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2 DE DEZEMBRO DE 1982 687

se satisfez com as formas mitigadas de democracia dos anos posteriores à revolução.
A Francisco Sá Carneiro não interessavam «semiditaduras» ou «semidemocracias» e frequentemente insistia, nos seus discursos, na ideia de que o único regime em que vale a pena viver è o da plena democracia. Infelizmente nunca chegou a conhecer aquilo por que tanto lutou e que tanto desejou.

Uma voz do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Dessa preocupação permanente de Francisco Sá Carneiro decorreu a incompreensão que as suas atitudes, durante muito tempo, suscitaram em muitos incrédulos. Na verdade, sucedia que enquanto vários dos seus adversários se encontravam já embrenhados nas disputas partidárias e nas refregas da política politiqueira, Sá Carneiro, pelo seu lado, não esquecia nunca a questão do regime. Ele sabia que Portugal continuava a ser um país com o poder ilegitimamente dividido, um país manietado por uma tutela militar ajudada por uma constituição «fruto de outros tempos», um país em que as armas eram tão fortes como os partidos, um país em que a eficácia do voto popular estava sempre limitada pelas sequelas da «anarquia gonçalvista».
Por saber tudo isso, Sá Carneiro nunca descurou o essencial e sempre ignorou o acessório; por isso mesmo Sá Carneiro pensava «mais acima» e também por isso - e pelas suas qualidades naturais - falava outra linguagem.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ninguém pode negar hoje em dia - mesmo alguns daqueles que tanto o atacaram em vida - que toda a acção de Francisco Sá Carneiro constitui uma permanente dádiva em prol da liberdade de todos e de cada um, uma constante procura de um desenvolvimento que nos modernizasse. Quando tomou posições claras em favor do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, quando defendeu os presos políticos e a liberdade de imprensa em plena Assembleia Nacional, quando renunciou ao seu mandato de deputado, quando aderiu às esperanças do 25 de Abril, quando rejeitou e atacou os desmandos e os abusos que, em nome da revolução, se praticavam, quando fundou o seu partido e para ele defendeu como via programática as ideias que, já em ditadura, dizia serem as suas, quando se submeteu democraticamente às decisões do seu partido no sentido da votação favorável da Constituição e do apoio à candidatura do general Eanes, quando - apesar de ser oposição - apoiou o pedido de adesão à CEE formulado pelo então governo minoritário socialista, quando abandonou a direcção do seu partido por se recusar a executar a política que outros, constantemente, lhe exigiam, quando só aceitou retomar essa direcção depois de as suas bases terem inequivocamente esclarecido a situação existente, quando, veementemente, passou a exigir a dissolução da Assembleia da República e consequente convocação de eleições antecipadas, quando proclamou - logo em 1977 - a imperiosidade da revisão da Constituição e a sujeição do novo texto a referendo; quando anunciou a sua oposição ao Presidente da República, quando lutou por uma maioria e a conseguiu a partir da oposição, quando exerceu as funções de Primeiro-Ministro e, finalmente, quando apoiou outro candidato à Presidência da República e ainda quando lutou por ele até ao dia em que encontrou a morte, em todas essas circunstâncias e em muitas outras a acção de Sá Carneiro representou essa dádiva e traduziu essa procura.

Aplausos do PSD, do PPM e de alguns deputados do CDS.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Francisco Sá Carneiro era um homem de acção, um homem de génio, um homem que sabia dialogar, mas também romper, um homem que procurava esgotar a via do consenso antes de se entregar ao combate em que era exímio.
Francisco Sá Carneiro não suportava a cobardia, prezava a coragem, recusava a acomodação e estimulava o risco. Preferia jogar tudo a ter na mão cartas viciadas. Preferia sair a tempo a alguma vez se confundir com o equívoco.
Francisco Sá Carneiro lutou, pugnou sempre pela liberdade, sem nunca ter esquecido o valor da igualdade que bem procurou enquanto governante e de uma fornia quase sempre incontestada.
Francisco Sá Carneiro, contudo, tinha outra característica que convirá hoje aqui recordar: detestava a falta de convicção e a falta de determinação. Por isso mesmo não gostava que se olhasse para trás, por isso mesmo não gostaria que o recordássemos sem estarmos dispostos a continuar o seu combate.

Aplausos do PSD, do PPM e de alguns deputados do CDS.

O Orador: - Estou certo de que só num ponto ele admitiria que nos preocupássemos com o passado e, mesmo assim, não o exigiria por ele, mas pela justiça, não por ele, mas pela verdade.
Refiro-me ao apuramento das causas da sua morte, preocupação sempre e cada vez mais presente na mente dos Portugueses.
E não se venha dizer, a este propósito, que se trata de sentimentalismo irracional ou de exploração política. Trata-se, isso sim, de exigir o cumprimento de uma obrigação indeclinável, cumprimento que é condição necessária para que se possa legitimamente evocar a vida e obra de um homem de Estado - Portugal, de um homem de regime - a democracia, de um homem de programa - o social democrata.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: queremos recordar especialmente Francisco Sá Carneiro e a sua acção política por entendermos que há nessa evocação especial utilidade, quer para todos aqueles que continuam a defender o projecto que ele encarnou - e que é mais fácil de determinar do que muitos «animadores de projectos turcos» pretendem fazer crer -, quer para todos os que na política destes tempos se bastam com o equívoco, com a indecisão e com a mediocridade, quer dos outros, quer deles próprios.

A Sr.ª Manuela Aguiar (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Equívoco, indecisão e mediocridade contra as quais Adelino Amaro da Costa e António Patrício Gouveia tanto também lutaram.
Aquele, que pela sua notável acção igualmente desenvolvida ao nível do regime, embora sempre fiel e atento aos ideários do partido de que foi figura tão cimeira e de que é símbolo tão exaltado.
António Patrício Gouveia, pela sua competente, leal e infatigável colaboração com o que foi o presidente do