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19 DE MARÇO DE 1993 1771

os ou grandes orientações, apreciei e segui com muito interesse a sua careira política. Tive dela conhecimento, pude dar dela testemunho e tive em relação a ela uma profunda admiração.
A sua presença nesta Assembleia foi um elemento de dignificação da democracia portuguesa e, sobretudo, a referência que V. Ex.ª, fez, da tribuna, ao 25 de Abril é uma referência com a qual me solidarizo inteiramente e que é verdadeiramente digna do seu passado parlamentar.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado António Lobo Xavier.

O Sr. António Lobo Xavier (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em fraude ao Regimento, confesso, mas apenas por breves segundos, gostaria de dizer que conheço o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa há pouco tempo, mas o suficiente para admirar a coerência, o sentido de missão e a coragem de ter uma vida iluminada por um ideal, qualquer que ele seja. De facto, não é preciso uma formação universitária para se mostrar e para se dar testemunho desse tipo de qualidades do Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
Mas ainda guardo uma outra nota, com um sabor agradável, do Sr. Deputado Jerónimo de Sousa: o seu humor, a mordacidade dos seus comentários, por vezes à margem das intervenções, sempre habilidosos, sempre astutos, ainda que por vezes firam como facas. Essa é uma qualidade parlamentar, que também merece elogios e ser sublinhada, pelo que não queria deixar de fazê-lo neste momento.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado André Martins.

O Sr. André Martins (Os Verdes): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, o meu pedido de palavra não é de todo para lhe pedir um esclarecimento sobre a intervenção produzida, que natural e infelizmente somos obrigados a corroborar. Por isso, também merece o nosso aplauso, como tive oportunidade de manifestá-lo, não em palavras mas em actos.
Nesta sua intervenção foral, por agora, naturalmente que o Grupo Parlamentar de Os Verdes não podia ficar alheio a tudo aquilo que lembrou, ao subir à tribuna. $ conhecida a sua intervenção dentro e fora da Assembleia: uma intervenção de luta pela liberdade e pela democracia e, mais uma vez, foi com alguma alegria que ouvimos nesta Câmara, infelizmente já poucas vezes, uma referência ao 25 de Abril.
Algumas indicações que nos deu sobre o primeiro dia em que chegou a esta Assembleia deixam bem claro, e felizmente hoje podemos afirmá-lo, que a sociedade e a mentalidade portuguesa se transformaram.
Pelo contributo que, ao longo dos anos, deu à democracia portuguesa e aos trabalhos desta Assembleia, desejo-lhe, em nome do Grupo Parlamentar de Os Verdes, um «até já», porque sabemos que continuará, fora da Assembleia, a desenvolver, com coerência, o seu esforço e a sua intervenção de luta pela liberdade, pela democracia e pela defesa dos ideais de Abril.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, foi aqui referida por várias vezes a «fraude» ao Regimento da Assembleia da República.

0 Presidente da Assembleia da República lembra à Câmara que, de acordo com o Regimento em vigor desde há dias, ele pode tomar a iniciativa de conceder a palavra aos Deputados para produzirem breves comentários. Acontece que todos foram breves e eloquentes.
A Câmara manifestou generalizadamente o glande apreço que tem pelo Sr. Deputado Jerónimo de Sousa e eu, como Presidente e em nome da Mesa, manifesto-lhe a minha concordância com aquilo que foi dito pela generalidade dos Srs. Deputados, pondo em destaque os seus méritos de lutador incansado e incansável pelos seus ideais e as suas grandes qualidades de parlamentar atento, acutilante e vivo.
Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, tem a palavra para dizer o que entender.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Muito obrigado, Sr. Presidente.
Srs. Deputados, permitam-me que deixe para daqui a pouco algumas palavras de apreço e de agradecimento pelo que me foi dirigido por parte de todas as bancadas para me referir, em primeiro lugar, à substância, na medida em que, como o Sr. Deputado Rui Carp disse, e bem, tais palavras não acabam nem diluem as diferenças e as divergências em relação à visão que cada um de nós tem do desenvolvimento da própria sociedade.
Sr. Deputado Rui Carp, permita-me que faça uma ligação entre a questão que me colocou sobre os aumentos dos salários e a perspectiva e a forma como sempre entendi o meu mandato.
Não leve a mal que diga isto, mas, durante todos os anos que passei aqui, na Assembleia da República, e vim de uma fábrica com todos os ideais revolucionários próprios dos primeiros dias de Abril, fui amadurecendo e extraindo sempre uma lição: a de que, nos momentos de dificuldade, os trabalhadores são sempre os primeiros a pagar.
Creio que quem, por razões de origem de classe, passou aqui 18 anos tem sempre de recusar a teoria apresentada pelo Sr. Deputado Rui Carp, na medida em que consideramos que o desenvolvimento e o progresso são inseparáveis do trabalho com direitos e da melhoria das condições de vida dos próprios trabalhadores.
Quando o Sr. Deputado fala em crise, reconhecemos que, de facto, existe crise. Mas, por exemplo, no sector da indústria naval, onde há possibilidades de renovar a frota, onde há uma perspectiva de mercado evolutivo no sentido positivo, havendo possibilidades de garantir os postos de trabalho, a resposta do Governo é, de certa forma, o avalizar do compromisso com os Melos, depois de todos os apoios que o próprio Estado lhes concedeu, e o Sr. Deputado sabe disso até melhor do que eu. O Governo não dá resposta a esses milhares de trabalhadores que queriam ouvir, da sua parte, uma coisa fundamental: qual vai ser o seu futuro, a defesa dos seus postos de trabalho e dos seus salários.
Sr. Deputado, parece-me que também poderíamos falar aqui nas minas da Panasqueira, uma vez que falou da crise comunitária e que a CEE é deficitária em termos de produção de volfrâmio, pois tratasse de uma empresa com um filão que pode durar mais de 20 anos com uma grande capacidade de exploração, que recebeu subsídios por parte do Estado, da mais diversa ordem, e a - solução para esta questão é atirar com os trabalhadores para o «olho da rua», despedi-los, no alto daquela serra, quando não têm outra hipótese não só de trabalhar como também de viver, na medida em que têm lá, junto à mina, as suas próprias casas.