47 | I Série - Número: 076 | 7 de Maio de 2009
Não está explícito na petição, mas depreende-se dela, ao reivindicar a criação de um Dia Nacional da Vida ao Ar Livre, que é urgente propor um novo conceito de cidade.
Ao antagonismo cidade-campo, manifestado em inúmeras teses sobre a matéria, contrapõe-se a urgência de colocar o campo dentro da cidade — o campo, através das suas hortas urbanas que nos relembram que os alimentos que ingerimos são cultivados, que a natureza tem os seus ciclos, as suas estações do ano, os seus aromas, as suas cores e os alimentos que nos disponibiliza.
Os jardins devem ser mais do que locais assépticos, empedrados, com canteirinhos de relva e plantas sem flores e cores. Devem propiciar-nos a todos, em particular às crianças, espaços de descoberta, locais onde a imaginação possa ser cultivada.
Na infância que todos vivemos, ainda que em locais muito diversificados, brincava-se às escondidas entre os silvados e arbustos e, nas árvores, construíam-se cabanas, como que a sonhar com a rebeldia de uma personagem dos desenhos de animação, ainda que com mazelas e arranhões.
As crianças de hoje passam o seu tempo a ver televisão e ao computador, sem convívio e contacto com o meio ambiente. A obesidade infantil, mercê de uma alimentação incorrecta e do sedentarismo, atinge, hoje, números alarmantes.
Observar uma criança, que, ao brincar, se suja, é um acto raro, mas manifestamente saudável, porque lhe permite aumentar a sua imunidade e, diga-se, porque é uma opção — e isso deve ser sublinhado. As más condições higiénicas de ontem foram vencidas. Portugal — e isto só para enumerar um dado — está, hoje, no pelotão da frente, por exemplo, no que concerne à baixa taxa de mortalidade infantil.
Contudo, é necessário fazer mais e melhor. E colocar as nossas crianças em contacto com o meio ambiente é uma prioridade. Descobrir, através de uma brincadeira, que existem amoras que podem colhidas num o arbusto que pica e que se chamam silva, ou que uma ave colorida que mergulha num rio se chama pica-peixe, ou que uma grande árvore, por sinal, muito difícil de trepar, tem flores muito aromáticas, chama-se tília, são descobertas de que nunca nos vamos esquecer.
O Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata saúda os peticionantes e congratula-se com a sua proposta no sentido de que se dedique um dia à vida ao ar livre.
Porém, estes dias não acontecem por decreto. Eles nascem espontaneamente e devemos ser todos nós os seus promotores, através de múltiplas iniciativas.
Esta petição tem uma curiosidade: a de ser promovida por um grande grupo económico português. Este grupo tem a capacidade, ser for essa a sua vontade, de apadrinhar um dia, por exemplo, o do equinócio da Primavera, e de promover ou patrocinar as múltiplas actividades ao ar livre.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Luís Carloto Marques (PSD): — É uma forma de efectuar publicidade, não se duvide, mas é mais do que isso: a empresa promove-se, fazendo participar os seus cidadãos.
Hoje, as empresas têm responsabilidades sociais e ambientais e todas as actividades que se proponham, todos os jardins que se patrocinem são poucos para proporcionar às crianças a liberdade de brincar com imaginação.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Ainda para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Carlos Monteiro.
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Gostaria de começar por saudar os peticionários. Esta é uma petição subscrita por mais de 6000 cidadãos.
Penso que o objectivo das petições não é o de fazer publicidade a marcas nem o de fazer publicidade a grupos económicos, mas registamos, como é evidente, o empenho que foi aqui desenvolvido por parte de uma empresa. Não o rejeitamos, mas também não lhe damos mais relevância do que aquela que deve ter.
Consideramos que o tema, em si, é importante.