de sais de chumbo às gasolinas; fi-lo, em consciência, sabendo perfeitamente que existem dificuldades de ordem técnica, mas conhecedor, também, do prejuízo para a saúde que advém da inalação de partículas de sais de chumbo expelidas pelos escapes dos veículos a motor. Contra esta noção argumentam os defensores do processo, seguramente mais económico, da adição de sais de chumbo à gasolina, para aumentar o seu poder em octanas, que:

As partículas sólidas emitidas após a combustão da gasolina com chumbo são mais densas e tendem a cair mais rapidamente, não se mantendo muito tempo ao nível de inalação; nas gasolinas sem chumbo, ns partículas emitidas são mais leves, mantêm-se em suspensão, diminuindo a visibilidade e agravando os riscos da poluição.
Pode-se calcular em 0,12 mg a 0,35 mg por dia o chumbo que é fornecido ao organismo através dos alimentos, ao passo que o chumbo inalado num ambiente poluído não ultrapassa 0,1 mg por dia.

Esquecem-se, no entanto, que se do chumbo ingerido com os alimentos só 5 a 10 por cento é absorvido, daquele que é inalado é absorvida uma percentagem de 30 a 50 por cento. É evidente que todos estão de acordo que o ideal seria o de não juntar chumbo à gasolina, mas é também verdade que se tal não se fizesse, para se conseguir carburante de idêntico poder octânico, os gastos seriam muito mais elevados, não só porque a sua produção seria mais dispendiosa, como também porque o volume produzido seria menor. É mais um exemplo de uma razão de ordem económica opondo-se ao combate, que pareceria simples, de uma das mais graves causas de poluição, se nos lembrarmos da acção do chumbo sobre a síntese das profirinas para a formação da hemoglobina. Mesmo com os aditivos mais modernos, e julgo não errar citando como um dos mais empregados o DMA 115 (Du Pont Multifunctional Additive), que parece ser capaz de reduzir a emissão de partículas, mesmo assim o risco persiste; para o evitar totalmente ou para tentar reduzi-lo a níveis não prejudiciais compete aos que estudam estes problemas o pronunciarem-se sobre o sentido em que devem ser conduzidos os esforços, aguardando que um motor não poluente - possivelmente o eléctrico ou o atómico - passe a ser utilizado.

O Sr. Cancella de Abreu: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Cancella de Abreu: - Tenho ouvido com o maior interesse a intervenção de V. Exa. sobre este problema grave que é hoje o da poluição atmosférica. E ao ouvi-lo, como ouvi na sessão de ontem o nosso colega Correia da Cunha, recordo que este problema da poluição tem, hoje em dia, um interesse fundamental.
Num interessante livro sobre poluição que Taylor publicou, ele começa as suas considerações sobre um exemplo que V. Exa., como distinto homem de laboratório e analista, muitas vezes terá verificado. Se num tubo de ensaio, com todos os elementos necessários para a alimentação das bactérias, com o necessário oxigénio, ao fazermos a sementeira, nós verificamos que essas bactérias crescem e pululam de uma maneira extraordinária. No entanto, se deixarmos continuar essa população das bactérias, esse crescimento, nós verificamos a breve prazo que elas deixam de se multiplicar e que morrem. E morrem porquê? Morrem pelos seus próprios dejectos. Ora, este exemplo dado pelo laboratório pode bem aplicar-se, hoje em dia, ao que se passa com a humanidade.
Nós estamos tendo um crescimento da humanidade que muitos dizem assustador, e se não tomamos o cuidado necessário para nos defendermos dos dejectos, esses dejectos que fazem a poluição do ar, dos rios e dos mares, a humanidade amanhã e num prazo que pode não levar muito longe poderá encontrar-se na mesma posição das bactérias. Quer dizer, a poluição do mar, do ar e dos rios pode vir a ser uma causa de morte da humanidade. Portanto, todos estes problemas da poluição têm o maior interesse e eu queria felicitar V. Exa. pela intervenção que está fazendo.

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado Cancella de Abreu, é evidente que acaba de fazer referência a um facto que me tinha esquecido, posso dizer assim, de referir, que é o facto de acção convergente de dois factores perante os quais nós neste Mundo nos encontramos. Por um lodo, os surtos industriais e, por outro lado, o crescimento da população. É, como quem diz, uma acção convergente que tende a agravar todos os nossos problemas.
Muito obrigado, Sr. Deputado Cancella de Abreu.
Até que tal se consiga, há que seguir um dos dois seguintes caminhos: o empregar gasolina mais pura ou desenvolver um sistema que evite a emissão de gases ou partículas pelos escapes; é neste último sentido que se orientam os esforços e algo de positivo foi já feito, pois parece possível comercializar o protótipo ensaiado por uma das firmas que mais se dedicam a estes estudos.
O Presidente Nixon, ao assinar no passado ano o National Air Quality Standards Act, estabeleceu o ano de 1976 como ano limite para a produção de um carro que obedeça a estas condições.

O Sr. Santos Bessa: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Com todo o gosto.

O Sr. Santos Bessa: - Sr. Presidente: Tenho estado a seguir com o maior interesse este problema da poluição atmosférica, tão brilhantemente exposto nesta preciosa lição do Sr. Prof. Augusto Salazar Leite. Mas lamento profundamente que ele se tenha limitado à atmosfera e não tenha considerado os outros elementos da biosfera, dos quais nós dependemos e cuja poluição é naturalmente tanto ou mais importante do que a poluição da