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I SÉRIE — NÚMERO 27

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O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

A Oradora: — Esta é uma questão política, e não poderia deixar de o ser, porque se trata de uma questão de direitos fundamentais das mulheres. Trata-se de uma questão fundamental do sistema político, porque, estando em causa esses direitos fundamentais, estão em causa as omissões do Estado quanto à «irrealização» desses direitos. Mas é também uma questão fundamental do sistema político, porque, ao fim e ao cabo, está em causa o estatuto de cerca de metade da população, o seu direito à dignidade.
Compreende-se que a Conferência Episcopal Portuguesa venha distorcer o que é óbvio, querendo transformar o problema político apenas numa questão de consciência, e veja-se a sua Nota de 10 de Outubro de 2006. Com isto prossegue dois objectivos: contornar a lei do referendo, que proíbe a sua intervenção, já que não se trataria — para eles — de uma questão política e, por isso, teriam mãos livres, e, por outro lado, pôr as pessoas a votar irracionalmente uma questão de política criminal.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

A Oradora: — O problema de consciência é das mulheres, quando decidem recorrer à IVG. Não se podem socorrer da sua consciência os Deputados quando votam a política criminal e não o podem fazer os eleitores.
O que se lhes pergunta não é se fariam um aborto, o que se lhes pergunta é se a lei penal que provoca problemas de saúde pública se deve manter.

Aplausos do PCP.

O que se lhes pergunta não é se fazer um aborto é pecado, pois o pretor não cuida do pecado.
O recurso à consciência por parte de alguns políticos, porque também os há, mais não é do que um mero passa-culpas, para não perder ou para ganhar votos.
Combatendo a irracionalidade e o abuso da ciência por parte dos partidários do «não» — haverá lá maior abuso do que o cartaz que lançaram já nas ruas! —, trazemos para o debate a lucidez dos que compreendem que a resposta ao grave problema de saúde pública que temos só pode passar pela despenalização da IVG quando realizada no 1.º trimestre de gravidez, condição não suficiente, é certo, mas necessária.
O mundo civilizado já o compreendeu. Portugal há-de estar contra a barbárie.

Aplausos do PCP e de Os Verdes.

O Sr. Presidente: — Há vários oradores inscritos para pedir esclarecimentos, mas, apesar de já ter havido um bónus de transferência de tempo, a Sr. ª Deputada Odete Santos não tem tempo para responder.

A Sr.ª Ana Catarina Mendonça (PS): — Sr. Presidente, o Grupo Parlamentar do PS cede mais 3 minutos à Sr.ª Deputada Odete Santos.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem, então, a palavra a Sr.ª Deputada Ana Catarina Mendonça.

A Sr.ª Ana Catarina Mendonça (PS): — Sr. Presidente, é evidente que o Partido Socialista transfere tempo, até porque o tema é de tal importância que não pode ficar sem debate.
Quero saudar a Sr.ª Deputada Odete Santos pela declaração política que aqui fez, por voltar a trazer ao Plenário da Assembleia da República este debate, aproveitando também para saudar o brilhante estudo apresentado ontem pela APF, que vem colocar a tónica, mais uma vez, na necessidade de responder «sim» à pergunta que estará em votação no dia 11 de Fevereiro próximo. E a pergunta é tão simples quanto isto: concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez nas 10 primeiras semanas, quando realizada em estabelecimento legal de saúde? O tema é tão importante quanto a Sr.ª Deputada aqui veio relembrar que são muitas as humilhações daquelas que recorrem ao aborto, são muitas as sequelas físicas e psíquicas que elas sofrem, são muitos os casos que já chegam a tribunal, embora queiram escondê-los da opinião pública.
Mas o importante, Sr.ª Deputada, é dizer aqui que o Partido Socialista está também envolvido nesta luta, e foi por isso que trouxe ao Plenário da Assembleia da República o projecto de resolução para a realização do referendo da despenalização da interrupção voluntária da gravidez e que se empenhará na sua realização e na vitória do «sim».
Creio, Srs. Deputados, que o que está aqui em causa é um debate sério sobre a saúde pública, mas é, acima de tudo, um debate sério sobre direitos humanos, sobre tolerância e sobre alteração à lei penal. E, Sr.ª Deputada, é tão simples explicar aos portugueses que o que nós aqui, neste Plenário, e aqueles que defendem a despenalização da interrupção voluntária da gravidez queremos é o acréscimo de uma alínea ao