O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

3063 | I Série - Número 78 | 04 de Maio de 2001

 

mente para a redacção de O Jornal para escrever os seus artigos, a fim de que aquele lado do jornalismo não ficasse em branco para o CDS. Na altura, poucos jornais deixavam que a direcção do CDS publicasse nas suas páginas as crónicas de intervenção política, tanto no «Verão quente», como depois, no início da AD. Afonso Praça era um dos homens que cultivava este eclectismo; não era fundamentalista nem sectário, não era um homem que marcasse distâncias, antes juntava distâncias e pessoas.

O Sr. Basílio Horta (CDS-PP): - Muito bem!

O Orador: - Ele era uma ponte de passagem entre aqueles que queriam odiar, para juntar aqueles que se queriam amar uns aos outros, que eram os portugueses de todas as ideias e idades.
Por isso mesmo, foi preciso que Afonso Praça, sem ser um jornalista de referência, sem ser um colunista brilhante, sem ser um homem ilustre que tivesse tido condecorações e prémios, morresse para que os seus colegas jornalistas o distinguissem postumamente com um prémio de carreira.
Foi isto o Afonso Praça. Ele foi a praça forte do jornalismo nos «dias quentes de Verão» e nos dias pacíficos da nossa democracia.
Bem haja no Céu. Nós vamos rezar por ele.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, quero associar-me a este voto de pesar pela morte de Afonso Praça.
Comecei por conhecê-lo, como provavelmente muitas pessoas o conheceram, através da escrita - a escrita é uma forma singular de familiaridades, mas é, de algum modo, uma ponte que se estabelece inevitavelmente com aqueles cuja escrita nos habituamos a ler, com aqueles de que nos habituamos a gostar -, e li-o nas diversas áreas em que ele escreveu, porque ele era uma pessoa multifacetada
Também me parece curioso assinalar um aspecto, que, aliás, já foi sublinhado pelo Sr. Deputado David Justino: é que mais tarde conheci Afonso Praça, e também foi à mesa - foi a primeira vez que o conheci pessoalmente. Porventura, isso é revelador de alguém que tinha prazer em comer, que tinha gosto em partilhar com os amigos e os conhecidos o prazer de um acto que ele entendia como cultural. Aliás, ele, como transmontano (porventura, isto não é muito importante, porque vivemos num momento em que a cultura é demasiado pretensiosa para considerar a gastronomia um património importante), fez um trabalho de investigação importante, dando a conhecer e a partilhar um património extremamente rico, isto é, um património gastronómico que está ligado a sabores, a formas de viver, a formas de estar que é importante, a nível cultural, conhecer, lembrar e preservar.
Portanto, é a esse homem, Afonso Praça, o jornalista que faz parte de uma geração com valores que, provavelmente, estão em vias de extinção; é a esse homem, que não sendo brilhante a todos nós deu muito prazer conhecer, que, em nome de Os Verdes, gostaria de prestar hoje a minha homenagem.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Rosas.

O Sr. Fernando Rosas (BE): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, acabo de chegar da cerimónia de cremação do Afonso Praça, um velho amigo e também um velho companheiro das lides jornalísticas.
O Afonso Praça era um jornalista de outra época. Aqueles que têm a minha idade lembram-se que os jornalistas, nos anos 50, princípio dos anos 60, sem nenhum desprimor para os jornalistas de hoje, eram homens muito diferentes. Nos anos 50 e 60, o jornalista profissional era um homem meio boémio, sempre livre pensador, e o Praça era esse homem boémio, livre pensador, democrata, cristão anticlerical, gourmand, regionalista, literato, meio antropólogo, meio historiador. As horas que o ouvi falar da obsessão que tinha sobre a vida privada de Salazar…
Foi esse homem, que fez de toda a espécie de jornalismo, de toda a espécie de política enquanto cidadão, e que conhecia o País e os portugueses como só uma certa geração de jornalistas como ele conheceu, que levámos hoje a enterrar vítima de doença precoce.
Gostaria de dizer que Afonso Praça era um jornalista muito inconformado, nos dias de hoje, com esta mercantilização da informação, com esta obsessão do lucro, das vendas, do espectáculo, que ia marcando mesmo os órgãos de informação com os quais ele colaborava. Penso que ele morreu inconformado e amargurado. Talvez a doença não lhe tenha permitido encontrar nele próprio a força anímica para reagir de uma maneira diferente e não se fechar numa certa amargura que caracterizou os seus últimos dias.
Jornalista de outra época, de uma época onde se fazia o jornalismo como não se tornará a fazer, queria deixar-lhe e ele, à sua família, aos seus filhos, ao filho dele que é um brilhante antropólogo, e a todos os companheiros de profissão, a minha saudação comovida e o meu desejo de que o exemplo dele possa continuar a servir como mestre dos jornalistas do futuro.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (José Magalhães): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, são inegavelmente justas todas as homenagens que sejam prestadas, hoje e doravante, a Afonso Praça. Nenhuma está a mais, e julgo que temos o dever de pensar algumas cuidadosamente e de as organizar atempadamente.
Ele foi, sem dúvida, um grande jornalista e também um escritor que levou consigo uma obra que tinha traços peculiares, que era ela própria inacabada e que prometia.
Conheci-o como cidadão activo, fiel a convicções, capaz de exercer altíssimos cargos com uma extraordinária