81 | I Série - Número: 039 | 25 de Janeiro de 2008
aproxima muito mais os órgãos de gestão da comunidade hospitalar.
É evidente que há muitos factores que determinam a estabilidade e o bom funcionamento de um hospital, como todos sabemos, mas um deles, certamente decisivo, é a relação entre os responsáveis e a comunidade que dirigem.
A eleição, do nosso ponto de vista, é mais de meio caminho andado para o sucesso desta relação entre quem dirige e quem trabalha numa unidade hospitalar. Por isso, propomos que se acabe com o actual sistema da nomeação e se consagre a eleição do director-clínico e do enfermeiro-director.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Pizarro.
O Sr. Manuel Pizarro (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Todos sabemos que os hospitais são instituições de uma enormíssima complexidade. Têm uma missão assistencial que, num contexto de rápido progresso do conhecimento das tecnologias médicas, mas também numa fase de enorme evolução dos sistemas de saúde que, um pouco por todo o mundo ocidental, colocam o problema da sustentabilidade financeira na primeira linha das preocupações da sociedade, os tornam em instituições de gestão particularmente árdua.
A necessidade de optimizar recursos (técnicos, humanos e financeiros) é premente e existe para valorizar a missão do hospital, a primordial e a essencial missão do hospital: atender os cidadãos, particularmente as pessoas doentes, com qualidade e humanidade.
O hospital exige uma gestão rigorosa, muito rigorosa. Há que combinar múltiplos saberes. Seguramente, o saber técnico dos médicos, dos enfermeiros e dos outros técnicos de saúde, mas também a utilização de modernas técnicas de gestão na logística, na política de recursos humanos, nas compras, no atendimento aos cidadãos, nos sistemas de informação.
Esta complexidade exige conselhos de administração coesos, que sejam capazes de liderar as instituições, colocando a missão de servir os doentes no centro de toda a actividade hospitalar. O director clínico e o enfermeiro-director inserem-se nesta equipa, como responsáveis técnicos máximos das respectivas áreas de competência, e pede-se-lhes que coloquem esse saber técnico ao serviço da instituição e dos cidadãos que a ela recorrem.
Do nosso ponto de vista, a eleição para este tipo de cargos pode pôr em risco a coesão do conselho de administração. Em alguns casos, os eleitos não resistirão à tentação de transportar para a sua actividade, no conselho de administração, uma visão excessivamente corporativa, que, aliás, corresponde à expectativa de muitos dos seus eleitores. Essa seria a motivação do corpo eleitoral, em muitos casos, e conduziria a situações em que a missão essencial do hospital seria desvirtuada.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Manuel Pizarro (PS): — Por toda a Europa — e demonstrei-o claramente no debate que foi travado em comissão — não há qualquer modelo similar a esta eleição do responsável máximo do sector clínico de enfermagem dos hospitais pelo conjunto dos respectivos profissionais. Repito: não existe em nenhum país europeu!
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Manuel Pizarro (PS): — O risco de desagregação da gestão do hospital e de conflitualidade no seio do conselho de administração, resultante das diferentes legitimidades dos seus membros, parece absolutamente evidente.
Em Portugal, entre 1996 e 2001, vigorou o princípio da eleição dos directores clínicos e dos enfermeirosdirectores, que seria abandonado precisamente porque a experiência demonstrou que daqui resultavam maiores dificuldades na actividade hospitalar e um número significativo de conselhos de administração paralisados por conflitos internos de difícil solução.