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9 | I Série - Número: 039 | 25 de Janeiro de 2008

sobrevive.
Vejamos, pois, o primeiro objectivo: liderança. Para isso, o Governo determinou um órgão executivo unipessoal — o director. Mas por que é que a liderança tem de ser unipessoal? Não há resposta. Tinham as escolas até agora um problema de lideranças? Retomemos, então, os dados de que dispomos: quase 90% das escolas obtém a classificação de «bom» ou de «muito bom» no tal relatório final da actividade do Grupo de Trabalho de Avaliação das Escolas de 2006. O problema actual das escolas em Portugal não é, pois, a liderança. E, por isso, o objectivo da liderança, tal como anunciado pelo Governo, não passa de uma farsa! Vamos analisar o segundo propósito da reforma: a questão da autonomia. Veja-se o que propõe o Governo: onde as escolas podiam escolher um director ou um conselho executivo, passam a ser obrigadas a escolher um director; onde as escolas elegiam um presidente para o pedagógico, passa o director a ser obrigatoriamente o presidente do conselho pedagógico; onde os professores escolhiam quem os coordenava, passam agora os directores a designar os coordenadores dos departamentos curriculares, os responsáveis das estruturas de coordenação e supervisão pedagógica e os directores de turma. Menos escolha e, portanto, menos autonomia!

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Vejamos, por fim, o terceiro objectivo anunciado: abrir a escola à comunidade.
Este projecto foi tornado público na véspera das férias escolares e o período de consulta pública está prestes a terminar.
Sr.as e Srs. Deputados, este projecto prepara-se para ser aprovado em Conselho de Ministros sem qualquer contraditório.
O Bloco de Esquerda faz, hoje, um desafio ao Governo e aos Deputados do Partido Socialista: se não têm medo da crítica política, se não receiam deserções na bancada socialista, transformem esta proposta numa proposta de lei, tragam-na a debate a este Parlamento e enriqueçam a democracia.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Miguel Tiago, Emídio Guerreiro, Luiz Fagundes Duarte e José Paulo Carvalho.
Tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Drago, se há, de facto, um fio condutor na política deste Ministério da Educação, além das características que já lhe atribuiu de prepotência e arrogância bem visíveis na última reunião de comissão em que a Sr.ª Ministra esteve presente, é o ataque à escola pública. Além da forma anti-democrática, há um conteúdo profundamente anti-democrático naquilo que são as políticas do Ministério e na forma como as vai aplicar. Mais grave do que a forma é o conteúdo das políticas.
A Sr.ª Deputada focou — e bem! — o projecto de decreto-lei que regulamenta o regime de autonomia, administração e gestão das escolas. É exactamente sobre ele que quero deixar algumas questões.
O Governo tentou fazer crer aqui — primeiro, através do Sr. Primeiro-Ministro e, mais tarde, através da Sr.ª Ministra da Educação — que na escola pública há um sentimento generalizado de falta de liderança, que os problemas que sentem diariamente se identificam com uma suposta falta de liderança.
A verdade é que o actual regime de autonomia e gestão já prevê a possibilidade de as escolas optarem por um órgão unipessoal, e isso não se verifica na esmagadora maioria das escolas. Ora, este fica, desde já, identificado não como o essencial problema, provavelmente nem como um dos principais problemas ou até como um problema de todo, porque, a julgarmos pelo número de escolas que optou por essa possibilidade, rapidamente concluímos que, afinal, este não é um problema identificado pelas escolas, mas um problema identificado pelo Ministério, pelo Governo do Partido Socialista.
E é um problema identificado por este Governo quando se confronta com uma situação que lhe é incómoda, que é a de querer ter na direcção da escola pública um elo de ligação directo às suas orientações políticas mas esbarrar com a autonomia e com os projectos democraticamente escolhidos pelos professores e pelas comunidades educativas.