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33 | I Série - Número: 056 | 13 de Março de 2009

O Sr. Presidente (Nuno Teixeira de Melo): — Para uma declaração política, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca.

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Vivemos a pior crise financeira e económica das últimas décadas. A recessão económica veio encontrar um País parado e em crónica divergência com os seus parceiros europeus. Se a última década tem sido marcada pelo agravamento da situação social dos portugueses, os últimos meses têm sido marcados pelo anúncio da subida do desemprego, dos salários em atraso, empresas a encerrar, despedimentos colectivos e o recurso cada vez mais sistemático à paragem ou suspensão da produção, diminuição do horário do trabalho ou suspensão de contrato.
A crise, que é real, tem sido pretexto ideal para muitas empresas sem escrúpulos rasgarem a lei e adoptarem a lei do mais forte, diminuindo a margem da lei dos direitos dos trabalhadores.
As denúncias sobre o abuso patronal, em diversos casos que são do conhecimento público, têm caído em «saco roto».
A inacção do Governo e da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) tem sido uma constante, sendo o Governo e a Autoridade para as Condições de Trabalho incapazes de travar as situações abusivas e ilegais por parte da classe empresarial.
O recurso ao lay-off, de uma forma abusiva, exigia uma outra intervenção inspectiva e política, tanto mais que o que está em causa é o orçamento da segurança social e, portanto, dinheiro dos trabalhadores e contribuintes.
O recurso a esta figura triplicou durante o ano de 2008 e, nos primeiros meses de 2009, raro é o dia em que não se conheça um novo caso. Mais de uma centena de empresas já recorreu à suspensão da laboração.
Sempre em nome da resposta à crise, o objectivo de inúmeros lay-offs visa apenas a redução dos custos dos salários e, muitas vezes, as empresas nem apresentam planos de formação.
Nunca é demais relembrar os avultados investimentos públicos em muitas das empresas que ou estão a suspender a produção ou estão a despedir os seus trabalhadores.
A Renault Cacia recebeu 28,8 milhões de euros para a criação de 100 postos de trabalho. Depois de ter recebido os fundos públicos, o que fez? Despediu os 30 trabalhadores contratados a termo!...
A Visteon parou dois dias, no início do ano: no dia anterior e no dia subsequente, os trabalhadores efectuaram 4 horas extraordinárias para compensar a produção perdida. Em que ficamos? Ou há quebra de produção ou há défice de produção — as duas ao mesmo tempo, como aconteceu, é que só pode ter uma justificação: aproveitar a crise para reduzir custos! A FLEXIMOL é outro caso: primeiro, avançou com um processo de lay-off, sem cumprir as formalidades.
Enquanto os 74 trabalhadores estão em lay-off, há trabalho extraordinário ao sábado e prolongamento do horário diário para responder à produção.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estes são alguns dos exemplos do aproveitamento que alguma classe patronal tem vindo a fazer da actual recessão económica, contando com a cumplicidade política do Governo e dos seus responsáveis. Numa primeira fase, ao arrepio de qualquer bom senso e da lei, queriam aplicar o Indexante dos Apoios Sociais na compensação aos trabalhadores sujeitos a lay-off, o que representaria uma perda de 30 € nos seus salários.
Agora, recorrem a outro expediente: paragens sucessivas mais curtas, penalizando gravemente os trabalhadores. Como a lei refere que os trabalhadores serão recompensados em 2/3 dos seus salários ilíquidos, as pequenas paragens não são remuneradas, daí resultando que o seu salário no fim do mês corresponde sempre aos tais 2/3 do seu salário ilíquido.
É preciso uma intervenção política decidida do Governo, dando o sinal a quem usa a crise como um pretexto para maximizar os lucros à custa dos suspeitos do costume. Um sinal muito simples: os trabalhadores não são uma qualquer mercadoria que se descarta conforme as conveniências de inventário.

Vozes do BE: — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — O lay-off, propagado pelo Governo como uma das «tábuas de salvação» da indústria, impedindo o recurso ao despedimento, mais não é do que uma manobra onde os trabalhadores são os primeiros e os únicos lesados.