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1770 I SÉRIE - NÚMERO 50

Tínhamos a dolorosa originalidade dos salários em atraso; agora começamos a ter outra: os subsídios de desemprego em atraso.

O Sr. Lino de Carvalho (PCP): - Muito bem!

O Orador: - Por isso, não é exagero afirmar que esta política de liquidação do aparelho produtivo e de postos de trabalho e as suas consequências na segurança social são como que uma bomba de relógio que pode deflagrar mais adiante.
É inaceitável que o Governo se crispe quando se fala da crise, se denunciam os nefastos efeitos sociais resultantes da sua política.
Preocupa-se com a imagem que pode ser dada para o exterior, preocupa-se que tais denúncias levem ao desalento, ao descrédito, à desmobilização e à insegurança, mas simultaneamente, pela voz do Ministro das Finanças, vai propagandeando que não há alternativa para esta política.
Como assim? Alijando responsabilidades, passando culpas, exigindo silêncios, o Governo não quer resolver os problemas. Quer condescendência e cumplicidade.
Se milhares de trabalhadores da LISNAVE, SOLISNOR, SETENAVE, ENI e LISNICO vêm hoje, à porta do Sr. Primeiro-Ministro, saber que garantias têm quanto ao futuro dos seus postos de trabalho, o Governo não pode «meter a cabeça debaixo da areia, tanto mais quando avaliza o projecto dos Melos.
Não pode olhar para a luta dos trabalhadores ferroviários, das comunicações, da metalurgia, da energia, dos transportes e da Administração Pública como factores de desestabilização e de incómodo. A razão está do lado dos trabalhadores!

O Sr. Octávio Teixeira (PCP): - Muito bem!

O Orador: - Quando tudo parece convidar a desistir e a descrer, perpassa pelo mundo do trabalho não só o descontentamento e o protesto mas um forte sentimento de que esta política não serve os trabalhadores em Portugal,..

O Sr. José Manuel Maia (PCP): - Muito bem!

O Orador: - ... que há-de haver alternativas, que as coisas hão-de e podem mudar.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Com a consciência fundada nos ideais comuns na fraternidade e no conhecimento humano, tenho a certeza de que o meu grupo parlamentar prosseguirá a sua acção na defesa dos interesses, direitos e aspirações das classes trabalhadoras.
Em relação a outras bancadas, para além de tudo, tenho a convicção de que existem homens e mulheres capazes de convergir na acção para defender a democracia e dar outra dimensão à justiça social, ao progresso e à solidariedade.
Valeu a pena estar aqui.
Lembro-me de quando entrei pela primeira vez neste Hemiciclo e quando realizei a minha primeira intervenção na Constituinte. Um velho contínuo entregou-me uns papéis para preencher tratando-me por doutor. Que não era doutor, disse eu. «Desculpe, Sr. Engenheiro», dizia o funcionário que, ao longo de uma vida de Assembleia, só tinha conhecido Deputados com estas profissões.
Na minha primeira intervenção, um Deputado de outra bancada perguntou-me quem é que a tinha escrito, pensando que um operário não podia escrever assim. 15to foi possível por causa de Abril, mas também por razões de origem e de consciência de classe.
Foram estas as minhas referências fundamentais ao longo destes 18 anos.
A vida, como a luta, continua. Noutras frentes.

Aplausos do PCP, do PS, de Os Verdes e do Deputado independente João Corregedor da Fonseca.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Carp.

O Sr. Rui Caril (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, começo por saudá-lo e por dizer que, independentemente de as nossas posições serem muitas vezes divergentes, não deixam, no entanto, de tocar a admiração, o despeito e até a fraternidade que tivemos, e que temos, ao longo dos trabalhos parlamentares com o Sr. Deputado e, particularmente no que me diz respeito, nos debates que tive o gosto de travar com V. Ex.ª, quer quando estive aqui como membro do Governo, quer agora como Deputado.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Contudo, gostava que me esclarecesse uma questão, na medida em que V. Ex.ª é também um alto dirigente de uma central sindical que vem defendendo aumentos salariais muito superiores àqueles que economistas responsáveis dizem que são compatíveis com um quadro económico para Portugal que permita o crescimento económico sem derrapagens profundas no desemprego, na inflação e na balança de pagamentos.
Como é que V. Ex.ª compatibiliza o cenário de crise que aqui apresentou - que não negamos que existe, fruto da forte turbulência e inquietação dos mercados financeiros internacionais - com aumentos salariais que não sejam moderados e compatíveis com a necessária batalha da convergência nominal e real a fim de termos, os trabalhadores em especial, níveis de vida semelhantes aos dos países industrializados mais desenvolvidos da Europa?

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Manuel dos Santos.

O Sr. Manuel dos Santos (PS): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, não vou colocar-lhe uma pergunta mas, sim, aproveitando a oportunidade que o Regimento me confere, saudar a intervenção de V. Ex.ª, e, em meu nome pessoal e no da minha bancada, dizer-lhe que foi sempre com muito respeito que assistimos à sua intervenção parlamentar, bem como à sua intervenção cívica. O testemunho que acabou de dar-nos, subindo à tribuna e fazendo a declaração que fez, independentemente de estarmos totalmente de acordo com o que V. Ex.ª disse, foi um exemplo de grande dignidade e de que ainda há homens com ideais, capazes de por eles se baterem e de neles acreditarem.

O Sr. Lino de Carvalho (PCP): - Muito bem!

O Orador: - Tive a oportunidade de, indirectamente, conhecer V. Ex.ª, ainda não era Deputado à Assembleia da República e, desde esse momento, não convergindo entre nós, do ponto de vista ideológico, grandes princípi-