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31 DE JULHO DE 1971 2687

está em Portugal de visita, a convite oficial do nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros.
VV. Ex.ªs ouviram anteontem o Sr. Deputado Pinho Brandão recordar como há noventa anos, encontrando-se numa das tribunas da assistência desta Casa um ilustre Deputado brasileiro desse tempo, o grandíssimo orador que foi António Cândido, com um brilho que o Presidente da Mesa nem sequer pensa em acompanhar agora...

O Sr. Albino dos Reis: - Não apoiado!

O Sr. Presidente: - ... solicitou dispensa do Regimento para que esse Deputado do país irmão acompanhasse os trabalhos como um de nós.
Na sequência do movimento em tão oportuna hora recordado, peço à Assembleia dispensa do Regimento para que o Sr. Deputado Marcelo de Medeiros possa entrar no hemiciclo e do lugar de um de nós acompanhar os trabalhos como se um de nós fosse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - A manifestação espontânea de VV. Ex.ªs parece-me tornar dispensável uma votação.
Em consequência, peço ao Sr. Primeiro-Secretário da Mesa o favor de acompanhar o Sr. Deputado Dr. Marcelo de Medeiros até esta sala.

O Deputado em questão deu entrada na sala.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Roboredo e Silva.

O Sr. Roboredo e Silva: - Sr. Presidente, Sr. Deputado Federal, Dr. Marcelo de Medeiros, Srs. Deputados:
É-me profundamente grato saudar calorosa e fraternalmente V. Ex.ª, Sr. Dr. Marcelo de Medeiros.
Dar-lhe as boas-vindas a esta Casa, e na pessoa de V. Ex.ª saudar igualmente, com o mesmo calor e com todo o respeito, a Câmara de Deputados e o Congresso Brasileiro, a seu venerando Chefe do Estado e seu Governo e esse incomparável povo brasileiro, a quem tanto queremos em Portugal, do mais fundo do coração.
Recordo, particularmente neste momento, que há pouco mais de um ano fui recebido na Câmara de Deputados em Brasília e ali me foi dada a honra de ouvir, concentradas na minha humilde pessoa, saudações calorosas, palavras de amizade sincera e de respeito pelo meu país, por este país que também é seu, Sr. Deputado Federal.
E digo que é seu porque há poucas semanas, nesta Câmara, foi votada uma revisão constitucional que atribui definitivamente a dupla nacionalidade a portugueses e brasileiros. Por consequência, V. Ex.ª, estando aqui, está na sua casa também, tal como nós, que representamos, legítima e indiscutivelmente, o povo de Portugal. E, sem ter recebido credencial dos meus colegas, mas firmemente convencido que interpreto o sentir de todos, não tenho dúvida em afirmar estes nossos sentimentos pessoalmente a V. Ex.ª, e acima de tudo ao nosso querido Brasil.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ninguém tem dúvida - e V. Ex.ª talvez menos que ninguém, visto que está presentemente em Portugal- que neste país se tem perfeita noção da grandeza imensa, grandeza presente e acima de tudo grandeza futura desse portentoso Brasil, cheio de potencialidades e forte de uma juventude que respira actividade, energia e poder de realização. E tudo isso fará do Brasil, dentro de poucas décadas, uma das maiores potências do Mundo. Dar-lhe-á, indiscutivelmente, um lugar cimeiro entre as grandes potências.
E Portugal? Mas Portugal vem dando exemplos espantosos ao mundo de princípios inabaláveis, de formação moral, de aperfeiçoamento constante dos valores humanos, sem descurar, apesar das vicissitudes da hora que enfrenta, um progresso económico e um desenvolvimento técnico que lhe proporcionarão um nível correspondente àquele em que se situam as nações da Europa.
Se Portugal caminha nesta senda de dignidade e de integridade, defendendo intransigentemente tudo aquilo que considera direitos inalienáveis, Portugal tem de ter o respeito de todos: dos amigos e dos indiferentes. Eu diria até dos inimigos. Mas dos amigos, designadamente, e entre os amigos eu considero em primeiro lugar o Brasil.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Felizmente, graças a Deus, as relações que existem entre os nossos dois países são cada dia mais fortes, mais íntimas, tomam aspectos objectivos que era absolutamente indispensável que tomassem. Porque até no campo económico nós não somos concorrentes; as nossas economias são, antes, paralelas.
Há que analisar, que estudar e planear concretamente os nossos rumos, porque havemos de encontrar o bom caminho que cada vez estreite mais os nossos interesses comuns e os nossos países, cada vez consiga mais fazer da comunidade luso-brasileira uma verdadeira realidade. E, dentro deste contexto, e para não ser mais extenso e não maçar V. Ex.ª, o Sr. Presidente e os meus ilustres pares, limitar-me-ia a fazer um pequeno apontamento a respeito do que significa para os nossos dois países a geografia.
E que, por vezes, não se lhe dá, à geografia, o valor e merecimento que realmente tem.
E a geografia comanda hoje, e em todos os países do Mundo, a política, e não é esta que comanda a geografia!
Assim, chamo a atenção de todos para o que essa geografia representa em relação a Portugal e ao Brasil; refiro-me particularmente ao oceano Atlântico (Norte, Central e Sul), que é hoje o grande mar do Mundo.
Se no Atlântico Norte é Portugal que tem a posição fundamental, no Atlântico Central e Atlântico Sul seremos os dois países que dominaremos; seremos ambos os amos e senhores desse Atlântico, se o quisermos. Não o somos hoje, mas podemos e devemos vir a sê-lo!
Só depende, de que nos nossos Governos haja uma orientação, tanto na política externa como na política militar - refiro-me nomeadamente à política naval e marítima -, no sentido de permitir aos dois países serem realmente, como disse, amos e senhores do Atlântico.
Meus senhores, tenho a convicção de que se ainda isto é utopia para alguns, para mim, que há mais de vinte anos defendo esta mesma ideia, nunca o foi.
Estou firmemente convencido de que, dentro de pouco tempo, talvez uma ou duas dezenas de anos, essa utopia será uma verdadeira realidade, reconhecida por todos os homens válidos, inteligentes e com responsabilidades públicas nos dois países.
Termino desejando a V. Ex.ª uma feliz estada neste seu país. Quando regresse, desejo que leve a essa nobre Câmara de Deputados do Brasil, onde fui acolhido com