0018 | I Série - Número 010 | 12 de Outubro de 2006
Familiarizado com os avanços das lavouras europeia e americana, introduziu na Quinta dos Patudos novas técnicas agrícolas, não descurando o bem-estar e a protecção social das muitas dezenas de trabalhadores a seu cargo. Aliás, a sua faceta de vitivinicultor é uma das que caracterizam este homem multifacetado e esta actividade terá sido uma das suas predilectas - a par da arte e da causa pública -, desenvolvida com o afinco e a argúcia com que cunhou todos os empreendimentos a que se propôs. E a sua faceta de vitivinicultor fez com que o nome de José Relvas ficasse também associado à criação da Adega do Ribatejo, que fundou em conjunto com outros produtores.
A exportação de vinhos para África e para o Brasil garantiram-lhe proventos de monta que aproveitou para investir noutra das suas paixões: a arte.
O espólio reunido por José Relvas, e grande parte pode ainda hoje ser apreciada na Casa dos Patudos, é verdadeiramente eclético, abrangendo peças das mais variadas categorias e estilos: das faianças de Rafael Bordalo Pinheiro a peças da Vista Alegre, passando pelos tapetes de Arraiolos e pelos instrumentos musicais, José Relvas adquiriu uma colecção que se revelou grande demais para a Casa dos Patudos dos inícios de 1900.
Com o nascimento dos seus três filhos e o incremento do seu espólio artístico, José Relvas decidiu efectuar obras de ampliação na sua casa, entregando esta comenda ao jovem arquitecto Raul Lino, que a projectou em 1904. As obras da famosa Casa dos Patudos ficaram concluídas em 1906, completando-se este ano um século sobre a sua construção, e, a partir desta data, José Relvas dedicou-se afincadamente ao enriquecimento e à exposição das suas obras de arte.
Terminada a obra, começa a desenvolver a sua colecção de arte, aumentada e enriquecida pelas inúmeras viagens que o levam a percorrer as principais capitais europeias, nomeadamente Madrid, Paris e Londres.
A sua colecção de arte revela-nos, assim, uma cultura singular, imbuída do espírito de coleccionismo do seu tempo. E o resultado é que, nos nossos dias, milhares de visitantes consideram a Casa-Museu dos Patudos uma das mais belas e elegantes casas portuguesas do séc. XX.
Quando ocupou cargos influentes no Governo, José Relvas deixou transparecer a sua faceta de homem das artes, introduzindo importantes medidas para a protecção do património nacional, como a promulgação da lei que proibia a exportação de objectos de arte, evitando que muitos deles, de valor artístico, passassem as nossas fronteiras.
O seu nome ficou também ligado ao Museu Nacional de Arte Antiga, do qual foi um ardente defensor e o qual apoiou, nomeadamente na aquisição de obras, muitas vezes com prejuízo da sua colecção particular. É ao seu esforço que se devem a preservação e a conservação de diversos palácios reais, especialmente o de Mafra, cujo espólio correu o risco de ser saqueado.
A Casa dos Patudos, além do óbvio valor patrimonial e artístico, tem um profundo significado histórico. Visitada por figuras ilustres, como João Chagas ou José Malhoa, a arquitectura da Casa tem a particularidade de reflectir os tempos conturbados do fim da monarquia e do início da República.
O ambiente dos Patudos, conjugado com a forte agitação social, serviu, em boa medida, de palco para a preparação do movimento revolucionário, nele convergindo os interesses de vários proprietários ribatejanos, que os viam postos em causa pela ditadura de João Franco.
José Relvas aderiu formalmente ao Partido Republicano Português em 1908, mas o seu envolvimento com os ideais da República vem de longe, quando, acompanhado por Magalhães Lima, fazia intensa propaganda desses ideais tanto no País como no estrangeiro, revelando-se tal acção verdadeiramente determinante para a implantação da República.
A sua trajectória no mundo da política continua a ser cada vez mais destacada e, em 1909, José Relvas integra o directório do partido que resultou do congresso de Setúbal, onde defendeu a tese da realização imediata de um movimento militar, que foi aprovada em congresso. Também em Alpiarça realizaram-se, nos últimos anos da Monarquia, importantes comícios de propaganda republicana promovidos pelo senhor da Casa dos Patudos.
Em 1910, as visitas a Paris e Londres de José Relvas, Magalhães Lima e Alves de Veiga revelam-se de uma importância fundamental para o curso da História, pois ficou garantida a não intervenção dos governos francês e inglês no caso de a monarquia portuguesa ser deposta.
Sr.as e Srs. Deputados: O sentimento que a 5 de Outubro de 1910 envolveu este homem quando se dirigiu à varanda dos Paços do Concelho de Lisboa foi, porventura, indescritível. Finalmente, os ideais republicanos da igualdade, fraternidade e solidariedade ecoavam em Portugal,…
O Sr. João Rebelo (CDS-PP): - Viu-se!
A Oradora: - … e foi ele que, a plenos pulmões, proclamou a República!
No seguimento de toda esta comoção política, José Relvas foi chamado a gerir a pasta das finanças no governo provisório, devendo-se-lhe a introdução do escudo como moeda base do sistema monetário nacional, e desempenhando ainda outras destacadas funções no novo regime.
Nas memórias de José Relvas, o seu primeiro dia como ministro das finanças está ilustrado com todos os pormenores, mas permitam-me que vos cite uma frase do próprio que marca todos quantos a ouvem e que é