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686 I SÉRIE - NÚMERO 21

precisa de quem queira servi-lo com riscos e não de quem prescinda tão-só egoisticamente sobreviver através do que acontece.

O Sr. Borges de Carvalho (PPM): - Muito bem!

O Orador: - Este ideal de serviço, este exemplo de combatividade, este assumir dos riscos de se saber o que se quer, não são de certo exclusivos dos homens cuja memória evoco - são, porém, motivos de reflexão para todos nós, e reflexão que há-de servir de acicate aos que sentirem a tentação do desânimo ou da indiferença perante os outros e perante os destinos próximos e mais dilatados da gente da sua Pátria.
Por que é que Sá Carneiro e Amaro da Costa passaram da minoria para a maioria? Porque o regime nascido do 25 de Abril, confirmado em 25 de Novembro, lho permitiu, evidentemente. De certo, porém, também pela inteligência, pela coragem, pela capacidade de intervenção e de mobilização política, pela argúcia no estudo das conjunturas, pela aptidão para definir estratégias, pela vontade firme de as pôr em prática.
Mas também pela força de alma que toma das dificuldades como estímulos, que toma as vitórias dos adversários como motivo para reforçar a sua acção, pela convicção na defesa e na afirmação difícil daquilo em que se acredita, em vez de flutuar ao sabor do que acontece.
Alguém disse que a política é sobretudo a arte de realizar o possível; mas é também o supremo desafio de tornar possível, por meios correctos e legítimos, aquilo em que se acredita.
Afinal este é dos sentidos mais profundos de exigência pessoal que um regime livre e democrático abre a qualquer homem que como tal profundamente se assuma. Este é o verdadeiro sentido e a maior exigência que se nos perfila a todos quantos nos comprometemos politicamente perante o povo e com o próprio povo.
Em tempos em que volta a ser moda dizer mal, generalizadamente, dos partidos políticos e dos objectivos partidários, é preciso lembrar que uma declaração de princípios e um programa partidário que se respeitam e mereçam respeito são uma proposta ordenada ao bem comum, ao bem da comunidade nacional e de cada pessoa que a integra segundo uma determinada perspectiva, por definição relativa e controversa. São abordagens que não devem nem podem desejar excluir outras, antes lhes deixar os seus espaços, mas que, respeitando as outras, são tomadas pelos que a subscrevem como mais adequadas a alcançar esse objectivo superior que é a prossecução do progresso da sua Pátria e dos seus concidadãos.
Sá Carneiro e Amaro da Costa foram homens de partido ao serviço da Nação; homens políticos com o sentido da dignidade do Estado com que se comprometeram. Ninguém poderá negá-lo e é útil recordá-lo. Como tal, cumpriram.
Cada qual com as características da sua personalidade e do seu temperamento e com o seu projecto político, foram homens que, tal como souberam lutar, souberam respeitar os seus adversários. E souberam dialogar; souberam dialogar com todos; souberam dialogar um com o outro. E foi de um diálogo aberto a todos os partidos que perfilham o mesmo modelo de regime democrático, europeu e pluralista que, em circunstâncias difíceis, veio a nascer da convergência entre o PSD, o CDS e o PPM, a Aliança Democrática, em que o povo português votou e elegeu por 2 vezes, em termos de lhe atribuir a maioria nesta Câmara e, dai, a responsabilidade de governar o País.
Para nós, que nos integramos na Aliança Democrática, os homens que aqui recordo são chave de um compromisso que até 1984 também assumimos e a que continuaremos fiéis. É do conhecimento comum que o processo e a actividade política, em coligação é sempre difícil, mas foi também à superação dessas dificuldades que, no respeito de uns pelos outros, nos comprometemos também.
Seja-me permitido, a terminar, exprimir de novo o grande respeito, admiração, apreço e saudade que Francisco de Sá Carneiro e António Patrício de Gouveia, a sua memória, cada vez mais concitam no CDS e no seu grupo parlamentar.
Seja-me permitido, com a emoção especial com que se recorda um grande amigo morto, lembrar aqui Adelino Amaro da Costa, um dos mais lúcidos e brilhantes parlamentares que esta Câmara conheceu; lembrar a sua inteligência e a sua generosidade; a sua alegria e a sua combatividade; a sua coragem e a sua humildade; a sua grandeza de alma e a sua grande humanidade.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Nas vésperas de mais um aniversário sobre a morte destes políticos portugueses que nós conhecemos todos, atenuadas as paixões despertadas pela luta que, com a sua coerência, desenvolveram, creio estarmos em condição de afirmar, com adesão cada vez maior, que foram grandes homens, que pertencem à história do País e desta Casa e que bem merecem a nossa homenagem que por mim subscrevo e proponho a todos seja nesta data renovada.

Aplausos do CDS, do PSD e do PPM.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Santana Lopes, para uma declaração política.

O Sr. Santana Lopes (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Francisco Sá Carneiro e aqueles que o acompanhavam naquele voo de tragédia morreram faz sábado próximo 2 anos.
Francisco Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa e António Patrício Gouveia morreram quando o País deles tanto precisava para se poder erguer a níveis de vida a que qualquer povo, por natureza, ambiciona. Morreram em plena luta por um regime, em pleno combate por uma sociedade e, no caso, em plena campanha por um candidato presidencial.
2 anos sendo passados, pretende o grupo parlamentar do partido que Francisco Sá Carneiro fundou e liderou evocar a obra daquele que foi, acima de tudo, um lutador pelos seus ideais: lutou por eles na oposição à ditadura, lutou também por eles, quer na oposição, quer como Primeiro-Ministro, durante o período transitório posterior ao 25 de Abril e só terminado com a recente revisão constitucional.
De facto, desde que iniciou a sua intervenção política e até que foi arrebatado desta vida, uma linha de inquebrantável coerência perpassou por toda a acção de Sá Carneiro: coerência nos valores, coerência nos princípios, coerência no método, coerência no estilo, coerência nos objectivos.
Sempre ergueu a meta primeira do seu combate, a institucionalização de uma democracia plena, e dela nunca abdicou. Por isso mesmo nunca se contentou com «aberturas» ilusórias promovidas pelos detentores do poder no regime de Marcelo Caetano, bem como nunca