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I SÉRIE - NÚMERO 81

português desde o 25 de Abril. Forte deste enriquecimento
político sem causa, prometeu ao País a felicidade e
ganhou a maioria, como promitente benfeitor.
Que lhe dessem a maioria e ele traria a inflação em
queda drástica até aos níveis da CEE.
Ele garantiria também o aumento sustentado do poder de compra e ele, Cavaco Silva, faria de Portugal o exemplo, a inveja da Europa, tão sábia, límpida e transparente seria a sua governação.
Não falo da sabedoria, não falo da limpidez, muito menos da transparência, por razões óbvias!...

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Mas o certo é que muitos confiaram
no engodo destas promessas e deram-lhe o seu voto,
levando a sua maioria ao nível absoluto de 50%, a 28
pontos do Partido Socialista. Veremos a quanto chegarão! ...

Decorridos dois anos, a meio mandato, toda a gente
se interroga: «Para que serviu esta maioria? ', Onde
estão, afinal, as promessas do promitente benfeitor?
Porque razão não conseguiu Cavaco Silva aproveitar
as condições económicas mais favoráveis que o País
conheceu nos últimos quinze anos? Porque razão a
estabilidade política, saída do l9 de Julho de l987, se
converteu na generalizada instabilidade social, no
generalizado conflito social?»

Vozes do PSD: - Olhe que não!-

O Orador: - O País prepara-se para dar resposta a
estas interrogações nas próximas eleições. A resposta,
Sr. Presidente e Srs. Deputados, será tão simples como
esta: mesmo sem mudar de governo é preciso mudar de
governação ...

Vozes do PS: - Muito bem!

0 Orador: - para que o País não se distancie
cada vez mais dos padrões de vida, do estilo de vida que caracteriza
a Europa, que caracteriza a democracia europeia.

É preciso mudar a governação, porque a política económica
é errada, feita, como é, de elementos contraditórios.
É uma política económica que está a fazer diminuir o poder
de compara dos portugueses; é uma política económica que espartilha a possibilidade de investimento e de reconversão das empresas; é uma
política económica que ameaça o futuro de inúmeros
postos de trabalho em importantes indústrias e regiões
do País. E a política tout court, a política global, essa
começa a ameaçar a participação democrática dos portugueses
no que eles têm de mais elementar direito.
Onde está uma política séria e coerente de combate à
inflação, o que é o tema que aqui me traz hoje?
O combate à inflação era a prioridade no tempo em que
n aqueda dos preços internacionais servia de muleta
à propaganda de Cavaco Silva.

Nessa altura, Cavaco Silva - saiu na imprensa - revia-se
na inflação como obra sua (e só sua!) e ai de quem
se atrevesse a dizer que os preços internacionais tinham
influência na baixa dos preços internos! Estávamos no
tempo em que o Primeiro-Ministro curava as suas
depressões a golpes de vista sobre a sua suposta coroa
de glória: a queda da inflação. Hoje, a inflação é mais
um factor de depressão do Primeiro-Ministro, o que

não seria grave se não fosse também um enorme factor de depressão do
poder de compra dos pensionistas, dos reformados, dos trabalhadores, que foram forçados a aceitar, em 1988 e l989, salários reais negativos.

Se há quem tenha, razão para estar deprimido são os portugueses, devido à incapacidade, ao fracasso do governo perante os sucessivos disparos da inflação.

Em Abril de 1988, a inflação, relativamente aos doze
meses precedentes, estava em 8%. Desde então, no
prazo de um ano disparou para mais de 13%, ou seja,
o seu nível subiu de cerca de 65% num ano.

A triste realidade é que em Abril de 1989, o crescimento anual dos preços voltou ao mesmo valor do início de 1986. 15to é, estamos a caminho da estaca zero deixada pelo Governo do Bloco Central.

De facto, com o actual Governo, perderam-se mais
de três anos de combate à inflação. Se não fosse a
embalagem imprimida à descida dos preços antes de
Cavaco Silva, de Janeiro a Outubro de 1985, o contributo
do actual Governo para a queda da inflação
seria rigorosamente zero. Ainda assim, é quase isso:. zero vindo de zero!

Vozes do PS: - Muito bem!

0 Orador: - O Governo desculpa-se com o que se passa lá fora,
com a subida de preços internacionais, os tais que só teriam influência nas subidas e nunca nas descidas. Desculpa de mau promitente benfeitor,
pois a diferença entre a inflação em Portugal e na CEE
está a crescer a passos largos. Em termos médios, essa
diferença foi de 6 pontos em 1988 e de 7,3 pontos do
primeiro trimestre de 1989. Como estamos longe da
inflação prometida pelo Governo para 1989! Foi fácil
prometer para ganhar votos, mas o erro de previsão
agora já é bem superior a 100%.

Pensa o Sr. Primeiro-Ministro que vai escapar à censura do povo
português nas próximas eleições?

O Primeiro-Ministro prometeu o aumento sustentado do poder
de compra e, apesar das condições excepcionais que teve
à partida, está desde l988 a impor a diminuição do
poder de compra a quase todos. Na média global, em l988,
houve uma queda do poder de compra da ordem dos 2%', mas
nas empresas públicas e na função pública essa perda é da
ordem dos 3%.

Como entender, então, a frequente afirmação do
Governo proclamando que 1988 foi o terceiro ano de
ouro consecutivo da economia portuguesa? Se o poder
de compra diminuiu em ano de ouro, que sucederia
então se os anos não fossem de ouro mas,sim, de prata,
e estes são é de lata dourada!

Não podem, ser, os trabalhadores a pagar o orgulho
cego do Primeiro-Ministro. 0 Primeiro-Ministro
enganou-se e não o reconhece. Enganou-se é obriga-nos
a dobrar ao seu erro, quando ele próprio, democraticamente,
devia ser o primeiro a penitenciar-se.

0 Primeiro-Ministro enganou-se quando prometeu a inflação
de 6% para l988. Preferiu impor o seu erro, como se quem se
tivesse enganado fosse a inflação. Em consequência o poder
de compra entrou em queda em 1988 e continuará assim em 1989,
se prosseguir o actual estilo de governação autoritária,
sem diálogo e sem concertação.