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2934 I SÉRIE-NÚMERO 73

os portugueses do Brasil que realizaram, prefaciada por Ramalho Ortigão, uma das mais belas edições de Os Lusíadas.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: em vésperas do 11.ª aniversário do 25 de Abril, cabe-nos evocar Tancredo Neves que, com profunda consciência dos problemas que avassalam não só o Brasil, mas todo o mundo, pôs a sua vida ao serviço da unidade, na base mínima da conquista para o seu povo: «da liberdade, do trabalho, de um tecto e do pão».
O presidente Sarney assumiu já a Presidência do Brasil, ficando assim, obrigado a corresponder à força da esperança que o povo brasileiro fez florescer em Tancredo.
Vários factos ligam a figura de José Sarney a Portugal, mas talvez o mais insólito e o mais desconhecido - e que cumpre lembrar neste momento, porque será sempre altura de vincar o perfil obscurantista da polícia política do tempo do fascismo - seja o seguinte: a PIDE apreendeu o disco da campanha de José Sarney para governador de Maranhão só porque, entre cantos e músicas, apelava à participação das populações.
O MDP/CDE sente profundamente este impasse na esperança que a eleição de Tancredo Neves gerou, mas sabe que a força de um povo é sempre bastante para vencer.
Como disse alguém: «Quando a Terra está prenhe de desgraças ouço que um novo homem vai nascer.»

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Adriano Moreira.

O Sr. Adriano Moreira (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A morte de Tancredo Neves, homem de um dos «Brazis» mais vincadamente português que é Minas Gerais, faz com que, pela primeira vez, um presidente do Brasil entre directamente na história sem passar pelo Palácio do Planalto no exercício das funções para as quais tinha sido eleito, o que significa, sem qualquer veleidade literária, que nesta data de profunda crise mundial, angústia da América Latina e inquietação aguda do Brasil, lhe foi dado oferecer ao seu país - que assumiu sem limitações - um projecto de concórdia e progresso que ninguém teve ocasião de macular com as contingências do quotidiano de exercício do poder.
Depois da Carta de Testamento de Getúlio Vargas, - cuja caneta de oiro passou, das suas, para as mãos de Tancredo Neves -, carta que durante anos animou a luta pela justiça social naquela terra e nenhum outro documento, como o projecto de mudança de Tancredo Neves, parece estar destinado a servir de ponto de referência de uma geração à qual indicou o caminho sem oportunidade de o poder guiar pessoalmente.
A própria longa agonia parece um serviço nacional de contributo para o revigoramento mundial do humanismo, da compreensão, da busca de entendimento recíproco entre os homens, porque milhões de pessoas no Brasil - e fora dele - se concentraram longamente no seu pensamento, na sua acção no seu projecto, no seu apelo e no seu exemplo.
Tanto quanto conheço os brasileiros, Tancredo Neves entrou já na lenda popular e estará para sempre presente nas inquietações dos doutos e nas preces dos simples.
O legado político ocidental perdeu um dos seus vigorosos servidores. Portugal perdeu um dos mais lídimos representantes das raízes lusíadas do mundo. O Brasil ganhou um guia espiritual que lhe dará amparo nos tempos a seguir. Nesta Casa, será sempre lembrado o discurso com que nos honrou, deixando simplesmente falar o seu coração de brasileiro que viera à Pátria comum, sentir a gente e a terra das origens, antes de enfrentar a provação final que lhe estava reservada como um privilégio cívico para servir o Brasil.
Rezamos para que descanse em paz, e não deixarei passar a oportunidade sem fazer votos para que José Sarney - que neste momento deve meditar sobre o conceito mineiro de que «a chefia do Estado não é carreira, é destino» - encontre a força de ânimo e as oportunidades favoráveis, ambas necessárias para ser o primeiro feliz executor do projecto de Tancredo Neves, que o escolheu, que o julgou capaz de o substituir e que enfrenta uma das mais sérias responsabilidades históricas do Brasil moderno: estar à altura das exigências da sua pátria e da herança de Tancredo Neves.
Que Deus guarde o Brasil.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Cardoso Ferreira.

O Sr. Cardoso Ferreira (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Também nos associamos ao voto proposto pelo Sr. Presidente, votando-o favoravelmente. De facto, entendemos que a figura de Tancredo Neves, após longos anos de luta pela liberdade e pela democracia no Brasil, conseguiu este fenómeno maravilhoso que é o reencontro de um povo com a liberdade. Com a sua morte, perdeu o Brasil e perdeu Portugal um elo de ligação pelo que achamos que ambas as nossas pátrias estão mais pobres porque esta é uma perda histórica para ambos os países.
De qualquer forma estamos seguros de que o que Tancredo Neves simbolizou e conseguiu encarnar em nome do povo brasileiro não será de forma alguma desperdiçado. É um legado de 50 anos de luta pela liberdade, um legado que deixou traduzido sob uma forma democrática - ânsia e aspiração máxima de um povo - e que seguramente não será malbaratado, porque estamos certos de que os seus seguidores honrarão a memória de Tancredo Neves e manterão o país brasileiro na senda da democracia, no respeito pela liberdade dos cidadãos.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Raúl Rêgo.

O Sr. Raúl Rêgo (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Há poucas semanas ainda ouvimos aqui, nesta Casa livre, a voz de Tancredo Neves que nos trazia de além-Atlântico a mensagem democrática de um povo que quer viver a fraternidade humana e ocupar no mundo o lugar que lhe compete pela sua grandeza, pelo seu ideal alevantado, pelas suas tradições. Ele era a voz do Brasil irmão, buscando talhar o seu futuro de povo livre entre as grandes nações livres do mundo.