O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

0360 | I Série - Número 10 | 13 De Outubro De 2000

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Amália é uma referência na cultura portuguesa. E, mais do que uma referência em Portugal, Amália foi, é e será uma referência de Portugal no Mundo.
Chegámos ao longo da história de diversas formas a vários pontos do mundo, Amália foi uma dessas formas. Deu a conhecer parte da nossa cultura ao mundo, por seu grande mérito.
Na arte de interpretar a canção portuguesa, deu uma alma diferente ao fado, alargou-lhe horizontes, atribuiu-lhe uma dimensão mais alargada, cantando poemas de grandes poetas, interpretando com uma voz de reconhecida beleza infinita. Também infinita, porque não se vai perder no tempo. A imagem e a voz de Amália perdurarão pelo valor que encerram em si.
O reconhecimento do valor Amália não precisaria de prémios e similares. O povo reconhece-a, e todos a reconhecem.
O que a Assembleia da República propõe, e que Os Verdes subscrevem, é permitir colocar Amália ao lado de grandes figuras nacionais, concedendo-lhe as honras do Panteão, prestando uma grande homenagem a esta mulher.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro da Presidência.

O Sr. Ministro da Presidência (Guilherme d'Oliveira Martins): - Sr. Presidente, Ex.ma Família de Amália Rodrigues, Sr.as e Srs. Deputados: Muito se tem dito sobre Amália, mas são sempre poucas as homenagens que lhe possamos tributar. Poucos lembram que, antes de Amália, o fado era tido por alguns puristas como uma arte tolerada. Poucos disseram que Amália mudou radicalmente o fado, pondo ao serviço dele uma voz única, a capacidade de inovar e a audácia de cultivar novos métodos, com as inevitáveis voltinhas de sabor andaluz.
Afinal, teve a inteligência de ligar um repertório popular e erudito e de reconciliar fado aristocrático e fado vadio, criando uma nova «estranha forma de viver».
Alain Oulman musicou para ela os grandes poetas, abrindo uma nova capacidade de fazer popular o erudito, a começar por Camões e a continuar nos maiores contemporâneos, desde David Mourão Ferreira a Alexandre O'Neill e a Manuel Alegre, passando por Ary dos Santos ou Pedro Homem de Melo.
Amália fez a sua interpretação livre do fado, tornando-o um elemento da nossa identidade, que antes, de algum modo, era posto em causa. E com ela o fado talvez tenha deixado de ser um ter de ser, para passar ao pode ser. E assim deixou o saudosismo para passar a ler o destino à luz da vontade.
Um dia, Amália disse: «nunca tive pretensões de exprimir a alma nacional. Exprimo a minha. A alma nacional é muito pesada para mim».
No entanto, quisesse ou não, exprimindo a sua alma, foi fiel à nossa.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, Srs. Membros da Família de Amália Rodrigues: As vossas palavras, Srs. Deputados, pensam as minhas.
Das coisas boas que devo à vida, uma delas foi ter podido conhecer de perto Amália Rodrigues, tê-la ouvido e ter sentido a sua arte.
Tive o privilégio de poder ser seu amigo e o privilégio ainda maior de supor sempre que tive a sua amizade. E creio que a tive.
Encontrámo-nos muitas vezes, cantámos juntos - ela teve a generosidade de, às vezes, me dizer que eu cantava bem o fado de Coimbra -, e a partir daí eu também fiquei convencido de que não cantava tão mal como julgava.
Creio que ganhei, junto dela, alguma coragem para cantar mais vezes do que teria cantado se a não tivesse conhecido.
Amália é já para mim uma grande saudade, e isso é o essencial que tenho a dizer hoje. Uma saudade dolorosa, ligada a uma grande admiração, a um grande respeito. Efectivamente, não sou capaz de me desligar da memória e de uma homenagem permanente à grande Amália Rodrigues.
Creio que o que estamos a fazer é o nosso dever: o dever de, como representantes do povo português, transladar os restos mortais de Amália para junto dos mais ilustres portugueses. Ela foi um dos mais ilustres portugueses!
Srs. Deputados, se concordarem, passamos de imediato à votação dos dois diplomas em apreciação, pois é bom que o façamos na presença da família de Amália Rodrigues.
Vamos votar, na generalidade, o projecto de lei n.º 307/VIII - Define e regula as honras do Panteão Nacional (PS, PSD, PCP, CDS-PP, Os Verdes e BE).

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Vamos votar, na especialidade, o projecto de lei n.º 307/VIII.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Vamos passar à votação final global do projecto de lei n.º 307/VIII.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Srs. Deputados, vamos agora votar o projecto de resolução, também subscrito por todos os grupos parlamentares, relativo à transladação dos restos mortais da grande Amália Rodrigues para o Panteão e à concessão das honras do Panteão à grande Amália Rodrigues e à sua memória, como tradução da veneração que o povo português tem por ela.
Srs. Deputados, vamos então votar o projecto de resolução n.º 79/VIII - Concessão de honras do Panteão a Amália da Piedade Rodrigues (PS, PSD, PCP, CDS-PP, Os Verdes e BE).

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Srs. Deputados, creio que este momento merece uma ovação colectiva.

Aplausos gerais, de pé.

Páginas Relacionadas